Bertha Maakaroun
Bertha Maakaroun
Jornalista, pesquisadora e doutora em Ciência Política
EM MINAS

Contos de uma noite de Natal

Aro passou a observar, com trunfos sob a manga, o vácuo na articulação política de Fuad Noman, prejudicada ao longo de dezembro por sua condição de saúde

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A poucos dias da eleição da Mesa Diretora e presidência da Câmara Municipal, as forças políticas em disputa atingem o ápice em mobilização. Respaldado em delegação do prefeito Fuad Noman (PSD), o vice-prefeito eleito, Álvaro Damião (União) dá sinais de ter queimado as caravelas: estimulou a candidatura de Bruno Miranda (PDT), líder do prefeito na Câmara Municipal.
 
Já não é mais possível adiar o enfrentamento com o secretário de estado da Casa Civil Marcelo Aro (PP), que um dia após os resultados de segundo turno, sem conversar com o prefeito reeleito, reuniu em um jantar 23 vereadores em apoio à candidatura do vice-presidente da Câmara Municipal, Juliano Lopes (Podemos), membro da família Aro.
 
Depois de exibir armas, Aro passou a observar, com trunfos sob a manga, o vácuo na articulação política de Fuad Noman, prejudicada ao longo de dezembro por sua condição de saúde, após a quimioterapia e remissão de um câncer.
 
 
Aro apoiara no segundo turno a candidatura de Bruno Engler (PL) sob o compromisso de adesão da bancada bolsonarista eleita ao seu projeto político. Acenou ao PL a presidência da Comissão de Legislação e Justiça, posição estratégica para a tramitação de qualquer matéria na Casa.
 
Aro sabe que ter estado do lado perdedor da disputa majoritária municipal não é o que mais importa neste momento. Para ele, necessário é garantir o comando do Legislativo. É desse lugar que pretende exercer poder sobre os governantes eleitos e ganhar mais tração para a sua candidatura ao Senado Federal, em 2026.
 
Na tentativa de impor à Prefeitura de Belo Horizonte uma capitulação sem disputa pelo comando da Câmara Municipal, eram trunfos de Marcelo Aro: 1º) Juliano Lopes é vereador conhecido pelo caráter afável e, pela proximidade, que vem de criação, com Anselmo Domingos, secretário municipal de governo. Em algum momento desse jogo, Anselmo será chamado a fazer escolhas de Sofia; 2º) Aro sabe que, se por um lado Fuad Noman e o PSD de Brasília – Rodrigo Pacheco e Alexandre Silveira – são contraponto ao projeto de seu grupo político em 2026, por outro, a bancada estadual do PSD é também base do governo Romeu Zema na Assembleia Legislativa.
 
Surfar nesse pragmatismo do PSD contribuiria para a miragem de que a presidência da Câmara Municipal estaria desvinculada das eleições de 2026 e, se eleito, Juliano Lopes ajudaria o Executivo a ter governabilidade. Tais eram os argumentos de Aro para arrancar da PBH uma composição em torno de Juliano Lopes, sem disputa. O PSD mineiro de Brasília não comprou.
 
 
Aro conseguiu, em princípio, alguns adeptos a essa tese de curta vida. Mas à medida em que a PBH aprovou as matérias de seu interesse, as perguntas entre os mais experientes foram formuladas. Qual governabilidade prometia Aro? Entregaria a Fuad Noman o apoio da bancada do PL e do Novo, que integram a base de sustentação da candidatura de Juliano Lopes?
 
Tal hipótese só faria sentido se, no horizonte, estivesse à vista uma unificação do PSD mineiro ao grupo de Zema, com a filiação do vice-governador Mateus Simões (Novo). Mas com o desmentido entre as partes, a hipótese pelo momento não faria sentido. Certo é que sem a presidência do legislativo,  os novos governantes iniciariam o mandato reféns do secretário de Romeu Zema.
 
Com a máquina administrativa na mão, Fuad Noman sabe que tem farto arsenal para construir a governabilidade elegendo o presidente da Câmara e sem precisar terceirizar a sua base. Dependerá de quem irá manejá-lo. Aro também sabe disso. E é com a habilidade de transformar pequenos lotes em latifúndios, que Aro preferiria arrancar uma capitulação da PBH em vez de partir para o confronto. Segue tentando fazer isso.
 
 
Tem a perfeita dimensão de que a candidatura de Bruno Miranda que ora se constrói terá atrás de si ferramentas para a formação da unidade de uma base do Executivo formada desde 1º de janeiro, data da eleição da presidência da Câmara Municipal, que poderá se ampliar no curso do governo. Ou seja, em 1º de Janeiro, quem acordar base com Bruno Miranda, tenderá a dormir na base do prefeito.
 

Banho maria

A candidatura de Bruno Miranda (PDT) à presidência da Câmara Municipal tem o apoio de Fuad Noman, Álvaro Damião e do PSD de Brasília. Alexandre Silveira, ministro das Minas e Energia e Rodrigo Pacheco, presidente do Congresso Nacional, até então envolvidos com as questões nacionais, estão agora acompanhando com lupa os desdobramentos. Interlocutores do Executivo afirmam que até aqui a prioridade do governo municipal era a aprovação legislativa de uma bateria de matérias – entre as quais a reforma administrativa, para adequar a futura estrutura de governo, além da autorização para os empréstimos destinados aos investimentos na capital.

Deserdados

Filhas e filhos que abandonarem pai ou mãe em hospitais, casas de saúde e outros estabelecimentos de longa permanência poderão ser excluídos do rol de herdeiros. É o que prevê o projeto de lei 2.090/2021, do senador Flávio Arns (PSB-PR). A proposta também aumenta a pena prevista no Estatuto do Idoso para esse tipo de abandono. Já aprovado em 14 de dezembro na Comissão de Direitos Humanos (CDH) , o texto aguarda definição de relator na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), onde terá decisão final, a menos que haja recurso para votação em plenário. Se aprovado nas comissões, o texto segue para a Câmara dos Deputados.
 

O retrato

Ao terminar a última sessão do ano legislativo na Câmara Municipal, o presidente da Câmara Municipal Gabriel Azevedo (MDB), que encerrará o seu mandato em 31 de dezembro, dependurou o seu retrato na galeria de presidentes. Os retratos a óleo são confeccionados segundo estabelecido pela deliberação 11/2005. As obras são custeadas pela Câmara Municipal, mas, no caso de Gabriel Azevedo, este se antecipou: pagou com recursos próprios. Em ofício ao Arquivo Público e à diretoria da Câmara Municipal fez a doação do retrato a óleo, que será incorporado ao patrimônio. Disposta verticalmente de três em três, na série histórica de retratos de ex-presidentes, Gabriel Azevedo ficou ladeado por Leo Burguês (2011-2014); Wellington Magalhães (2015-2016); Henrique Braga (2017-2018) e Nely Aquino (2019-2022). O artista de todos eles é o mesmo, Marcelo Caetano Bottaro.
 

Era das cassações

Leo Burguês, renunciou para evitar a cassação e Wellington Magalhães foi cassado. Nos dois casos, com participação de Gabriel Azevedo. A deputada federal Nely Aquino (Podemos), antiga aliada de Gabriel e integrante da família Aro, deu a partida ao primeiro, de três processos de cassação contra Gabriel Azevedo, articulados no contexto do embate político com Marcelo Aro. Gabriel Azevedo sobreviveu também com o apoio de Henrique Braga, que integrou o seu grupo político ao longo do mandato, ao qual não concorreu à reeleição para ser candidato à Prefeitura de Belo Horizonte.

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