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Bertha Maakaroun
Bertha Maakaroun
Jornalista, pesquisadora e doutora em Ciência Política
EM MINAS

A guerra civil brasileira não declarada tem mais uma vítima

Empoderar o guarda da esquina é o que de pior se pode adotar na política

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Os candidatos a herdeiro de Jair Bolsonaro estão em festa. Melhor dizendo, todos, menos um. Tarcísio de Freitas (Republicanos) é político inexperiente. Bons políticos antecipam cenários. Enxergam à frente. Há algum tempo mencionamos aqui, nesta coluna, a previsibilidade de que a política de segurança medieval de Tarcísio daria com os burros n’água. O governador de São Paulo empoderou um bolsonarista da Idade Média em sua Secretaria de Segurança. Achou por bem dar carta branca a uma das polícias que mais matam no Brasil e no mundo.

 

 

Guilherme Derrite rejeitou as câmeras corporais. Controla com mão de ferro a Corregedoria de Polícia; soltou o pior da polícia sobre os mais pobres e daqueles que nada têm e ninguém têm por eles. Em 1968, durante a reunião em 13 de dezembro, em que o general-presidente Costa e Silva assinaria o AI-5, o então vice-presidente Pedro Aleixo manifestou ressalvas. Perguntado se duvidava “das mãos honradas do presidente, que seria o único juiz da aplicação do ato”, Pedro Aleixo respondeu: “Desconfio é do guarda da esquina”.

 

Empoderar o guarda da esquina é o que de pior se pode adotar na política. A polícia sem freios vira milícia, corrói as bases de um governo e mais à frente toma o poder. Tanta liberdade sem fim se transforma em um bestialismo sem fim. Os fatos se sucedem. As redes estão lotadas deles. Romeu Zema (Novo), Ronaldo Caiado (União), Ratinho Junior (PSD) e até Cláudio Castro (PL), governadores que orbitam o bolsonarismo, devem estar rindo à toa.

 

A semana emparedou Tarcísio de Freitas. Quando a violência está autorizada, os bandidos passam a usar farda: um policial a paisana dá 11 tiros num ladrão de loja e tem sempre alguém a aplaudir; um policial joga um trabalhador de uma ponte e vão elogiar; um estudante de medicina desarmado é baleado e morto em um hotel, durante uma abordagem, e isso é visto como mais um dano colateral. Normal.

 

Todo o festival de arbitrariedades e horror transforma-se em cena nacional. O ódio e a revolta se acumulam. E quando tais cenas transbordam das mídias digitais às tradicionais, neste momento as atenções se voltam a Tarcísio de Freitas, o boca solta, aprendiz de Bolsonaro que declarou certa vez: “Sinceramente, nós temos muita tranquilidade com o que está sendo feito. E aí o pessoal pode ir na ONU, pode ir na Liga da Justiça, no raio que os parta, que não tô nem aí.” Esta semana mudou o tom e admitiu o erro. Mas não demitiu o secretário. E ainda não assegurou o adequado uso das câmeras corporais.

 

Quem não demite se admite como a pessoa à frente da segurança. A política de ser o pai de tais coisas nunca foi boa conselheira. A polícia que barbariza é o melhor cabo eleitoral para os opositores de Tarcísio. Essa mesma polícia, quando se trata de crime organizado, nada faz. Afinal quem executou à queima- roupa o empresário em pleno aeroporto?

 

 

O Brasil segue sua guerra civil não declarada e ela promete pôr na alça de mira mais um político. Se Ricardo Lewandowski, em sua ingenuidade bem-intencionada, não chamar para si algo que, por hora é responsabilidade dos governadores, o de São Paulo em 2026 já estará morto politicamente. As elites empresariais poderão começar a procurar novo candidato. Como o presidente Lula adora Tarcísio, é provável que o PT tome a frente e dê nova chance a ele.


A última crise brasileira, em 2013, começou em São Paulo. Eram só poucos centavos. Graças ao então prefeito Fernando Haddad (PT) e ao ministro da Justiça José Eduardo Cardozo, a bomba ali armada explodiu no colo da presidente Dilma (PT). A nossa guerra civil, digo violência no Brasil, corre e parece que continuará correndo solta. Além do cidadão da periferia, quem se habilita a pagar esta conta? Por ora, os dedos apontam para Tarcísio.

 

Cirurgia bem-sucedida

O ministro do Superior Tribunal de Justiça Afrânio Vilela já deixou a UTI do Hospital Albert Einstein, onde foi operado nesta segunda-feira, pelo cirurgião cardíaco Fabio Gaiotto. O ministro precisou substituir a função dos stents, colocados em 2015, por duas pontes mamárias e uma safena. Os entupimentos foram detectados num checape de rotina. A cirurgia foi muito bem-sucedida. O ministro passa bem.

 

Papo com prefeitos

O vice-governador Matheus Simões (Novo) manterá a agenda com prefeitos mineiros reeleitos, em articulação com deputados estaduais da base zemista. Diferentemente do que ocorreu quando o deputado estadual dr. Maurício(Novo) se encarregou de fazer convites, e chamou prefeitos da base de outros parlamentares sem informá-los –, agora os encontros vão ser articulados por cada deputado em seu território eleitoral.


Entregas

Prefeitos gostam de ser recebidos pelo governo, admitem parlamentares. Mas em tempos de orçamentos minguados e mídias digitais afiadas, querem ver entregas. Assim como desejam deputados estaduais, que reclamam não ter recebido emendas adicionais às cotas do orçamento impositivo. Preocupados com a reeleição em 2026, afirmam que só cafezinho e tapinha nas costas não enchem a urna de ninguém.

 

 

IA

O plenário do Senado aprovou, nesta quinta-feira, a urgência para o projeto de lei, de autoria do presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD), que dispõe sobre o uso da Inteligência Artificial. A matéria foi apreciada e aprovada por uma comissão provisória, voltada à análise do tema. A matéria cria o Sistema Nacional de Regulação e Governança de Inteligência Artificial (SIA), que vai supervisionar o uso desta tecnologia no Brasil.

 

A ideia é de que o órgão seja coordenado pela Autoridade Nacional de Proteção de Dados. Objeto de forte lobby das big techs, o principal ponto de preocupação acabou de fora: a classificação dos sistemas de IA de provedores de aplicação de internet, como Google, Facebook e outros aplicativos, como alto risco, ampliando as responsabilidades das redes.

 

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Agendas

Em processo de recuperação após a internação para tratar do quadro de neuropatia periférica secundária, ao tratamento oncológico, o prefeito Fuad Noman (PSD) vai retomar as agendas políticas na segunda-feira que vem. Vai retomar as conversas com os partidos que o apoiaram e vão integrar a sua base de sustentação na Câmara Municipal. Ao longo da semana que vem, lideranças e vereadores eleitos do PT, PV, Cidadania, PCdoB e PDT vão se reunir com Fuad Noman.

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