“Estou sempre em campanha nas fronteiras do bem e do mal”, escreveu em 1692 Giovanni Paolo Marana, na obra ficcional “O quinto volume de cartas escritas por um espião turco que viveu cinco e quarenta anos sem ser descoberto em Paris”. Foi a primeira vez que se tem notícia, do termo campanha (campaign) – derivado do francês “campagne” – campo aberto – emergir na língua inglesa como verbo (campaigning). Não é difícil entender por que o termo campanha foi apropriado para fins militares e, na sequência, empregado para as disputas políticas. Nas palavras de um revolucionário chinês: “Política é a guerra sem sangue, enquanto a guerra é a política com sangue”.
A derrota é parte da guerra e da política. Enquanto estadistas buscam compreender as suas razões e aprender com ela; os fracos buscam culpados. Pouco a estranhar as refregas entre o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL) e Alexandre Ramagem (PL), candidato de Jair Bolsonaro derrotado, em primeiro turno, no Rio de Janeiro. Depois de ter a sua gestão classificada por Ramagem como “medíocre” durante o último debate de campanha, promovido pela Globo, Castro, que o apoiou, deu o troco: disse que Ramagem nada conhecia do Rio.
Aliados – ou ex-aliados –estão às turras não apenas em terras fluminenses. Em Belo Horizonte, alguns expoentes vinculados à campanha do deputado estadual Mauro Tramonte (Republicanos) parecem ter encontrado o “culpado” para a derrota do parlamentar: o ex-prefeito Alexandre Kalil. Ninguém até aqui parece interessado em compreender o que de fato ocorreu. A começar por considerar que o “recall” de um nome em pesquisas de opinião antes da exposição de eleitores à campanha, não significa “eleição ganha”. Significa que aquela candidatura é mais conhecida do que as demais e que parte, na corrida para o segundo turno, de um patamar superior em relação às demais candidaturas desconhecidas. Tanto assim é que o senador Carlos Viana (Podemos) liderou as pesquisas até a chegada de Mauro Tramonte à disputa.
A tração inicial do fator Tramonte, constituiu, em princípio, impulso com potencial para levá-lo ao segundo turno. Mas realizar esse potencial requer, adicionalmente, um conjunto de variáveis fundamentais numa guerra, digo, campanha, entre elas alianças partidárias para ampliar o tempo de acesso à propaganda gratuita; conhecimento sobre a cidade e retórica convincente é outro ingrediente. A lista é longa. Apoios políticos, em eleições municipais, integram o rol de variáveis que podem ajudar uma candidatura desconhecida a ser apresentada. Mas isoladamente, uma andorinha não faz verão.
Em São Paulo, o salto em cena na sucessão da capital do ex-coach Pablo Marçal (PRTB), sonhando com o Palácio do Planalto, mobilizando o individualismo predatório e a “palavra” com a promessa de “prosperidade”, promoveu um cisma na extrema direita. O pavor de que o prefeito Ricardo Nunes (MDB) fosse alijado do segundo turno por Marçal – ou mesmo, que tivesse de enfrentá-lo no segundo turno – só não foi maior que o pânico que representa para o grupo do “criador”, a ascensão da “criatura” como liderança alternativa da extrema direita. Bolsonaro, que andava pelos cantos xingando impropérios contra Marçal – com medo de enfrentá-lo publicamente –, ouviu poucas do pastor Silas Malafaia. A Malafaia coube a tarefa de colocar a cara para insultar e desqualificar o ex-coach, enfrentando a fúria das redes. Irritado com a omissão e “covardia” de Bolsonaro, questionou: “Que porcaria de líder é esse?”.
Malafaia desenhou o que representa Marçal: “O que está em jogo é 2026. Esse cara vai rachar a direita. Vai rachar os evangélicos”.
Em São Paulo, a guerra ainda está em curso. Assim são as eleições: uma marcha em borda estreita entre a glória e o desterro; o céu e o inferno. Só para a vitória há explicação. Já na derrota...
Vai e vem 1.1
Dentro da perspectiva de uma carreira política que intercala eleições para cargos executivos e cargos legislativos, dentre os 83 deputados federais titulares, suplentes e senadores que concorreram às prefeituras municipais, apenas seis se elegeram. Quinze disputam o segundo turno.
Bancada mineira 1.2
Dos 56 deputados federais e senadores da bancada mineira, candidataram-se a prefeito sete titulares e três suplentes. Nenhum se elegeu. Foram titulares candidatos: Duda Salabert (PT), Rogério Correia (PT) e Carlos Viana (Podemos) em Belo Horizonte; Leonardo Monteiro (PT), em Governador Valadares; Dandara (PT), em Uberlândia); Delegada Ione (Avante), em Juiz de Fora; Cabo Junior Amaral (PL), em Contagem; Paulo Guedes (PT), em Montes Claros.
Suplentes derrotados 1.3
Três suplentes de deputados federais, que chegaram a assumir este ano as cadeiras na Câmara dos Deputados por poucos meses, tampouco foram bem-sucedidos nestas eleições municipais. Duarte Júnior (Republicanos), ocupou a cadeira do deputado federal Euclydes Pettersen, presidente estadual da legenda. Ele foi candidato a prefeito de Ouro Preto. Já Ulisses Guimarães (MDB) ganhou assento na Câmara dos Deputados com a licença de Newton Cardoso Júnior, presidente estadual. Ele foi candidato em Poços de Caldas. Também Délio Pinheiro (PDT), que concorreu em Montes Claros, assumiu a cadeira do presidente do PDT, Mário Heringer.
Educação em pauta
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