Arte EM -  (crédito: Quinho/EM/D.A. Press)

Arte EM

crédito: Quinho/EM/D.A. Press

Sessenta anos depois do golpe de estado conduzido por militares, civis, empresários e, no contexto da Guerra Fria, com o respaldo norte-americano, a Polícia Federal desvenda o DNA de uma nova tentativa de assalto às instituições democráticas no Brasil.

 

Nada mais que possa surpreender à maioria de uma sociedade que naturalizou e elegeu em 2018 aquele que fazia apologia a um torturador e, nos próximos quatro anos em que ocuparia a Presidência da República, não poupou as demonstrações de apreço à ditadura militar. Tampouco escondeu os arroubos dirigidos às Forças Armadas, que deixavam subentendidos gestos de ameaça às instituições democráticas.

 

Ao mesmo tempo Bolsonaro atacava as urnas eletrônicas, coração operacional do processo eleitoral brasileiro; achincalhava a imprensa – desautorizando fatos e promovendo a desinformação. Foi um governo que usou instituições aparelhadas de estado para interferir no processo eleitoral, impedindo a livre circulação de eleitores, principalmente do Nordeste. Foi um governo que cultuou, dentro do país, a guerra híbrida, a polarização, os discursos de ódio, o incentivo ao armamento.

 

 

Nada mais surpreende. A sociedade segue entorpecida. A Polícia Federal expõe o plano para matar, após o pleito de 2022, o presidente eleito Lula (PT), o vice, Geraldo Alckmin (PSB), e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Segundo investigação, foi discutido em 12 de novembro de 2022, na casa do general Braga Netto, vice na chapa derrotada de Jair Bolsonaro (PL). Mas há uma intrigante pergunta: onde estava a cabeça de tal corpo operacional? Onde estava o presidente da República?

 

A tal show de horrores seguem-se as costumeiras narrativas. Do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) ouviu-se na rede social X: “Por mais que seja repugnante pensar em matar alguém, isso não é crime”. Apoio para disseminar a tese não lhe faltará. Seguidores das bolhas, em dissonância cognitiva para incorporar e reproduzir as ideias potencializadas por algoritmos, tampouco lhe faltarão. “É a tecnopolítica, estúpido!”, talvez dissesse hoje o estrategista de Bill Clinton, James Carville, para cá transpondo aquele momento em que concorreu contra George H. W. Bush.

 

A sociedade civil fissurada não consegue estabelecer consensos mínimos em torno de conceitos: “o que é liberdade”, “o que é democracia”, “o que foi o golpe de 64”, “o que foi a tentativa de golpe de 8 de janeiro”, para ficar nestes. É que foram estupidamente ressignificados pela extrema direita brasileira. Ainda que articulada com a alt-right internacional e com apoio de big techs, e apesar de estar no poder, a extrema direita brasileira não conseguiu levar a cabo o rocambolesco golpe. Tal movimento político extremista não hesita em colocar a fé religiosa no centro da miragem pretendida: sociedade autoritária, patriarcal, hierárquica, armada, profundamente desigual, de trabalho servil.

 

 

Atribuída por vezes a Thomas Jefferson (1743-1826), terceiro presidente norte-americano e um dos mais influentes Founding Fathers; por vezes atribuída ao político irlandês John Philpot Curran (1750-1817), nunca foi tão atual a constatação: “O preço da liberdade é a eterna vigilância”. Lá no Norte, foi Edward Snowden o homem que expôs para o mundo que os órgãos de vigilância norte-americanos espionavam pelo mundo virtual os seus próprios cidadãos.

 

“A eterna vigilância” foi o obituário da democracia e liberdade no seu próprio país, 11 anos antes de ela acontecer. Aqui democracia e liberdade ainda resistem... Mas uma pergunta não se cala. A resposta está com a Procuradoria-Geral da República e o Judiciário. Afinal quando vamos ver o chefe e os principais cúmplices desse longo e lento assassinato da democracia onde devem estar?

 

Kids pretos

O deputado federal Rogério Correia (PT-MG) foi responsável pelo estudo, no âmbito da CPMI de 8 de Janeiro, sobre a participação dos kids pretos. O pré-relatório apresentado à senadora Eliziane Gama (PSD-MA) foi aproveitado quase que integralmente no relatório final. “Sabíamos da participação dos kids pretos em todo o processo. Mas os bolsonaristas conseguiram impedir a convocação à CPMI de Braga Netto e do general Ridauto Fernandes, chefe dos kids pretos, quem comandou a entrada no Palácio, no Congresso e no STF”, afirma Correia.

 

Troca de comando

O tenente-coronel Mauro Cid foi designado por Jair Bolsonaro para assumir, durante o biênio 2023-2024, o 1º Batalhão de Ações de Comandos, em Goiânia, a 100 km de Brasília. “A designação dele estava decidida desde maio de 2022. É o batalhão que comanda as forças especiais, ou seja, os kids pretos”, afirma Rogério Correia. Após os atos golpistas, Lula ficou incomodado com essa designação. Como o general Júlio César de Arruda do comando do Exército se recusara a suspendê-la, foi exonerado.

 

Bets

Viih Tube, Eliezer, Gkay, Jon Vlogs, Rodrigo Mussi e Jojo Todynho são alguns dos influenciadores digitais e artistas envolvidos com a promoção de plataformas de apostas virtuais convocados a depor pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Bets . Também foram convocados: o cantor Wesley Safadão e a dvogada Adélia Soares, indiciada em setembro e Solange Bezerra, mãe da influenciadora Deolane Bezerra, esta, na condição de testemunha. Os influenciadores e artistas são obrigados a comparecer ao colegiado de apuração. Só podem se livrar mediante habeas corpus. Não há data prevista para os depoimentos.

 

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Consciência Negra

Pela primeira vez celebrado, em todo o país, o feriado do Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, antes, essa era uma política de algumas cidades e estados apenas. Autor da proposta que deu origem à lei, o deputado Valmir Assunção (PT-BA) revela as resistências para a aprovação da matéria: “O meu projeto de lei tramitou por oito anos, enfrentou diversas resistências daqueles que achavam que o povo negro não merecia uma data específica para exaltar nossos heróis e nossas heroínas. Quando aprovamos a proposta em 2023, vi que a luta coletiva foi o fundamento. O 20 de novembro é uma conquista de todo movimento negro”, considera.

 

Bancada negra

Inaugurada com 122 parlamentares, na Câmara dos Deputados também é comemorado um ano da criação da bancada negra, com espaço no colégio de líderes, fórum que debate a pauta de votações da Casa. Após a bancada negra assumir o projeto do feriado nacional, o texto que estava pronto para ser votado na Câmara foi juntado a outro que veio do Senado Federal e aprovado. “Sou de um estado de população negra. Sou parte do segmento social que é a base da pirâmide social, que sustenta este país, pois somos a maioria da força de trabalho. Somos pelo menos 58% da população brasileira que sofre com o racismo, que luta diuturnamente pela implementação de políticas públicas específicas para o combate ao racismo”, afirma Valmir Assunção (PT-BA).