Será um segundo turno duro. O que separa, no primeiro turno, o deputado estadual Bruno Engler (PL) do prefeito Fuad Noman (PSD) são 7,9 pontos percentuais. Em torno de ambos, irão se aglutinar os campos políticos, até aqui divididos. Sem a presença do presidente Lula (PT) e do governador Romeu Zema (Novo) nos palanques da capital mineira, o resultado é de soma zero para ambos.

 

De um lado da trincheira, Bruno Engler, estruturado sobre a pauta bolsonarista, trabalhará pela unidade do campo da direita, dividido no primeiro turno pela candidatura do deputado estadual Mauro Tramonte (Republicanos) e do senador Carlos Viana (Podemos). Engler terá o apoio do vice-governador Mateus Simões (Novo). E muito provavelmente, também o do governador Romeu Zema (Novo), que, no primeiro turno, optou pela candidatura de Tramonte, num palanque híbrido com o ex-adversário político no pleito de 2022, Alexandre Kalil.

 



 

Do outro lado, Fuad Noman tenderá a atrair a base eleitoral da esquerda, parte da qual, já havia migrado no primeiro turno, dentro de um movimento de “voto útil” desencadeado para evitar um segundo turno entre Tramonte e Engler.

 

 

Se para Engler, na extrema direita, a busca por apoio político tende a estar mais limitada à candidatura de Tramonte e talvez Viana; para Fuad, apesar das refregas de campanha e ataques que sofreu de todos os candidatos por estar no cargo de prefeito, há maior espaço para o diálogo com as demais legendas: o MDB, o PDT, o PT, o PV, o PcdoB, o Psol e Rede. Todas elas estiveram unificadas no palanque da prefeita Marília Campos (PT), reeleita em Contagem no primeiro turno. Também em Juiz de Fora, a candidatura vitoriosa à reeleição da prefeita Margarida Salomão (PT) foi coligada ao PSD.

 

 

Em princípio, essa articulação bem-sucedida entre PT e PSD em Juiz de Fora e em Contagem foi, tentada em Belo Horizonte, dentro de um projeto que se articula para a sucessão de Romeu Zema em 2026. Mas, petistas que já haviam aberto mão da candidatura própria em São Paulo e no Rio de Janeiro, insistiram com o lançamento de Rogério Correia (PT), acreditando assim reposicionar a legenda na capital mineira e impulsionar a chapa proporcional à Câmara Municipal.

 

Na mesma toada, a deputada federal Duda Salabert (PDT) não abriu mão de concorrer, assim ostentando o título de a primeira candidatura de uma mulher transgênera à Prefeitura de Belo Horizonte. O desempenho de ambos foi fraco. Duda não conseguiu furar a bolha de uma candidatura identitária. E Rogério Correia sofreu as consequências de um partido que perdeu o protagonismo em Belo Horizonte e ainda não parou para refletir sobre isso.

 

 

Esta eleição municipal traz uma revelação e algumas lições. A revelação: o desempenho eleitoral do presidente da Câmara Municipal Gabriel Azevedo (MDB). Com 10,5% dos votos válidos, sem se vincular nem ao lulismo nem ao bolsonarismo, respaldou-se fortemente em um projeto de futuro para a cidade, exibindo amplo conhecimento não apenas da história de Belo Horizonte, mas de seus problemas e propostas bem articuladas para solucioná-los. Sinaliza para o renascimento do centro, no espectro ideológico da política, campo que disputou com Fuad Noman. Pela votação que teve, será um ator importante neste segundo turno.

 

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Como lição, a disputa na capital mineira volta a demonstrar que apenas o recall de uma candidatura já conhecida não é suficiente para carregá-la ao segundo turno. O fator Tramonte que chegou à campanha com potencial para desestruturar toda a disputa – e de fato o fez no primeiro momento –, perdeu a tração inicial por várias razões: Tramonte não estava preparado para debater com conhecimento as questões da cidade e, sem alianças partidárias que lhe garantissem um tempo de antena, perdeu visibilidade com o início da propaganda gratuita de rádio e televisão.

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