“Cita aí pelo menos duas igrejas de Apocalipse, mostra quem é o pai de Melquisedeque, mostra para nós pelo menos dois filhos de José, mostra que você é assíduo na palavra, homem de oração.” O quiz sobre o Antigo Testamento foi lançado ao prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB) pelo candidato Pablo Marçal (PRTB), nessa segunda-feira, durante o primeiro debate da semana, realizado pela Folha/Uol. Assim, escancarou-se, nas eleições de São Paulo, o umbral do inferno. Numa disputa entre candidaturas para gerir a cidade, não são as questões urbanas e os serviços públicos que importam. Trata-se de sabatinar adversários sobre crenças ou para quem não crê – delírios – que nada têm a ver com a administração pública.

 

 

Assim São Paulo, em valorização da violência como faceta da antipolítica, que já havia entreaberto o portal de horrores – com cadeirada, socos e pontapés entre assessores, além do linguajar vulgar e a espetacularização das arenas de debate – agora invocou no espaço-tempo Melquisedeque. Bem ao estilo de Pablo Marçal (PRTB), o empreendedor pró-mercado e antiesquerda – expressão da nova extrema direita, que lançou o grito de independência em relação a Jair Bolsonaro. Ele dirige-se a uma sociedade de pessoas religiosas, de valores tradicionais, precarizadas, que atuam como autônomas, no novo mundo em que a carteira assinada é artigo de luxo. Empreender e alcançar o sucesso individual, eis a máxima. Para alcançar tal miragem, Melquisedeque é o limite.

 

A moda não chegou a Belo Horizonte. Por aqui, candidatos são civilizados e não usam a força física na disputa, para a qual bastam palavras (ainda que duras). Em que pese ser natural haver vínculos com instituições religiosas de postulantes a cargos políticos – pois as pessoas são livres para professarem a fé que lhes convém ou mesmo para não tê-la –, na capital mineira, todos compreendem que disputam quem será o gestor. Não o pregador de um púlpito. Importante é conhecer a cidade, ter uma visão de futuro, ter propostas urbanísticas e para a melhoria da qualidade de serviços. De outra forma, sabatinas de ordem do livro de Gênesis seriam apropriadas a estados fundamentalistas religiosos. O Brasil ainda não chegou lá.

 

Mas há um projeto de poder político-religioso em curso, aponta Robson Sávio Reis, professor do departamento de Ciências da Religião da PUC Minas, em referência à Teoria do Domínio. “Melquesedeque, Salomão e Davi são reis e guerreiros do povo judeu. Toda a narrativa é a partir de personagens do Velho Testamento, para ressaltar a ideia do deus guerreiro, do militarismo, do armamentismo: a guerra da conquista de territórios é o fim. No caso dos cristãos seria dentro de uma narrativa de preparação para a segunda vinda de Cristo, e, no caso judeus, que têm a mesma narrativa, para a vinda definitiva do Messias”, afirma Robson Sávio.

 

O professor considera que essa ideia, que se dissemina em certas igrejas evangélicas e na ultraconservadora renovação carismática católica, se associa à narrativa de que haveria pessoas “eleitas” para governar uma nação e restituir o valor das religiões, das tradições, do patriarcado e do papel de submissão da mulher. “É uma perspectiva incompatível com o Evangelho de Cristo, em que temos o Deus da paz, da justiça, o Deus compassivo”, afirma.

 

É assim que religião é parte de uma guerra cultural movida pela extrema direita global, com propósito político, de implementar, mundo afora, estados totalitários teocráticos. Em cada país, uma particularidade. Mas em face de tal projeto, o que menos vingará, será a tão “defendida” liberdade.

 

Carta de apoio

 

O procurador-geral de Justiça, Jarbas Soares Júnior, encaminhou aos procuradores e promotores de Justiça carta em que apresenta o procurador de Justiça Carlos André Mariani Bittencourt como seu candidato à sucessão interna. O promotor Carlos Eduardo Ferreira Pinto, coordenador do Centro Operacional das Promotorias de Meio Ambiente (Caoma), nome também cogitado, hipotecou apoio a Carlos André. “Tínhamos de tomar uma decisão, a campanha já está em curso e tentamos buscar nome que agregasse as forças que orbitam em torno da atual gestão. Ao mesmo tempo, precisaria ser nome aceito externamente”, afirmou Jarbas Soares Júnior.

 




Campanha

 

As inscrições das candidaturas para o cargo de procurador-geral de Justiça podem ser feitas até 18 de outubro. A eleição para a formação da lista tríplice, enviada ao governador Romeu Zema (Novo), será em 18 de novembro. Até este momento, Marcos Tofani, procurador de Justiça titular da Procuradoria de Direitos Difusos e Coletivos havia sido o único candidato a se lançar. Tofani já está em campanha pelo estado, com o apoio do ex-procurador geral de Justiça Sérgio Tonet e de outros promotores.


2026

 

O governador Romeu Zema afirmou, em evento na Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), que lançará em Minas, para a sua sucessão, o vice-governador Matheus Simões (Novo). E reiterou que vai atuar ativamente na campanha presidencial de 2026, como candidato ou como apoiador, para eleger um presidente que classificou de “centro-direita”.


Entre mortos...

 

As campanhas municipais, que colocam em campos opostos parlamentares aliados na Assembleia Legislativa – seja da base de Romeu Zema (Novo) ou da oposição – estão deixando em campo aberto um saldo de baixas. As mais recentes: servidores comissionados de gabinete, indicados a deputados por outros parlamentares, estão sendo exonerados se não há o correspondente apoio nas eleições.

 

... e feridos

 

Também entre alguns parlamentares e o governador Romeu Zema restam mágoas por apoio hipotecado ao adversário em sua base eleitoral. A partir da semana que vem, não faltará trabalho ao líder João Magalhães (MDB).

 

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Perfil da aposta

 

Homens de até 39 anos, com ensino médio completo são os maiores usuários de aplicativos de apostas esportivas no país. Os dados são da pesquisa DataSenado, divulgados nesta terça-feira, com a publicação “Panorama Político 2024: apostas esportivas, golpes digitais e endividamento”, segundo a qual 13% dos brasileiros com 16 anos ou mais – o equivalente a 22,13 milhões de pessoas – declararam ter participado de “bets” nos últimos 30 dias. Entre os entrevistados que realizaram apostas esportivas, 62% são do sexo masculino e 56% têm entre 16 e 39 anos; 40% têm o ensino médio completo. Outros 23% têm o ensino fundamental incompleto e 20% têm o ensino superior incompleto ou mais.

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