Em cenário que se anuncia de um dramático turfe, com os ingredientes para ser disputado entre os dois concorrentes que conseguirem projetar o “focinho” sobre a linha de chegada, o deputado estadual Bruno Engler (PL) foi pressionado a trazer, para o coração de sua campanha à Prefeitura de Belo Horizonte, a principal pauta nacional do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

 

 

Engler, até aqui, vinha fazendo esforço para moderar o discurso. Mas numa espécie revival do terceiro turno presidencial, que se desdobra da frustrada tentativa de golpe em 8 de Janeiro, as lideranças nacionais do “bolsonarismo raiz” subiram em palanque neste domingo para pedir, na Praça da Liberdade, o impeachment do ministro Alexandre de Moraes.

 



 

Em discursos dirigidos à mesma bolha que sequer encheu a Praça da Liberdade, o porta-voz Nikolas Ferreira (PL) chamou Moraes de “psicopata”. Reiterando a capacidade para ressignificar palavras e conceitos, defendeu a “anistia” para aqueles que se envolveram na tentativa de golpe de estado, além de anunciar a defesa da “democracia” e da “liberdade de imprensa”. Logo a imprensa, tão vilipendiada nos anos Bolsonaro. E a democracia... nem se fala.

 

 

Engler não foi o único candidato a prefeito no palanque “raiz”. Fez-lhe companhia o deputado federal Junio Amaral (PL), que enfrenta – ao que tudo indica, não com pouca dificuldade – a reeleição de Marília Campos PT) em Contagem. Diferentemente de Junio Amaral, contudo, Engler, está bem posicionado para brigar por uma vaga no segundo turno na disputa em Belo Horizonte. Nesse ato, Engler tem a perder, pois reforça o seu isolamento à extrema direita, enjaulando a sua mensagem nesse nicho.

 

 

Nesta dramática reta final, não anda fácil a vida dos candidatos a prefeito de Belo Horizonte. Com a incerteza rondando os prognósticos para o segundo turno, se Engler se encontrar lá com o deputado estadual Mauro Tramonte (Republicanos) estará ainda mais espremido para transpor guetos ideológicos: Tramonte compartilha com Engler a base eleitoral de natureza religiosa, além de ter atraído parte da direita, antes mais explicitamente “bolsonarista” do que convém ser neste momento.

 

 

O governador Romeu Zema (Novo) é expressão disso. Nada muito diferente do que ocorre em Goiás, onde o governador e ex-bolsonarista “convicto”, Ronaldo Caiado (União Brasil) sustenta a candidatura de Sandro Mabel (União Brasil) à prefeitura de Goiânia em palanque oposto ao de Bolsonaro, apoiador do deputado estadual Fred Rodrigues (PL). Por conta disso, Bolsonaro dirigiu-se a Caiado chamando-lhe de “governador covarde”. Mabel retrucou, sugerindo que o ex-presidente age como ventríloquo, ou seja, fala o que lhe sopram no ouvido.

 


Engler nada ganhou em tal palanque. Mas tampouco tem como se recusar a atender aos imperativos do núcleo raiz, já que constrói, pelo segundo pleito consecutivo à PBH, candidatura fincada e tracionada por esse nicho da extrema direita. Com muito mídia training, Engler vem melhorando a sua performance discursiva, mas segue com inclinação às escorregadelas de viés raiz.

 

 

Em hipotético segundo turno entre Engler e Fuad Noman (PSD), o parlamentar, que troca farpas com Tramonte mirando o segundo turno, poderá não levar o Republicanos unido. Está aí um cenário, contudo, com potencial para reunir, depois da fugaz separação, Zema e Bolsonaro em Belo Horizonte. Igualmente seria a possibilidade de uma disputa em segundo turno entre Tramonte e Fuad Noman.

 


Tais são os cenários mais prováveis de segundo turno, a depender da pesquisa que se consulta. Mas, não faltam cavalos rebeldes nesse turfe conturbado. Outras incertezas rondam essa aposta, que tem tudo para terminar, em Gardel: “Por uma cabeza (...) todas las locuras (...), borra la tristeza, calma la amargura”.

 

Impulsionamento

A campanha de Bruno Engler (PL) lidera, até este momento, as despesas com impulsionamento: já destinou R$ 962 mil (9% do total de seus gastos) com promoção de conteúdo no Facebook Serviços On Line do Brasil. Enquanto Fuad Noman (PSD) gastou R$ 404 mil – 2,8% do total das despesas – com o mesmo propósito; Mauro Tramonte (Republicanos) investiu em promoção de conteúdo pela Meta R$ 349 mil – o equivalente a 5,6% das despesas totais de campanha.

 


Faturamento

Individualmente, Facebook Serviços On Line do Brasil é o fornecedor que mais faturou até este momento nesta campanha: R$ 65,7 milhões, 2% dos R$ 3,3 bilhões dispendidos com fornecedores. Além do Facebook, DLocal Brasil Instituição de Pagamento e Adyen do Brasil Instituição de Pagamento somam, juntas, gastos declarados de R$ 53 milhões com impulsionamento e promoção de conteúdos.

 


Caixa zerado

A candidata Lourdes Francisco (PCO) ainda não conseguiu arrecadar nem recebeu repasses financeiros para a sua campanha. Foi apenas em 25 de setembro que o PCO obteve recursos do Fundo Especial de Financiamento de Campanha, mais conhecido como Fundo Eleitoral. A cota da legenda é de R$ 3,4 milhões.

 


Metodologia

Com distinto método de pesquisa e coleta pela internet, o AtlasIntel vem até aqui divergindo dos demais institutos de pesquisa. Divulgou nesta segunda-feira survey em que Bruno Engler lidera com 26% e, na sequência, cinco candidaturas estão em situação de empate técnico: Fuad Noman e Gabriel Azevedo com 15,8%, cada; Mauro Tramonte, com 15,3%; a deputada federal Duda Salabert, com 12,3%; e Rogério Correia, com 11,9%.

 

 

Já a Quaest, em levantamento presencial, apresenta Mauro Tramonte liderando com 27%, seguido por Engler e Fuad Noman, em empate técnico, respectivamente 21% e 20%. Por esse levantamento, Duda, Rogério Correia e Gabriel Azevedo estão empatados com 8%, 5% e 5%, nessa ordem.

 


Julgamento

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) julga, nesta terça-feira, o processo administrativo pelo rompimento da barragem de Brumadinho, em 2019, contra o ex-presidente da mineradora, Fabio Schvartsman, e o ex-diretor de Ferrosos, Peter Poppinga. São denunciados por violação do dever de diligência, previsto na Lei das Sociedades por Ações (SAs). O julgamento definirá se houve falha dos ex-executivos e poderá resultar em multas e inabilitação para cargos de administração de companhias abertas, caso sejam condenados.

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