
Não é só a economia
Todos os países que almejam manter a sua soberania, precisam pensar urgentemente em sua soberania digital. Rússia, China já se consolidaram assim
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“Você não é o presidente, você precisa ir embora.” Uma criança roubou a cena da midiosfera planetária durante entrevista coletiva de Elon Musk, acompanhada pelo presidente Donald Trump, no salão oval da Casa Branca, na quinta-feira. Emblemática. Dentre as razões que explicam a nova queda de avaliação positiva do presidente Lula, uma das mais importantes é a sua dificuldade em entender o mundo da tecnopolítica. Este é um governo cujos principais articuladores e atores estão atrelados a uma leitura da realidade que faz tempo não existe mais. Falam de economia de mercado e de capitalismo e assim raciocinam com modelos teóricos, como se a nova ordem tecnofeudal não existisse.
Lula e o ministro Fernando Haddad acham que se a economia for bem, automaticamente o presidente também irá. Pois bem, a economia está numa situação de quase pleno emprego; os balanços das empresas estão bons. Mas a popularidade segue em queda. Para Lula e os seus assessores, a inflação, especialmente a dos alimentos, é a causa de tudo. Obviamente que ela ajuda, e muito, especialmente entre as camadas mais necessitadas da população que integram a sua base eleitoral histórica. Mas não se resume a ela. Também importa a percepção que dela tem a maioria. Se 200 milhões de pessoas assistem um vídeo sobre o Pix, seja fato ou não, torna-se uma “verdade”. Diria Pirandello: “Assim é se lhe parece”.
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A tecnopolítica torna-se mais real do que a própria realidade. Mas para os expoentes do governo, os Haddads, o novo presidente do Banco Central e provavelmente para o próprio Lula, o problema seria apenas a inflação. No máximo falam em trocar, como fizeram, o responsável pela comunicação.
Todos os países que almejam manter a sua soberania precisam pensar urgentemente em sua soberania digital. Rússia, China já se consolidaram assim. Por isso ganham guerras e domínios comerciais. Índia e Irã avançam nessa direção. A Europa a discute. O Brasil segue acéfalo. Os seus principais atores com poder de decisão deixam a desejar quando se trata de entender o poder dos algoritmos. É nesse mar que a extrema direita nada de braçada: falam o que as big techs e os seus fundos controladores trilhardários querem que seja dito. São impulsionados. Num cenário assim, não é Lula e o governo que correm perigo. É a própria democracia e as suas instituições.
Se o caso de Lula, de seu governo e as esquerdas em geral parece perdido; no caso da democracia, as suas instituições jogam a última cartada este ano. Julgar os principais articuladores da tentativa de golpe de estado é imprescindível ao futuro do país. A outra esperança vem de onde menos se esperava. Atende pela dupla do barulho global.
Trump depois de algumas semanas de mandato tem produzido mais esperanças entre os seus potenciais inimigos do que entre os seus aliados. Deixou os bolsonaristas longe de sua posse; deflagrou uma perseguição aos imigrantes, deportando vários deles. Forçam os seus aliados europeus e ucranianos a aceitar a derrota, e ainda sinaliza que quer a Rússia de volta ao G7.
Sacudiu o mundo do livre mercado com tarifas de até 25% para Canadá, México e apenas 10% para a China. Anunciou a tarifa sobre o aço ao Brasil e outros parceiros comerciais. Isso sem falar nas peripécias verbais de anexar o Canadá, o canal do Panamá, a Groenlândia e a mais recente, sobre a Faixa de Gaza.
Os Brics, especialmente a China e a Rússia, agradecem. As reações externas e internas também prometem. México e Canadá prontamente reagiram. Tributação anunciada e adiada dias depois, Trump corre o risco de cair no ridículo. Cão que ladra, mas não morde, perde credibilidade. A cena do filho de Musk em interação com o presidente dos EUA deve soar como um alerta. Nem só de economia vive a política atual. Afinal, quem governa as big techs? Na era da pós-verdade, quem nos governa? Ou como perguntam alguns congressistas nos EUA, reagindo às ações do Dodge? Quem elegeu Musk?
