A graça e as desgraças da política brasileira
Direita democrática brasileira e mercado querem candidato competitivo e precisam logo eliminar Bolsonaro e incensar um substituto mais habilidoso que Tarcísio
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SIGA NOA política brasileira já teve personagens geniais. Um deles, Aparício Torellly. Em 1946, se elegeu vereador por São Paulo. Eram tempos de falta d’água e de leite adulterado. Seu lema foi: “Mais água, mais leite. Menos água no leite”. O mote lhe deu 3,6 mil votos e uma vaga na Câmara Municipal de São Paulo pelo PCB. Quando cassaram o registro do PCB disse: “Um dia é da caça... Os outros, da cassação!”. Com o predomínio da tecnopolítica, a esquerda vem sofrendo, há tempos, sucessivas derrotas nas eleições municipais.
Em 2020, foi ainda mais acachapante que a deste ano. Em 2022, analistas previram vitória de Jair Bolsonaro. Mesmo com a máquina federal – e usando-a sem pudor –, a realidade eleitoral se mostrou oposta. Nesse caso, é “regra básica”: eleição municipal ajuda a conformar o próximo parlamento, mas a do Executivo continua tendo sua própria lógica. Obviamente que, em ciência política, regras mudam. E neste momento, nada define uma vitória de Lula ou mesmo de Fernando Haddad como sugerem as pesquisas.
A história tem suas particularidades e depende das pessoas que a constroem. Em efeito contrário às suas pretensões, a extrema direita em sua proverbial ignorância e inabilidade administrativa, tem prestado relevantes serviços à democracia brasileira. Jair Bolsonaro (PL) é a expressão máxima disso. Montado em estripulias golpistas, a nova onda do capitão é jogar no colo dos seus generais de pijama a culpa pela tentativa de golpe. Nesse sábado (14/12), fez mais uma vítima. Foi preso o general Braga Netto. Imagine o que os generais detidos e os que ainda serão farão em resposta? A prisão de Braga Netto é forte sinal. Em 2025, no banco dos réus, os militares acusados de tentativa de golpe estarão possivelmente ao lado de Bolsonaro.
A economia cresceu muito neste 2024, e isso a população sente. Entretanto, a inflação continua e aperta os bolsos. Apesar do crescimento econômico, o mercado financeiro brasileiro teve um desempenho medíocre. A Bolsa de Valores volta a patamares patéticos em reação ao corte de gastos, mas nada disso dá votos. O mercado abriu guerra com o governo federal. Entretanto, as empresas tiveram números excelentes na última temporada de balanços. Mesmo com o tal Banco Central (BC) independente dos desejos da população, aprovando 1 p.p. de aumento na taxa Selic e projetando igual medida para as próximas reuniões, com voto consensual no Copom, o cenário político ainda não muda.
Se a direita democrática brasileira e o mercado querem um candidato competitivo, precisam logo eliminar Jair Bolsonaro e incensar um substituto mais habilidoso que Tarcísio de Freitas. O governador de São Paulo e a sua polícia a “la Israel” é a mais clara demonstração disso. São Paulo não é Gaza. A periferia brasileira é lotada de celulares, e a violência policial e as milícias já estão na ordem do dia na internet.
Pode ser que com a posse de Donald Trump, seus marqueteiros e Elon Musk venham a dar uma força à extrema direita. As big techs tudo podem. Javier Milei e Bolsonaro que o digam. Mas com a brasileira, talvez nem a inteligência artificial. Sergios Moros, Bolsonaros, Damares e outros reúnem juntos muita desinteligência natural. Se de todo Trump não ajudar, esquerda e democratas sempre podem entrar em cena para “apoio” adicional. Gabriel Galípolo e o procurador-geral da República, escolhidos de Lula, que o digam. Um quer ser mais realista que os reis do mercado; o outro brinca de desaparecido.
Na política brasileira, tudo pode. Um político dito de esquerda é quem assina o Tratado de Livre Comércio entre Mercosul e a União Europeia. Mas se nossa extrema direita não engatar a Presidência da República na próxima eleição, deveria imitar o Barão de Itararé. Ele se despediu da política em grande estilo: “Saio da vida pública para entrar na privada”. E foi ao banheiro. Os comediantes agradecerão... O povo então!
Machosfera
São no YouTube 137 canais misóginos, que promovem narrativas masculinistas, disseminando comportamentos nocivos às mulheres disfarçados de “valorização dos homens”. Tal conteúdo, que estimula a violência de gênero, acumula mais de 105 mil vídeos monetizados; registram R$ 3,9 bilhões de visualizações. Os dados são da pesquisa "‘Aprenda a evitar esse tipo de mulher’: estratégias discursivas e monetização da misoginia no YouTube", realizada em parceria entre o Ministério das Mulheres, o NetLab-UFRJ e o Observatório da Indústria da Desinformação e Violência de Gênero nas Plataformas Digitais. O levantamento analisou 76 mil vídeos de 7.800 canais brasileiros.
Domínio e submissão
Mais de 33 mil títulos de vídeos analisados exploram temas relacionados ao "desprezo às mulheres e estímulo à insurgência masculina" contra uma suposta dominação feminina, aponta a pesquisa. Em 89 canais, a narrativa predominante está no eixo "domínio e submissão": as mulheres deveriam ter papeis secundários em relacionamentos e nas famílias. Qualquer desvio é narrado como "ameaça". A "desumanização" das mulheres, frequentemente explorada em imagens degradantes, quando não se enquadram em padrões de beleza e idade, é outra estratégia discursiva.
Consultoria especializada
Influenciadores dos canais misóginos chegam a ofertar, ao valor de R$ 1 mil, consultorias individuais sobre como se tornar macho alfa, em alguns casos, partindo de técnicas de manipulação, humilhação, desumanização e violência psicológica. Enquanto isso, a violência contra a mulher segue em alta. Entre 2021 e 2024, o feminicídio no Brasil foi de 1.347 mortes de mulheres; em 2023, foram 1.463 assassinatos. Os casos de violência doméstica e familiar registraram crescimento de quase 10% entre 2022 e 2023.
Em análise
O deputado federal Newton Cardoso Jr (MDB) não descarta concorrer ao governo de Minas em 2026.
Defesa da democracia
O presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (PSD), vai abrir 2025 com o lançamento do livro "Ecos da Democracia", coletânea de 93 discursos de sua autoria, entre 2021 e 2024, período em que, por diversas vezes, as narrativas de ruptura democrática atravessaram as instituições brasileiras. A organização e edição é do jornalista Alex Capella, que o acompanha desde o início de sua vida pública. A obra tem prefácio da ministra Cármen Lúcia, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e o posfácio do presidente Lula.
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A tal simetria
Para promotores e procuradores de Justiça de Minas Gerais, o Natal promete. Argumentando necessidade de "simetria" com a decisão de 04.12.24, do Órgão Especial do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, a Procuradoria-Geral de Justiça atendeu ao requerimento da Associação Mineira do Ministério Público. Vai pagar a "compensação financeira" pelos "dias excedentes que não foram anotados" no período de vigência das Leis Federais 13.093/2015 e 13095/2015. Tudo retroativo, será feita a contagem e cálculo dos dias de compensação acumulados a serem indenizados.