Partidos políticos de centro e da direita pragmática, que integram o chamado Centrão na Câmara dos Deputados, seguem dominando com maior capilaridade as prefeituras ao final do primeiro turno destas eleições municipais: PSD, MDB, PP, União, Republicanos, Podemos e PRD conquistaram 3.507 cidades – 66,6%, algo próximo à média histórica, com trocas de posição nesse ranking: PSD desbancou o MDB na liderança, conquistando respectivamente 882 e 856 municípios. A esquerda – PT, PSB, PV, PcdoB, PDT, Rede e Psol – segue minoritária, com 14% dos governos municipais, pequena variação positiva em relação a 2020.

 

Duas novidades, contudo, são apontadas ao final deste pleito. A extrema direita, organizada no PL, conquistou 512 municípios, 9,4% das cidades em que as eleições já se encerraram – sem mencionar que concorre em 22 das 51 cidades em segundo turno. Os liberais – antigamente PR – cresceram 48,8% em relação a 2020, quando foram eleitas 344 prefeituras, num tempo em que o bolsonarismo era ainda abrigado no PSL. Para além desse novo marcador partidário de extrema direita, contudo, chama atenção uma outra novidade.

 



 

Ulysses Guimarães e Tancredo Neves, no período de redemocratização, buscavam escantear da cena política os “touros broncos” – em referência às figuras radicais, também chamadas de “restolhos da ditadura”. Diferentemente, nestas eleições, o centro e a direita pragmática, pela lógica das disputas municipais, compôs com o PL em centenas de coligações, encabeçadas ou não pelos liberais. Foram exceções situações como a de Contagem, em que a legenda foi isolada na disputa face ao amplo espectro de legendas em apoio à reeleição de Marília Campos (PT).

 

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No contexto da tecnopolítica, em todo o mundo, e o Brasil não é diferente, o espectro ideológico foi empurrado para a direita. O Centrão sempre foi dominado por conservadores, que aceitam a democracia pela máxima: “Tudo pode mudar desde que tudo permaneça como está”. O nascimento da ultradireita, em alguns casos com componentes neonazistas, e o crescimento da presença de evangélicos na política não é jabuticaba nacional. A fruta está espalhada no mundo e deriva da tecnopolítica, em que controladores dos fluxos de informação global capturam corações e mentes de uma parcela expressiva do eleitorado na ponta do sistema, e a seduz a trabalhar contra seus próprios interesses.

 

A esquerda brasileira, com seu pequeno avanço em número de cidades sob sua administração, também paga o preço da ignorância. Primeiro por não entender a mudança qualitativa que se processa com a primazia da realidade virtual sobre a realidade em si. Intelectuais de esquerda ainda falam em capitalismo e citam pensadores do século passado para dar conta dos fenômenos sociais que se desdobram de uma nova era, com outra lógica, a tecnofeudal.

 

 

A importação da pauta identitária, acrítica e aculturada, por exemplo, mostra seus efeitos brutais na realidade brasileira. Resulta numa esquerda cada dia mais fragmentada e isolada no espectro partidário. Além de pecar pela baixa renovação de quadros, faltam propostas que deem conta da realidade das cidades e para a interlocução com a população precarizada, que já incorporou a lógica do individualismo predatório.

 

Ao contrário do que o senso comum possa considerar, a eleição municipal não define a do executivo daqui a dois anos, mas, sim, delineia a da Câmara dos Deputados: nas prefeituras estão as lideranças que irão reforçar as bases dos deputados federais. E já não é pouca coisa. Denis Diderot, pensador iluminista que influenciaria fortemente a vanguarda literária do século 19 na França, dizia: “Do fanatismo à barbárie não há mais do que um passo”. O fanatismo já está aí. E a briga sem limites no seio da extrema direita, tem em Pablo Marçal e Silas Malafaia duas de muitas personagens centrais.

 

Monocráticas

 

 

À exceção da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limita decisões monocráticas de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), de autoria do Senado, as propostas apresentadas pela bancada bolsonarista na Câmara dos Deputados, que limitam os poderes do STF são inconstitucionais. Não há chance de avançarem no Senado. A avaliação é do presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (PSD), nesse sábado, em Roma, em evento promovido pelo grupo Esfera Brasil, que reúne outras oito autoridades dos Três Poderes.

 

Orçamento secreto

A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados aprovou, esta semana, um pacote de propostas que limitam a atuação e o poder do STF. As propostas estavam paradas na gaveta do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e tiveram andamento após decisão do STF de suspender o pagamento das emendas do Orçamento Secreto.

 

Caixa cheio

 

 

Em todo o país, as campanhas municipais, até aqui, gastaram R$ 4,026 bilhões. Individualmente, lidera o ranking de faturamento entre fornecedores o Facebook Serviços on line do Brasil: faturou R$ 104,4 milhões; seguido pelo Dlocal Brasil Instituição de Pagamento, com R$ 48,6 milhões; e Adyen do Brasil Instituição de Pagamento, que faturou R$ 19 milhões. Ao todo, o dispêndio das três instituições com o impulsionamento nas plataformas digitais é de R$ 172 milhões, 4,3% do total de gastos nas campanhas.


Vale do lítio

O prefeito de Araçuaí, Tadeu Barbosa de Oliveira (PSD), reeleito com 69,76% dos votos válidos, também foi o campeão em arrecadação da cidade: R$ 189.250,00, portanto mais do que poderia gastar, já que o limite na cidade é de R$ 159.850,76. A maior parte das contribuições conferidas a Tadeu vieram de um único doador: o dono da Cosan, Rubens Ometto Silveira Mello, em 2021 considerado pela Forbes como um dos 10 maiores bilionários brasileiros.

 

Ometto doou R$ 150 mil à campanha do prefeito, que declarou gastos, até aqui, de R$ 106.314,50. Já a segunda colocada na disputa, Dra. Rita (PT), teve 29,34% dos votos válidos, nenhuma pessoa física como doadora, contando com R$ 57.478,00 de repasse do diretório estadual do PT para a campanha.


Mecenas da política

 

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Maior doador eleitoral do país há quatro eleições consecutivas, Rubens Ometto contribuiu com candidatos transferindo até agora R$ 18,290 milhões para 2017 candidaturas e diretórios partidários.


Sem bancada

O ex-prefeito de Montes Claros Ruy Muniz (PSB), ficou em segundo lugar na disputa naquela cidade do Norte de Minas, que se encerrou no primeiro turno: obteve 23.353 votos (11,08%), mas não conseguiu eleger sequer um vereador entre os candidatos que estiveram com ele na campanha eleitoral. O PSB não alcançou o quociente eleitoral. A eleição para prefeito de Montes Claros foi vencida no primeiro turno pelo vice-prefeito Guilherme Guimarães (Uniao), com 151.240 votos (71,79%). Guilherme foi apoiado pelo atual chefe do executivo, Humberto Souto (sem partido). (Luiz Ribeiro)

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