Indústria e Comércio
O convite ao senador Rodrigo Pacheco (PSD) para integrar o Ministério da Indústria e Comércio já foi feito. Em Brasília, é dado como certo que assumirá a pasta em seu retorno das férias. O vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) deverá ser deslocado para o Ministério das Relações Exteriores. Na mexida ministerial para abrigar as indicações da cúpula do Congresso Nacional, é esperado o deslocamento do ministro Alexandre Silveira das Minas e Energia para a Secretaria-Geral da Presidência.
No forno
A CPI do Crime Organizado e Milícias, encabeçada pelo senador Alessandro Vieira (MDB-SE), já reúne 27 assinaturas, número suficiente para a sua instalação no Senado Federal. Tem o aval do presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União-AP). É esperada a leitura do requerimento em plenário logo após o carnaval. Infiltradas nas polícias, órgãos de controle, nas diferentes instâncias legislativas e executivas, em compras públicas. Este é um processo iniciado na década de 70, vinculado ao tráfico de drogas. Hoje alcança penetração em segmentos chave da sociedade.
Especialistas
O primeiro passo da CPI será ouvir especialistas das forças de segurança e da Justiça, como o procurador da República Lincoln Gaykia, que investiga o PCC em São Paulo, o delegado da Polícia Federal Elvis Secco e o procurador de Justiça André Ubaldino, membro da Câmara de Procuradores do Ministério Público de Minas Gerais, professor e um dos maiores especialistas do tema no país.
“Vivemos num país ladeado pelos maiores produtores mundiais de cocaína e maconha no mundo. Temos com eles fronteiras que, incluída a Venezuela, chegam a quase 10 mil quilômetros, com baixíssima densidade demográfica. Além disso somos mercado da maior economia local, que também já é o segundo maior consumidor de cocaína do mundo. Temos a lei mais leniente entre todas – e talvez só percamos para a Colômbia”, afirma André Ubaldino. Ao assinalar que o ambiente no país é propício ao crescimento do crime organizado, André Ubaldino assinala: “Apesar de o país estar mergulhado até o pescoço em drogas, o Judiciário é leniente e as organizações criminosas seguem em ascensão”.
Escuta
A Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos ouvirá as famílias de Juscelino Kubitschek e do motorista Geraldo Ribeiro antes de deliberar sobre a reabertura da investigação em torno das circunstâncias da morte do ex-presidente, na Via Dutra, em 1976. Da parte de JK, deverá se manifestar Anna Christina Kubitschek Barbará Alves Pereira, que preside o Memorial JK, museu mais bem avaliado de Brasília.
A versão da ditadura militar de que teria havido um acidente é questionada em inquérito civil do Ministério Público Federal (MPF), que suspeita de atentado político, no contexto da Operação Condor, que eliminou várias lideranças civis no Cone Sul. Diante da complexidade do tema, além da relatora Maria Cecília Adão, a comissão também designou Rafaello Abritta, representante do Ministério da Defesa, como segundo relator.
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Ouvidorias
Apesar de lei federal promulgada há três anos determinar a obrigatoriedade de ouvidorias em todos os municípios e câmaras municipais, em Minas, auditoria realizada em 2024 pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) para mensurar nível de transparência pública das gestões, constatou que apenas 100 possuíam ouvidoria.
“Vamos realizar nova auditoria este ano, dentro de uma deliberação da Associação dos Membros dos Tribunais de Contas (Atricon), que reúne 33 tribunais de contas no país”, afirma Durval Ângelo, presidente TCE. “A Controladoria Geral da União disponibiliza um programa para que municípios organizem as suas ouvidorias, o que pode ser feito com funcionários efetivos, sem novas despesas”, acrescenta.
Largo do Rosário
Antes da fundação de Belo Horizonte, o cruzamento entre a rua da Bahia e a Timbiras abrigava a Igreja do Rosário e um cemitério para o sepultamento de membros da Irmandade do Rosário dos Homens Pretos, responsáveis pela sua construção há mais de 200 anos. Depois de pesquisar o tema por 14 anos, o professor, doutor e coordenador do Projeto NegriCidade, Padre Mauro Luiz da Silva, concluiu que no século 19, esse marco da população negra foi destruído para a construção da capital mineira.
Os moradores foram forçados a se deslocar para áreas periféricas da cidade”, afirma Padre Mauro, que narra a história na obra “Largo do Rosário – Do Arraial dos Pretos à Cidade dos Brancos”. O lançamento será nesta terça-feira (18), no Museu dos Quilombos e Favelas Urbanos (Muquifu).