A recente tragédia no Rio Grande do Sul é um lembrete doloroso da necessidade de soluções inovadoras para prevenir e responder às catástrofes naturais.

 

Um dos elementos essenciais para redução dos danos causados por esses eventos é a identificação de sua ocorrência o mais rápido possível. Na Noruega, uma ferramenta de inteligência artificial usa dados da administração pública para prever, com até sete dias de antecedência, quais inundações irão acontecer, quais vias ficarão intransitáveis, quais serviços públicos ficarão paralisados e para onde as pessoas devem se deslocar.


No Brasil, quando as estações meteorológicas emitem alertas, as defesas civis dos estados os encaminham via SMS para o celular das pessoas cadastradas. Mas, em Minas Gerais, que possui uma população de aproximadamente 21 milhões de pessoas, segundo dados do governo estadual, apenas 1,2 milhão estão cadastradas para receber esses sinais. O Reino Unido vivia situação semelhante e decidiu usar a tecnologia para resolver esse problema. Por lá, diante de uma possível emergência, o governo utiliza uma ferramenta que faz com que todos os celulares de uma determinada região toquem uma sirene em alto volume e exibam uma mensagem de alerta. O mais interessante é que os aparelhos tocam mesmo que estejam em modo silencioso.

 




Entretanto, mensagens de alerta não são suficientes. Experimentos científicos demonstram que diante de uma emergência as pessoas só farão algo se estiverem preparadas para isso e se o comando a ser seguido for claro e objetivo. Por isso, é tão importante que os poderes públicos busquem capacitar as pessoas no que fazer diante da emergência. No Japão, a realidade virtual é utilizada para esses treinamentos, evitando os simulados que normalmente apresentam baixa adesão. Nas Filipinas, o processo de educação para desastres conta com um jogo de celular, o Sakunwari, criado para ensinar ao mesmo tempo em que entretém os jovens.

 


A resposta imediata a desastres pode ser dividida em dois momentos: antes do problema começar e depois que ele está instalado. Quando o monitoramento consegue identificar o problema com dias de antecedência em relação à sua efetiva ocorrência, a primeira ação prevista no plano deve ser o deslocamento de pessoas e animais para abrigos ou zonas seguras.

 


Na Turquia, depois do terremoto de 2023, o governo percebeu que não dispunha de lugares suficientes para acomodar as pessoas desabrigadas e desalojadas. Aí nasceu a ideia de um abrigo flutuante dobrável chamado Fold and Float. Ele permite que até 15 pessoas fiquem seguras no caso de desastres naturais e pode acomodar inclusive pertences pessoais e móveis, permitindo uma sobrevivência relativamente confortável.


Outro aspecto importante da resposta imediata é a preservação de vias de escoamento abertas o máximo de tempo possível. Esses canais são utilizados para a movimentação de suprimentos e pessoas. Nos Estados Unidos, as autoridades têm aumentado esse tempo de disponibilidade usando muros infláveis que utilizam a própria água da inundação para crescer e barrar o avanço da enchente sobre rodovias, linhas férreas ou qualquer ambiente considerado essencial. Já o Japão, desenvolveu uma tecnologia chamada Takino Mats que funciona como um tapete que evita erosão e desmoronamentos de encostas. Ela também permite o enraizamento mais rápido de plantas que ajudam a segurar o solo e adicionam uma camada extra de proteção contra os deslizamentos.

 


O aspecto seguinte de um plano de resposta à emergência deve ser o resgate. Nesse sentido, as tecnologias variam muito dependendo do tipo de ação. Para desmoronamentos e soterramentos, o tempo é uma variável fundamental e, hoje, a solução mais utilizada são os cachorros especialmente treinados para identificar pessoas soterradas. A medida é eficaz, mas pode levar mais tempo. Nessa corrida contra o relógio, uma nova tecnologia desenvolvida nos EUA tornou-se uma grande aliada dos socorristas tanto no Haiti quanto na Turquia. O equipamento, chamado X3-Finder, usa um radar de microondas capaz de identificar em 30 segundos a batida de coração ou qualquer movimento muscular de uma pessoa soterrada em um raio de 60 metros.


Para o resgate em água, a tecnologia também vem dos EUA e se chama E.M.I.L.Y. Trata-se de um robô controlado por controle remoto que custa menos de R$ 50 mil e pode resgatar até quatro pessoas por vez. A robô também possui sonar instalado, o que ajuda a identificar pessoas afogando ou corpos no leito de rios.

 


A tecnologia jamais substituirá ou amenizará a responsabilidade humana diante de situações como as que estamos vendo no Rio Grande do Sul, mas pode, com sua capacidade de prever, alertar e salvar, ser uma força poderosa na luta contra os efeitos adversos dos desastres naturais.

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