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Bertha Maakaroun
Bertha Maakaroun
Jornalista, pesquisadora e doutora em Ciência Política
EM MINAS

Brincando de urso com a paciência alheia

A equação da democracia brasileira é perversa. Nas decisões mais importantes de política econômica, prevalecem a ínfima minoria e os atores externos

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A última temporada de balanços das empresas brasileiras listadas na Bolsa de Valores foi muito boa. Todos os analistas sérios são unânimes em reconhecer os bons números da maioria dessas empresas.

 

Entretanto, nos últimos dias, o Ibovespa, que deveria estar navegando sob o signo do touro, tem trafegado à sombra do urso. Inaugurou esta semana uma nova mínima e o índice bateu em 120 mil pontos. As previsões econômicas são de um crescimento para a economia brasileira em 2024 de 3,5% segundo o IPEA. Algumas agências estimam até mais. Entretanto, o dólar não para de subir; a bolsa de cair; a taxa de juros de subir; e a gritaria do tal “mercado” nem se fala.

 

 

Quarta-feira, 18 de dezembro, foi um dia de pesadas vendas na Bolsa de Valores. É verdade que o FED sinalizou que não deve reduzir tão rapidamente a taxa de juros da economia americana e isso, por si, já atrai investidores brasileiros que obviamente preferem aplicar em dólares em detrimento do Real.

 

Para piorar o mau humor, o S&P-500, que mede o desempenho das maiores empresas americanas, recuou 2,96% e a Nasdaq, que representa as empresas de tecnologia, 3,62%. O Dow Jones, que vinha valorizando fortemente nos últimos tempos, atingiu dez dias de queda consecutivos. Tamanha salada de más noticias puxou o Ibovespa para baixo. Poucos foram, contudo, os analistas que consideraram esse cenário. O “mercado” lançou a culpa sobre o pacote de cortes e no governo federal, tratando de emparedá-lo para obter as suas vantagens na pauta do Congresso.

 

O “mercado” via o sempre disposto X, também espalhou boatos, disseminando falsas falas de Gabriel Galípolo. Nesse processo, a institucionalidade brasileira fica mais uma vez abalada. Em meio à especulação geral e irrestrita, os muito ricos se dão mais uma vez bem e os demais perdem. O balanço destes dias é de mais pressão sobre o governo federal, sobre o futuro presidente do Banco Central e sobre Lula (PT), já que a escalada do dólar lança pressão sobre a inflação e promove a rejeição ao governo.

 

A equação da democracia brasileira é perversa: no momento das decisões mais importantes de política econômica, a voz que prevalece é a da ínfima minoria e de atores externos. Não à toa o mundo assiste ao crescimento de governos constituídos sob nova lógica e de sistemas econômicos onde prevalece o interesse público em detrimento do interesse de poucos.

 

Na quarta-feira, ao final do dia, Fernando Haddad já anunciava que se forem necessários mais cortes, eles virão. Ontem, o mercado amanheceu menos agitado. Os senhores donos da bola começaram a comprar as ações a preços muito mais baratos que do que de véspera, de empresas sabidamente e comprovadamente rentáveis, enquanto os recursos necessários à populações que delas necessitam ficaram mais curtos.

 

 

O povo sempre assiste a tudo bestializado e, pior, costuma na política desaguar a sua raiva elegendo os representantes daqueles que, no plano econômico, são os seus algozes. A extrema direita está aí para provar essa equação. Convém sempre lembrar, contudo, que tal lógica lucrativa, porém perversa, tem um limite. Neste mundo em transformação, um dia a paciência termina. O índice que mensura o cenário de guerras, conflitos sociais e políticos no planeta anda mais alto do que os índices das Bolsas de Valores.

 

Basta olhar para fora do continente...

 

Enquanto o touro social ou a boiada popular não aparece em cena, as elites vão brincando de urso com a economia brasileira. Desconhecem que na história, o próximo 8 de janeiro, pode ser na Faria Lima. Até lá, dá-lhe bitcoin!

 

Cannabis medicinal

A Comissão de Direitos Humanos da Assembleia discutiu em audiência pública a necessidade de universalizar o acesso aos remédios feitos à base de cannabis. Segundo Leandro Cruz Ramires da Silva, diretor médico-científico da Associação Brasileira de Pacientes de Cannabis Medicinal (Ama-me), os óleos de cannabis disponíveis no mercado atualmente têm preço elevado: 270 miligramas de óleo feito de cannabis são vendidos em farmácias por valores que vão de R$ 2.500 a R$ 3.600. A Ama-me acompanha de perto a Ação Direta de Inconstitucionalidade 5708, em julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), para que seja afastado o entendimento que criminaliza plantar, cultivar, colher, guardar, transportar, prescrever, ministrar e adquirir cannabis para fins medicinais.

 

Indiciado por depor

Leandro Cruz Ramires da Silva relatou o caso de um associado da Ama-me que foi preso por sete meses acusado de tráfico de drogas, apesar das prescrições médicas e processos na justiça para garantir seu tratamento com cannabis. Nesse julgamento, por depor em defesa do associado, Leandro foi indiciado, embora tenha autorização judicial para plantio da cannabis para fins de tratamento de seu filho: foi acusado de tráfico internacional de sementes. “Meu filho pode morrer se ficar sem a cannabis por um único dia. Continuarei praticando a desobediência civil”, disse.


Oposição raiz

Entre os 42 deputados federais mineiros que votaram a versão final do projeto de lei que regulamenta a reforma tributária, relatado pelo mineiro Reginaldo Lopes (PT), onze foram contrários: a bancada do PL, à qual se somaram Greyce Elias (Avante), Delegado Marcelo Freitas (União) e Rafael Simões (União).

 

Orçamento participativo

A Câmara Municipal irá apreciar em segundo turno, em sessão extraordinária nesta segunda-feira véspera de Natal, a Proposta de Emenda à Lei Orgânica 14/2024 (PELO) que amplia de 0,2% para 1% o valor destinado ao Orçamento Participativo. Wilsinho da Tabu (Podemos) e mais 20 vereadores assinam a proposição. A emenda equipara os investimentos por meio do Orçamento Participativo ao mesmo percentual das emendas parlamentares impositivas. Se for aprovada, a rubrica do Orçamento Participativo alcançará cerca de R$ 150 milhões, montante que acompanhará, ano a ano, as receitas correntes da Prefeitura de Belo Horizonte.


Desinformação e eleições

Em parceria entre Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e Google, Meta (Instagram, Facebook, WhatsApp e Threads), Linkedin, Telegram, Tik Tok além do Kwai para mitigar os impactos da desinformação nas redes sociais e em aplicativos de mensagem, 2.127 alertas foram encaminhados às plataformas digitais para análise de conteúdo e possível disparo em massa durante as eleições. As informações são do “Relatório de Ações e Resultados” relativo às eleições de 2024, divulgado pelo TSE, dentro do programa de enfrentamento à desinformação. A maior concentração de alertas se deu em relação ao WhatsApp, o que sugere, segundo aponta o relatório, a necessidade de uma vigilância contínua sobre plataformas para identificar e corrigir rapidamente eventuais abusos de seus usuários.

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