Bertha Maakaroun
Bertha Maakaroun
Jornalista, pesquisadora e doutora em Ciência Política
OPINIÃO

As apostas de uma gestão que se inicia

"Sem Pacheco em 2026, estará à vontade para apoiar as candidaturas do campo político que lhe pareça mais promissor"

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Em sua primeira versão da composição de governo, o prefeito Álvaro Damião (União) fez escolhas que apontam para a perspectiva do que acredita ser a construção de governabilidade no legislativo municipal. Mas também são escolhas que indicam os caminhos que o grupo político do novo prefeito projeta neste momento para 2026. Dentro de uma leitura que vai se disseminando no meio político de que o senador Rodrigo Pacheco (PSD) dificilmente será candidato ao governo de Minas, Álvaro Damião vai se afastando do PT, PCdoB e do Psol. 

Essas legendas aliadas apoiaram a reeleição de Fuad Noman (PSD) no segundo turno e estiveram ao lado de Damião quando precisou marcar posição na disputa pela presidência da Câmara Municipal com a candidatura de Bruno Miranda (PDT), que concorreu contra Juliano Lopes (Podemos), ligado ao grupo do secretário de estado de Governo, Marcelo Aro (PP). 

 

Na primeira chamada para o novo governo, Álvaro Damião não convidou à mesa essas legendas. Deixa-as, para a segunda chamada, como forma de enfraquecê-las na cobrança de compromissos assumidos nos processos de disputa. O novo prefeito priorizou acomodar as indicações de partidos de centro, da direita e de vereadores do PL, que já estavam na base de Fuad Noman, mas que não necessariamente o apoiaram nas eleições municipais nem na disputa interna da Mesa Diretora do legislativo municipal. 

Adicionalmente, para cargos de primeiro escalão, Damião abriu espaço a Marcelo Aro (PP), que é candidato ao Senado Federal e estará nas eleições ao Palácio Tiradentes na chapa majoritária do vice-governador Mateus Simões (Novo). Com esses movimentos, Álvaro Damião vai demarcando território e dando indicações de que, sem Pacheco em 2026, estará à vontade para apoiar as candidaturas do campo político que lhe pareça mais promissor tanto na disputa ao governo de Minas quanto na disputa para a Presidência da República.

  

 Ao mesmo tempo, a Álvaro Damião não interessa demarcar de antemão ao presidente Lula (PT) que poderá não estar com ele em 2026. Como os partidos políticos de centro e da direita que integram a base do governo federal, aguarda ter mais clareza em relação às chances de reeleição do presidente. Álvaro Damião quer as obras. Mas não quer se comprometer. O governo Lula tem destinado longa lista de investimentos para a capital mineira. Em diálogo nos primeiros dias de dezembro com Fuad Noman no Palácio do Planalto, testemunhado por Álvaro Damião também presente, Lula reiterou a disposição de atender aos pleitos de Fuad, abrindo caminho para que se consolidasse como “o melhor prefeito da história de Belo Horizonte”. Fuad morreu. Os compromissos políticos entre ambos estão em suspenso. Resta saber se Lula manterá a mesma disposição, nesse novo contexto em que estaria reforçando um prefeito que poderá trabalhar contra ele em 2026.

Damião tem em Rodrigo Pacheco o fiador de sua indicação na chapa de Fuad Noman. Sem ele na corrida ao Palácio Tiradentes, ganham terreno as forças políticas e econômicas do estado que já marcaram presença na posse de Damião na Câmara Municipal. A maior parte delas tenderá ao projeto do campo político do governador Romeu Zema, seja ele ou não a cabeça da chapa, a menos que a reeleição de Lula se redesenhe como inequívoca. Nessa hipótese pouco provável, sendo a política como é, o próprio Rodrigo Pacheco poderia mudar de ideia. 

Pelo momento, Álvaro Damião vai cozinhando a esquerda. Ainda não atribuiu ao campo indicação alguma de primeiro escalão na gestão. Estuda entregar esta semana a Fundação Municipal de Cultura. Ao mesmo tempo, para garantir que sigam na base do governo, manterá os cargos comissionados de segundo e terceiro escalão que esses partidos de esquerda já ocupam na administração. Assim, esses partidos ficam amarrados: integram o governo; mas sem visibilidade. É menos do que foi entregue por exemplo, ao novo aliado Marcelo Aro, que vai reiterando a fama de lealdade aos membros de sua “família”, dos quais não larga mão nas más horas (o que dirá nas boas). Estreando em cargo de centralidade política, Damião dá sinais de que pretende traçar caminho diferente. A cada qual, o seu Rubicão. 

Walfrido, presente!

Diante da indefinição do senador Rodrigo Pacheco (PSD) em relação à disputa ao governo de Minas, cresce entre deputados do PT o movimento para que o empresário Walfrido Mares Guia seja uma alternativa na disputa. Amigo pessoal do presidente Lula, ex-vice-governador do estado, os parlamentares não têm dúvida: se houver convocação para que componha uma chapa ao governo de Minas, ele concorreria. Embora empresário de sucesso, Walfrido mantém a paixão pela política. Aos 82 anos, quem o acompanha garante: a saúde não é problema; sobram memória e energia, assim como a mãe dele que viveu 104 anos sem nunca ter deixado de tocar piano. 

Marília

Em frequência cada vez maior apontada como candidata do PT ao governo de Minas, a prefeita de Contagem, Marília Campos, segue negando a disposição de concorrer. “Meu mandato é de quatro anos”, afirma ela. Hoje, durante o pré-lançamento da candidatura de Edinho Silva à presidência do PT em Contagem, lideranças nacionais como Zé Dirceu seguirão tentando convencê-la. 

Falcão

Eleito para a presidência da Associação Mineira dos Municípios (AMM) numa acirrada disputa contra o ex-prefeito de Coronel Fabriciano, Marcos Vinicius Bizarro (sem partido), Luís Eduardo Falcão (Novo), prefeito de Patos de Minas, comentou com interlocutores que estuda a mudança de legenda. Anda aborrecido com o apoio hipotecado pelo governo Zema, e em particular, por Marcelo Aro, ao seu adversário. 

Na paz

Diferentemente do governo Fuad Noman (PSD), quando foi oposição, o Novo manterá relacionamento independente e propositivo com o governo Álvaro Damião (União). “Queremos que ele faça um excelente trabalho. O que o Novo puder somar, vamos somar”, diz o vereador Bráulio Lara (Novo). 

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Mineroduto

A Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Assembleia Legislativa irá nesta segunda-feira a Conceição do Mato Dentro debater os impactos socioambientais do projeto minerário Minas-Rio, da Anglo American. A reunião atende a requerimento da deputada Bella Gonçalves (Psol) e será na Câmara Municipal de Conceição do Mato Dentro. Promotores de Justiça da região já confirmaram presença, assim como representantes de várias comunidades. Com quase 530 quilômetros de extensão até o Porto de Açu, no Rio de Janeiro, o complexo do Sistema Minas-Rio tem o maior mineroduto do mundo: atravessa 32 municípios. As comunidades em Conceição do Mato Dentro e em Alvorada de Minas que estão na Zona de Autossalvamento (ZAS) da barragem de rejeitos firmaram acordo com a mineradora da ordem de R$ 900 milhões para reassentamento. Porém, alguns núcleos familiares ficaram de fora. O reassentamento total é condição determinada pela Justiça para liberar obras de alteamento da barragem de rejeitos.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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