Embora a candidatura do deputado estadual Mauro Tramonte (Republicanos) tenha sido derrotada em primeiro turno, o apoio do governador Romeu Zema (Novo), até aqui, não foi um resultado que lhe impôs desgaste político. Isso porque Zema indicou para a chapa a candidata a vice, Luísa Barreto (Novo), secretaria de Estado de Planejamento e Gestão, um quadro técnico e qualificado, mas não se envolveu pessoalmente em atos de campanha. O candidato dele perdeu, mas no contexto do primeiro turno em que também foram derrotadas as candidaturas de esquerda, ambas sem contar com a presença do presidente Lula (PT) na capital mineira, ficou o dito pelo não dito. Jogo de soma zero. Derrotas sem desgaste.
No segundo turno, contudo, se enfrentam duas candidaturas que estão na base de Zema na Assembleia Legislativa: PL e PSD. Não que esse resultado expresse uma vitória política do governador, já que não contribuiu com tais campanhas. No caso do deputado estadual Bruno Engler (PL), Zema não aderiu à candidatura no primeiro turno, embora tenha sido pressionado pelo presidente nacional do PL, Valdemar da Costa Neto, para aderir ao PL. Sem abraçar o bolsonarismo raiz da extrema direita, Zema optou por reforçar o projeto político ao lado do Republicanos: ficou com Tramonte. Assim também fez em Governador Valadares: apoiou, a pedido do deputado Enes Cândido (Republicanos), a candidatura de Renato Samaritano (Republicanos), que foi derrotada, deixando de lado o deputado estadual Coronel Sandro (PL), eleito. Já em Araguari, sem a extrema direita na disputa, Zema colheu sorte melhor: deu sustentação ao candidato vitorioso, Renato Carvalho (Republicanos), ligado ao deputado estadual Doorgal Andrada (PRD), aborrecendo, por seu turno, o deputado estadual Raul Belém (Cidadania), cuja irmã, Maria Belém (PSD), foi derrotada naquela disputa.
Em política, há vitórias que têm sabor de derrota. E há derrotas que assim não se apresentam. Em Juiz de Fora, o governador sustentou a candidatura da deputada federal Ione (Avante), desagradando à deputada estadual Delegada Sheila (PL), que está em sua base na Assembleia e é esposa do candidato bolsonarista Charlles Evangelista (PL), também derrotado. Como naquela cidade as duas parlamentares colheram derrota, é possível que Delegada Sheila não apresente ao Palácio Tiradentes o prato de mágoas neste momento. Poderá mantê-lo na geladeira para apresentar fatura mais alta adiante.
Fato é que na Assembleia Legislativa já não são poucas os corpos feridos a serem recolhidos no campo de batalhas. Ainda que em Belo Horizonte, como tudo indica, o Novo opte neste segundo turno pelo apoio a Bruno Engler no confronto final com o atual prefeito Fuad Noman (PSD), sugeriria a prudência que Romeu Zema adotasse a neutralidade. Assim evitaria se expor a uma derrota, caso Fuad Noman se reeleja; e evitaria, em qualquer cenário, confrontar a bancada de dez parlamentares do PSD, que lhe dá sustentação. Por outro lado, na hipótese de uma vitória de Engler, não seria ao governador conferidos os louros. Estariam na fila o senador Cleitinho Azevedo (Republicanos) – provável candidato ao governo de Minas em 2026; o deputado federal Nikolas Ferreira (PL) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Todos do mesmo núcleo raiz, que por estes dias veem no ultradireitista Pablo Marçal a mais nova ameaça à extrema direita.
Se a extrema direita e certa direita que a orbita estarão juntas em 2026, não se sabe. Há conflitos em Goiânia entre Bolsonaro e o governador Ronaldo Caiado (União); em Curitiba, onde Bolsonaro apoia Cristina Graeml (MDB) contra Eduardo Pimentel (PSD), candidato do governador Ratinho Jr. (PSD). Para não mencionar situações em Campo Grande, Palmas, João Pessoa... Mas que Nikolas, Engler, Cleitinho e Bolsonaro estarão juntos em 2026 seria a aposta mais provável. Tal grupo já considera o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL) para concorrer à Presidência da República. Tudo dentro do script. Segundo a velha máxima lusitana: “Mateus, primeiros os meus, depois os teus”.
Ressaca eleitoral
Presidentes estaduais das legendas vivem a ressaca pós-eleitoral: vencedores e derrotados demandam mais repasses do fundo eleitoral para pagar as dívidas de campanha. Não anda fácil.
Fusão
O presidente do PSDB, Paulo Abi-Ackel, afirma que estão avançadas as conversas entre PSDB e Solidariedade para uma fusão. E com o PDT, uma articulação para a formação de uma federação. “É algo que estava no horizonte antes da eleição, estava alinhavado antes do período eleitoral. Tivemos encontros com Solidariedade e com PDT. Precisamos juntar os cacos para a reconstrução do centro político. Essas legendas não estão no Centrão”, diz Abi-Ackel, considerando que Cidadania, legenda com a qual o PSDB está hoje federado, ainda não se posicionou oficialmente sobre as conversas em curso.
Religião e política
Pai, mãe, pastor, pastora, padre, missionário, missionária, bispo, bispa, apóstolo, apóstola, reverendo, irmão, irmã, abençoado, abençoada, babalorixá, ialorixá, ministro, ministra, Ogum, Exú, Yansã, Iemanjá, Obaluaê, Oxalá, Omulu, Oxóssi, Oxum, Oxumaré e Xang são alguns das apresentações utilizadas por candidaturas com identidade religiosa neste pleito.
Explosão da fé
Em levantamento junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) realizado pela Nexus – Pesquisa e Inteligência de Dados, foram eleitos na Região Sudeste 126 candidatos e candidatas para as câmaras municipais e prefeituras com identidade religiosa, um aumento de 12,5% em relação a 2020, quando 112 tiveram sucesso eleitoral. Entre 2000 e 2024, o o número de candidaturas com identidade religiosa cresceu cresceu de 847 para 2.230, variação de 163%, em ritmo 18 vezes superior ao aumento das candidaturas em geral, que passaram de 160.758 para 175.428.
Tuítes das 13h
O deputado federal Reginaldo Lopes (PT) anda trazendo a público, nos últimos dias, sempre às 13h, pelo X, a autocrítica de seu partido. Não que seja consenso, já que tem sido rebatido publicamente pelo deputado federal Rogério Correia (PT). Mas Reginaldo afirma que as reações não o incomodam. “Estou preocupado em primeiro ajustar programa para reconectar o PT com o povo, que dialoga com os novos trabalhadores, gerar riqueza, ampliar o empreendedorismo e garantir que o crescimento econômico seja acompanhado pela defesa dos direitos trabalhistas. Quero dialogar com a sociedade”, afirma.
Suspense
O Tribunal Regional Eleitoral (TRE-MG) vai analisar nesta quarta-feira os embargos de declaração apresentados pela defesa de Anderson Adauto (PV), ex-presidente da Assembleia Legislativa e terceiro colocado na disputa pela prefeitura de Uberaba. Se mantido o indeferimento do registro da candidatura de Adauto – e qualquer que seja a decisão, deverá haver recurso ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) – os votos conferidos a ele seriam anulados. Nesse caso, há interpretações de juristas de que poderá não haver segundo turno na cidade: a atual prefeita Elisa Araújo (PSD), que teve 46,36% dos votos e foi a mais votada no primeiro turno, estaria reeleita com mais da metade dos votos válidos. Elisa Araújo concorre no segundo turno com o ex-deputado estadual Tony Carlos (MDB).
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