
Não é pelo batom, nem se trata do caso Dreyfus
Aspirante ao Palácio do Planalto, a situação política de Romeu Zema é bem mais desafiadora do que a de Mateus Simões
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Enquanto o vice-governador Mateus Simões (Novo), pré-candidato ao governo de Minas, reposiciona a sua presença na arena política e nas mídias digitais de forma propositiva, buscando atrair o eleitor de centro, o governador Romeu Zema (Novo), que em princípio mirou o antipetismo, agora, salta em direção ao bolsonarismo raiz.
Mateus Simões e Romeu Zema vivem momentos diferentes. Diante da indefinição da candidatura ao governo de Minas no campo da direita moderada, do centro político e da esquerda, Mateus Simões identifica na extrema direita o seu principal adversário. Observa o senador Cleitinho Azevedo (Republicanos), que, com um discurso que estimula a indignação, mescla narrativas bolsonaristas com teses popularescas e também teses populares. Mateus Simões identifica no centro político o principal e mais interessante nicho eleitoral a ser explorado pelo momento órfão.
Aspirante ao Palácio do Planalto, a situação política de Romeu Zema é bem mais desafiadora do que a de Mateus Simões. O governador tenta cavar um lugar cativo ao sol em espaço congestionado por quatro “presidenciáveis” à espreita do espólio do eleitorado da extrema direita, pela inelegibilidade de Jair Bolsonaro (PL). Zema está em desvantagem nessa corrida.
De seu pequeno partido, vê à sua frente Tarcísio de Freitas (Republicanos), Ratinho Júnior (PSD) e Ronaldo Caiado (União) – isso na hipótese pouco provável de que a posição de vice, em qualquer construção nesse campo, não venha carimbada com uma indicação de sobrenome Bolsonaro. Por isso mesmo Romeu Zema precisa se destacar. O antipetismo, em si, já não lhe basta. Partiu para o tudo ou nada. Dirige-se àquele nicho radicalizado, por vezes negacionista. Para lá Zema lança as suas apostas.
Em sua mais recente postagem, o governador acena aos presos e condenados pelo 8 de Janeiro – hoje a tese mais central do bolsonarismo. Faz comparações espúrias entre penas conferidas a condenados por estupro e tráfico de drogas – que são definidas pela Lei Penal, elaborada no Congresso Nacional – com a pena dada pelo ministro Alexandre de Moraes à cabelereira Débora Rodrigues dos Santos, flagrada em ato de vandalismo da escultura “A Justiça”, de Alfredo Ceschiatti, na Praça dos Três Poderes. Em campanha nas mídias digitais, a extrema direita vitimiza a “mãe de família”, que teria sido presa “apenas” por “ter passado batom em uma estátua”. Mas a discussão penal é bem mais complexa. Não se trata apenas de um batom em uma estátua, mas da progressão de atos, o caminho no envolvimento do crime de tentativa de desmonte do Estado Democrático de Direito.
Quando atacam as condenações até aqui proferidas pelos envolvidos nos atos, os defensores de Jair Bolsonaro miram a análise da denúncia da Procuradoria-Geral da República contra Jair Bolsonaro (PL), que será examinada nesta terça-feira (25/3) pelo STF. E ali está descrita a progressão de um crime, uma associação criminosa pactuada pelo desmonte do Estado Democrático de Direito, ideia que evoluiu ao longo de quatro anos de seu mandato e alcançou o ápice em atos de vandalismo que não alcançaram o desfecho desejado por seus planejadores. Ao fazer vistas grossas a tudo isso, Zema nega de antemão todo o conjunto probatório, sem sequer dirigir-lhe o benefício da dúvida.
Não parece um bom começo para quem deseja ser presidente da República – ou vice-presidente da República, até porque, como se viu, a cartilha bolsonarista está amarrada a um conjunto de “verdades”, em relação às quais todos são livres para decorar os enunciados, sem discordâncias. Entre eles estão ataques à ciência, às vacinas, às universidades, à história... tudo é reescrito e ressignificado: conceitos de liberdade, o golpe de 1964, as torturas de Estado... Dito isso, de nada custa lembrar: 8 de janeiro nada tem a ver com o histórico caso do capitão Alfred Dreyfus. Para delírios, há limites. Uma coisa é uma coisa; outra coisa é outra coisa.
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Ao pé do ouvido
Em viagem de estado ao Japão, o presidente Lula (PT) espera convencer o senador Rodrigo Pacheco (PSD), que integra a comitiva presidencial, a concorrer ao governo de Minas. Além de celebrar 130 anos das relações diplomáticas entre os dois países, o presidente busca parcerias tecnológicas e sustentáveis. Do Japão ao Vietnã, a incursão à Ásia tem forte caráter comercial com propósito de abrir novos mercados à carne bovina brasileira, além da intensificação das discussões por um acordo entre o Mercosul e o Japão e a venda de aeronaves da Embraer para os dois países.
Nada decidido
Aos mais descrentes em relação à disposição de Rodrigo Pacheco de se candidatar à sucessão de Romeu Zema, interlocutores do senador mantêm o banho-maria: ainda não decidiu, dá tempo ao tempo. Garantem que Rodrigo Pacheco preferiu não assumir um ministério neste governo para se reconectar às suas bases em Minas Gerais.
Livro
Em seu primeiro evento público no Brasil desde que deixou a presidência do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco lançará o livro “A reforma do Código Civil”, em 1º de abril, 19h30, no Salão Negro do Congresso Nacional. Pacheco organiza uma série de artigos sobre a atualização da Lei 10.406/2002. A introdução é do ministro Luís Felipe Salomão, do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Deu match
Depois da escalada de posts em defesa da “anistia” dos envolvidos na tentativa de golpe de estado, o governador Romeu Zema (Novo) vai ser convidado, pelo presidente estadual do PL, deputado federal Domingos Sávio, para a manifestação do dia 6 de abril na Avenida Paulista. Zema não participou do primeiro protesto.
Ato público
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Em manifestação nesta terça-feira (25/3), às 10h, à porta do Hospital Maria Amélia Lins, médicos, trabalhadores da saúde e usuários do SUS realizam ato contra o fechamento do hospital, que é referência no atendimento ortopédico em Minas Gerais. A manifestação chama a atenção para o fato de o fechamento do hospital não só prejudicar os pacientes que dependem dos serviços prestados, mas também comprometer a rede Fhemig, uma vez que a unidade de saúde é especializada nessa área e as demais instituições, como o Hospital João XXIII, não têm capacidade para absorver essa demanda.
Jantar pedetista
O líder do PDT na Câmara dos Deputados, Mário Heringer (MG), organiza nesta terça-feira (25/3) um jantar com a bancada e Ciro Gomes (PDT), candidato do PDT nas eleições presidenciais de 2018 e 2022. No cardápio, a análise de conjuntura.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.