
Dilemas e decisões da corrida de 2026
Bolsonaro presta um desserviço aos governadores de direita que orbitam o bolsonarismo
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O governador Romeu Zema (Novo) e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), vivem um dilema. Sentem que para ganhar impulso ao segundo turno de uma eventual eleição presidencial precisariam da extrema direita orgânica, sobre a qual o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) concentra a sua maior influência político-eleitoral.
Bolsonaro vai cozinhando os sapos. Embora inelegível, insiste na tese de que o governo de Donald Trump e as big techs aliadas irão pressionar o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para reverter a sua condição. Aposta que a partir de junho de 2026, sob a presidência de Kassio Nunes Marques e do vice, André Mendonça, o TSE revisará a sua inelegibilidade por abuso de poder político e uso indevido de meios de comunicação.
Envolvido na tentativa de golpe de Estado, Bolsonaro abre combate em outras frentes. Nesta terça-feira, a Procuradoria Geral da República (PGR), sustentada no robusto inquérito da Polícia Civil, fez a denúncia ao STF contra Bolsonaro, militares e auxiliares por tentativa de golpe de Estado. Enquanto isso, ele intensifica a cruzada no Congresso Nacional pela aprovação da lei da anistia.
O ex-presidente anuncia ter votos suficientes na Câmara e no Senado para passar a lei da anistia. Em novo périplo pelo Congresso, também nesta terça-feira, Bolsonaro apresentou aos senadores de oposição, com quem almoçou, uma pesquisa de opinião eleitoral encomendada pelo PL, em que ele e a mulher, Michelle, estariam numericamente à frente do presidente Lula para a corrida presidencial de 2026. Vai bulindo com o imaginário da expectativa de poder.
Bolsonaro presta um desserviço aos governadores de direita que orbitam o bolsonarismo. Tarcísio de Freitas, que publicamente diz que não será candidato, aos aliados está afirmando que aceitará concorrer à Presidência da República, se tal for o desejo de Bolsonaro. Romeu Zema, embora mais recentemente se posicione à “centro-direita”, também precisa manter vivo o ethos bolsonarista: defende a “reanálise” das acusações contra o ex-presidente. Nem a Tarcísio nem a Zema, contudo, convém Bolsonaro no páreo. Mas ambos entoam a cantinela no deserto: sabem que Bolsonaro não tem interesse em deixar que floresçam lideranças à sua sombra. Reserva o espaço para si. No limite, à sua família.
A sucessão presidencial tem desdobramentos sobre a sucessão mineira. Romeu Zema identifica no senador Cleitinho (Republicanos) – que terá o apoio do PL – o adversário que se interpõe ao projeto de reeleição de seu vice, Mateus Simões (Novo), em 2026. Com a esperada desincompatibilização de Zema para concorrer ao Palácio do Planalto – ou compor uma chapa como vice –, Simões irá assumir o governo seis meses antes do pleito.
Diante da alta probabilidade de que Cleitinho e Simões não estejam no mesmo palanque, Zema opta por ir comendo frio pelas beiradas: “ótimo apresentador de problemas”, descreveu o governador em referência ao senador. Desqualifica, mas suavemente. Transitando no mesmo espectro de Cleitinho da direita radical, Zema não pode romper com Cleitinho – que tem dois irmãos políticos, o prefeito de Divinópolis, Gleidson Azevedo (Novo), e o deputado estadual Eduardo Azevedo (PL).
Tal posicionamento recrudesceria o relacionamento com a bancada do PL na Assembleia e afastaria de vez a extrema direita de si. Por isso, Zema acena para Nikolas Ferreira (PL), que não será candidato ao governo caso Cleitinho concorra: “jovem brilhante”.
A sucessão mineira vai se desenhando, até aqui, com quatro nomes nucleares: além de Cleitinho e Mateus Simões, o ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil, ainda sem partido, e o senador Rodrigo Pacheco (PSD), que deverá assumir o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio em seu retorno de férias. Zema e Mateus Simões, até aqui, estão desdenhando dos adversários Pacheco e Kalil na corrida ao Palácio Tiradentes. A ambos reservarão a artilharia verbal; a Cleitinho, a munição pesada.
Base
Mesmo sem ter ainda chamado para conversar a bancada da esquerda e outros vereadores que apoiaram a candidatura de Bruno Miranda (PDT) para a presidência da Câmara Municipal de Belo Horizonte, articuladores do prefeito em exercício, Álvaro Damião (União), projetam, neste momento, uma base potencial entre 25 e 26 vereadores.
Retorno
Retornaram à base do governo municipal a vereadora Janaína Cardoso (União) e os vereadores do Solidariedade Rudson Paixão e Diego Sanches. A conversa estava encaminhada com o PRD de Wanderley Porto e Michelly Siqueira. Adicionalmente, a vereadora Marilda Portela (PL) manteve a Regional Norte e seguirá, como no primeiro mandato, votando com a PBH. Também Cláudio do Mundo Novo (PL), ligado ao deputado federal Eros Biondini (PL), se acertou com a indicação de Pedro Mayan Colen Aureliano para adjunto da Regional Venda Nova, onde se localiza a Missão Mundo Novo, comunidade religiosa e base eleitoral do grupo.
Do Rio
Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados entre 2015 e 2016, que fez a carreira política no Rio de Janeiro, deverá concorrer à Casa pelo PL de Minas Gerais. Cunha foi condenado a 16 anos de prisão pela Lava-Jato, por pagamentos de propina em contratos de construção de navios-sonda da Petrobras. De acordo com o Ministério Público, os pagamentos ilícitos teriam ocorrido entre 2012 e 2014, quando ele exercia mandato como deputado federal. A Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) anulou as condenações de Cunha em 2023, entendendo que a Justiça Federal do Paraná não era competente para julgar o caso.
Câmara ou Lumon?
A Câmara dos Deputados publicou vídeo em seu perfil oficial do TikTok comparando as suas instalações à sede da Lumon Industries, empresa da série Ruptura (Severance), da Apple TV+. Ruptura mostra funcionários que passam por um procedimento que divide as suas memórias: enquanto no trabalho, não lembram da vida pessoal, fora dali, não sabem o que fizeram no trabalho. O vídeo alcançou 7.583 curtidas até ontem, às 19h, dividindo opiniões. Alguns elogiaram a criatividade da postagem; outros acharam a comparação meio arriscada.
Minuto de silêncio
A deputada Leninha (PT), 1ª-vice-presidenta da Assembleia Legislativa, pediu um minuto de silêncio ao plenário da Casa, em homenagem a três mulheres assassinadas no Norte de Minas. Daiane de Andrade foi apedrejada até a morte em um estrada da zona rural do município de Coração de Jesus. Melissa Regina, do município de São Francisco, foi assassinada por seu companheiro, que depois levou o corpo da mulher ao hospital para simular que o casal tinha sofrido um assalto. Zélia Mariely foi assassinada a facadas dentro do supermercado em que trabalhava.
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Delegacias especializadas
Ao mesmo tempo em que lembrou que o trabalho da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, presidida pela deputada Ana Paula Siqueira (Rede), resultou na criação de uma vara judicial especializada em violência contra as mulheres em Montes Claros; Leninha cobrou que o estado crie delegacias especializadas em um número maior de municípios. “Nos 853 municípios de Minas, existem apenas 70 delegacias especializadas em atendimento às mulheres. E essas delegacias só funcionam em horário comercial e não aos finais de semana”, afirmou.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.