Como novo marcador da extrema direita no Brasil, o PL cumpre esse serviço às ciências sociais: mapeia, com boa aproximação, candidaturas que adotam narrativas que caracterizam esse campo político em todo o mundo.
Entre tais narrativas está o negacionismo – que se faz sentir nas posturas por exemplo, antivacinação –; a intolerância à diversidade; a tentativa de descredenciamento da política; o ataque à ciência e à produção de conhecimento; a manipulação da religião para fins políticos; o incentivo ao individualismo predatório expresso numa leitura do “empreendedorismo” associado à precarização de trabalhadores de aplicativos, que em sua relação de servidão e sem direitos, se creem “empreendedores”.
No caso brasileiro, esse campo político adota ainda, como referência “intelectual”, o falecido Olavo de Carvalho. Além de uma estética que recupera elementos do nazismo – como o slogan “Deus, Pátria e Família” adotado pelo Partido Nazista Alemão nos anos 30; além de atos de mobilização inspirados no fascismo de Benito Mussolini: o culto às “máquinas”, em passeios de motocicletas, símbolo de um ideário de sociedade “viril”.
Qual o tamanho da extrema direita em BH? Essa é uma pergunta importante. A candidatura de Bruno Engler (PL) procurou modular o discurso no primeiro turno, apresentando uma versão diferente de si em relação ao passado. Tentou se apresentar como “direita” comportada.
Mesmo assim, embora tenha saído das urnas com 435.853 votos, 34,38% dos votos válidos – o que exclui a abstenção, votos brancos e nulos – a votação de Engler representa 21,8% do eleitorado total belo-horizontino, que no dia do pleito tinha 1.992.984 de pessoas aptas a votar.
Até antes do início da propaganda gratuita de televisão, entre 20 e 21 de agosto, Engler tinha, conforme apontavam as intenções espontâneas de voto de pesquisas registradas, em média 5% das preferências. Isso significa que o candidato do PL, carregado pelo bolsonarismo raiz, arrancou na corrida à sucessão da PBH com fatia próxima ao que teve na eleição municipal de 2020, quando registrou 6,68% de adesão do conjunto do eleitorado que estava apto a votar à época (9,95% dos votos válidos).
Com acesso ao maior naco da propaganda gratuita – cerca de 27% do horário de antena – a campanha de Engler tratou de vendê-lo nas plataformas tradicionais como “moderado” – assim como, o treino de mídia para os debates. Engler cresceu, dos cerca de 5% do eleitorado bolsonarista raiz antes da propaganda a 21,8% dos votos totais dos belo-horizontinos (34,38% dos válidos): incorporou uma fatia do eleitorado de latência bolsonarista, menos radical.
Até que ponto Engler, de sua posição à extrema direita, conseguirá expandir a sua presença para eleitores de direita, é dúvida que, em sete dias, as urnas revelarão. Entre o resultado do primeiro turno e a mais recente pesquisa de intenção de votos, enquanto o prefeito Fuad Noman (PSD), posicionado ao centro, dobrou as suas preferências; Engler expandiu, até aqui, apenas cerca de 30% dos votos que teve no primeiro turno.
Esse desempenho, reforça o que até aqui já se conhece: uma coisa é eleger-se para o Legislativo com segmentos de eleitores fieis e extremados; uma coisa é alavancar uma candidatura ao segundo turno, em meio a dez concorrentes. Mas outra coisa distinta é concorrer ao executivo em segundo turno e alcançar maioria.
Chamar ou não Jair Bolsonaro, eis uma dúvida entre campanhas de muitas praças onde o PL está no segundo turno. Sob investigação por tramar, em 2022, tentativa de golpe de estado no Brasil; conhecido por suas posições antivacinas, o que teria Bolsonaro a acrescentar a Engler neste momento? Se cordeiro era o que Engler pretendia ser, ao lado de tal liderança poderá reforçar, ao contrário, um saber popular que flana entre eleitores indecisos: lobos perdem os dentes, mas não a natureza. Será o caso?
Recorde
A eleição municipal de Belo Horizonte registrou, no primeiro turno deste 2024, a maior abstenção de sua história: 29,54% não compareceram. Abstenção, brancos e nulos traduziu, em BH, neste pleito de 2024, certo sentimento de desalento que alcança 36,39% do eleitorado.
Quase igual
Até então, a eleição de 2020, tempo de pandemia, havia registrado a maior abstenção da história de Belo Horizonte; 28,34%. Naquele pleito, abstenção, nulos e brancos cravaram 36,30% do eleitorado, mesmo patamar verificado nesta eleição.
Por que será?
Diferentemente do que ocorreu em Belo Horizonte, quando o comparecimento no Brasil e de Minas Gerais nas eleições de 2024 é comparado com o de 2020, a participação dos eleitores foi maior e a abstenção menor este ano.
Em 2020, Minas Gerais registrou abstenção de 23,20%; em 2024, de 23,03%. No Brasil, a abstenção nas últimas eleições municipais foi de 23,15%; em 2024, de 21,68%.
OAB nas urnas
Com eleições marcadas para 17 de novembro, três chapas estão em campanha para a presidência no triênio 2025-2027 da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) seção Minas Gerais. Com o apoio do atual presidente, Sérgio Leonardo, Gustavo Chalfun encabeça a chapa “No caminho certo”.
Denominada “OAB pra você”, a chapa de oposição apresenta a candidatura de Raimundo Cândido Neto. Também de oposição, a chapa “OAB em Suas Mãos” é encabeçada por Adriano Cardoso.
Conversa leve
Mediado pelo vice-presidente da Câmara Municipal, Álvaro Damião (União), o presidente da Câmara Municipal, Gabriel Azevedo (MDB) se reuniu esta semana, por 10 minutos, com o prefeito Fuad Noman (PSD). Azevedo e Fuad Noman colecionaram tensionamentos, particularmente durante o período em que o primeiro esteve sob ameaça de cassação.
“Não conversamos sobre política, o encontro foi cordial e institucional”, afirmou Gabriel Azevedo, desautorizando quem afirme em contrário. “Vamos limpar a pauta até o fim deste ano, todas as matérias serão apreciadas”, considerou o emedebista, que até este momento, mantém a neutralidade na disputa em segundo turno em Belo Horizonte.
Em pauta
Neste momento são 29 projetos em pauta na Câmara Municipal, entre os quais, destaca-se o projeto de lei 903/2024, do Executivo, que autoriza o município a contratar operações de crédito externo com a Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD) - ou outra instituição financeira – no limite de até 50 milhões de euros para a implantação de um programa e mobilidade e desenvolvimento urbano.
“Outras matérias vão chegar. São mais 20 sessões ordinárias e, se necessário, convocaremos extraordinárias. Esse foi nosso compromisso”, afirma Gabriel Azevedo.