O mundo passa por uma transição de ordem internacional. Com a perspectiva de reduzir o ativismo da Otan e de organismos internacionais, dentro de uma visão mais isolacionista dos Estados Unidos com foco no fortalecimento da economia interna, a vitória de Donald Trump dá impulso ao eixo revisionista da ordem mundial. O retraimento da política externa norte-americana abrirá mais espaço para chineses e russos. A palavra de ordem é mundo multipolar.

 

 

“O racha entre Estados Unidos e União Europeia vai fortalecer o mundo multipolar, a prevalência do polo Oriental, que tem estados fortes, nacionalistas”, considera Danny Zahreddine, professor de Relações Internacionais da PUC Minas e líder do grupo de estudo do CNPQ sobre Oriente Médio e Magreb. É o ocaso do mundo unipolar, tal qual nascido no pós-guerra fria, de hegemonia inconteste norte-americana.

 

A derrota de Kamala Harris está associada a questões econômicas, mas não aos indicadores econômicos: a inflação está na meta, o desemprego baixo e os índices do mercado de ações em alta. Mas ao mesmo tempo em que a concentração de renda segue forte, favorecendo a parcela entre 1% a 10% mais rica da população, mantém-se estagnada a renda da classe média e da metade mais pobre do país.

 

“Para além da economia, a derrota de Kamala também é explicada pela desastrosa política externa de Joe Biden, sobretudo em relação ao Oriente Médio, ao massacre promovido por Benjamin Netanyahu sobre a população civil de mulheres e crianças em Gaza e agora o ataque ao Líbano. Os Estados Unidos não conseguiram interromper a matança. Biden perdeu adesão interna de um importante público democrata”, considera Zahreddine, em referência às manifestações sobretudo de estudantes universitários, violentamente reprimidos em todo o país.

 

 

“Todas as instituições liberais e democráticas criadas pelos Estados Unidos no pós-guerra para manterem a liderança de uma governança global mais estável foram desprezadas pelo governo democrata. A política externa de Biden contradiz esses princípios fundantes e desconstruiu a governança global criada pelos Estados Unidos”, afirma Zahreddine.

 

Para o Brasil, abre-se um cenário complexo diante do resultado das eleições presidenciais norte-americanas. Por um lado, o Brasil enfatiza e integra o eixo Brics, apoia a perspectiva de relativizar o papel dólar, em afirmação do mundo multipolar da China e da Rússia. “Esse contexto aponta para a relevância da política externa brasileira”, avalia o professor. Ao mesmo tempo, há um avanço regional da extrema direita – Javier Milei, na Argentina, em conexão com Trump, nos Estados Unidos. “Por outro lado, o Brasil poderá fazer contraponto com a União Europeia”, considera Zahreddine.

 

Ao mesmo tempo, a vitória de Trump impacta a política interna: fortalece a extrema direita, em desafio às instituições democráticas. Adicionalmente, a maior presença de gigantes da tecnologia, enquanto centros de poder e de distribuição de informação e de desinformação, pressiona – no embate entre as narrativas que circulam e as políticas públicas – a legitimidade do estado frente à população. Conceitos são ressignificados, a avaliação do que é melhor para a população e para o país está sob permanente pressão de fluxos de desinformação.

 

 

“Aí está o principal desafio do estado brasileiro: tem uma democracia eleitoral, procurando dar estabilidade a instituições democráticas, que têm uma preocupação social e estão, ao mesmo tempo, pressionadas por um contexto informacional caótico, no contexto de um mundo multipolar, em que predominam estados de viés mais autoritário”. Se, por um lado, a vitória de Trump pressiona internamente a democracia brasileira, o campo democrático, particularmente o Judiciário, reúne as cartas para retardar indefinidamente as possibilidades de retrocesso. Mas precisará atuar rapidamente. A história não costuma apresentar novas chances aos relutantes. Como costuma dizer certa ministra: justiça que tarda, falha! A hora é agora.

 

Investimentos

 

Em Brasília nesta quinta-feira, o prefeito reeleito Fuad Noman (PSD) terá agenda administrativa nos ministérios da Saúde, dos Transportes e das Cidades. São demandas de Fuad a liberação de recursos para as obras de viadutos do Anel Rodoviário e do antigo aeroporto Carlos Prates, que será transformado em um conjunto habitacional com estrutura de parque, lazer e equipamentos de saúde e educação. No Ministério da Saúde, o prefeito vai pleitear financiamento para ampliar o atendimento em Belo Horizonte.


Pauta política

 

Entre uma agenda e outra, Fuad irá se encontrar com Rodrigo Pacheco (PSD), presidente do Congresso Nacional, e com Alexandre Silveira, ministro de Minas e Energia. Há possibilidade também, ainda não confirmada, de uma visita de cortesia ao presidente Lula (PT).

 




Conversa com prefeitos

 

A Associação Mineira de Municípios (AMM) promoverá, nos próximos 12 e 13 deste mês, no Expominas, o Congresso Mineiro de Novos Gestores, voltado aos prefeitos eleitos e reeleitos. Na pauta estão palestras sobre a importância do processo de transição de governos e a relevância dos 100 primeiros dias de mandato. Serão palestrantes o vice-governador Mateus Simões (Novo), neste momento, governador interino e o presidente da Assembleia Legislativa, Tadeu Martins Leite (MDB), além do secretário de estado de Governo, Gustavo Valadares (PMN).


Araxá

 

Encerrou-se em Araxá, nesta quarta-feira, o encontro de prefeitos eleitos e reeleitos do Consórcio Interfederativo Minas Gerais (Ciminas), das regiões do Alto Paranaíba, Noroeste e Centro-Oeste de Minas Gerais. Além de troca de experiências, discutiram ações de integração entre os municípios.

 

Novo mineiro

 

João Candido Portinari, matemático e doutor em engenharia de telecomunicações, filho único de Candido Portinari, vai receber o título de cidadão honorário de Minas Gerais em 2 de dezembro, das mãos do presidente da Assembleia Legislativa, Tadeu Martins Leite (MDB). Ele é fundador e diretor do Projeto Portinari, criado em 1979.

 

A obra de Portinari

 

Dirigindo-se ao pai em carta-prefácio póstuma, que introduz a primeira publicação do Projeto Portinari, João Candido declarou: "...é como brasileiro que me sinto no dever de trabalhar para que todos possamos nos reencontrar com tua obra e, através dela, com nós mesmos". Foi somente por volta dos 40 anos que João Candido se deu conta da dimensão da obra do pai, artista de relevância internacional, com os espetaculares painéis da obra “Guerra e Paz” presenteados à Organização das Nações Unidas (ONU) em 1956, por ocasião da inauguração da sede, em Nova York. João Candido tomou para a si a responsabilidade de resgatar a história do pai e de suas obras, reavivando a memória ao país de quem foi Candido Portinari.

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