A Islândia apresentou ao mundo a Mamute, 1 maior usina do mundo capaz de extrair CO2 da atmosfera e injetá-lo no subsolo em forma de material inerte. A usina fica a 700km da capital, Reykjavik, e tem capacidade de extrair até 36.000 toneladas de CO2 da atmosfera a um custo estimado em aproximadamente US$ 1.000 por tonelada.


Ela funciona da seguinte forma: uma enorme quantidade de ventiladores captam o ar e o enviam a um sistema de filtros que retiram o CO2 que, por sua vez, é capturado por bombas e levado a um tanque de purificação. Uma vez purificado, o gás é dissolvido em água e injetado a mais de 1.000 metros de profundidade. Quando essa água gaseificada entra em contato com o solo basáltico da região, o CO2 reage com o magnésio, o cálcio e o ferro contidos na rocha e cria pequenos cristais que se fixam à rocha. Esses cristais são estáveis e podem, portanto, armazenar CO2 por milhares de anos.

 




A solução chega em um momento em que o mundo bate recorde na emissão de CO23. Durante os 800 mil anos que antecederam a Revolução Industrial, a concentração de CO2 na atmosfera ficou abaixo de 280 partes por milhão (ppm). Hoje, a humanidade já atingiu incríveis 419,34ppm. O estoque desse gás presente na atmosfera já atinge 66,7% do limite projetado por cientistas para que a média da temperatura global não exceda 1,5°C e ainda estamos a seis anos do prazo previsto. Para que esse limite de temperatura seja respeitado, além de reduzir as emissões, a humanidade precisará retirar CO2 da atmosfera na ordem de 3,55 bilhões de toneladas por ano até 2030. Atualmente, estamos esbarrando em uma capacidade de sequestro de 2 bilhões de toneladas que oscila com os frequentes desmatamentos.


Infelizmente, apesar da urgência do desafio, ainda é comum vermos alguns negacionistas usarem a baixa representatividade do CO2 na atmosfera (0,04%) como argumento de que ele não poderia ser a causa das mudanças climáticas. Esse argumento não faz nenhum sentido, pois é exatamente porque o volume inicial é baixo que qualquer mudança interfere no equilíbrio de todo o sistema. Além disso, embora percentualmente pequeno, os atuais 0,04% já significam um crescimento equivalente a 1.6 trilhões de toneladas a mais do gás acumulado na atmosfera quando comparado ao período pré-industrial.

 


Por tudo isso, pensar em maneiras de retirar o CO2 da atmosfera é uma questão urgente. E há diversas maneiras de se fazer isso, sendo a mais comum e natural o reflorestamento. Uma pesquisa da USP demonstrou que, em média, são necessárias oito árvores da Mata Atlântica (com 20 anos de vida) para recompensar cada tonelada de CO2. Assim, para reduzirmos as 1,5 bilhão de toneladas extras necessárias hoje somente por esse meio natural, precisaríamos plantar quase 190 milhões de árvores ou 114 mil hectares. Mas as árvores demoram para crescer e apresentam capacidade limitada de extração no início dos seus ciclos de vida. Por isso, soluções como a proposta pela empresa Climeworks, na Islândia, podem ser muito úteis para ajudar no tratamento emergencial do problema.


Vale lembrar que a solução tecnológica não vem sem críticas, não resolve problemas como da perda de biodiversidade e apresenta custos substantivamente maiores do que as soluções naturais. Mas como dizia um velho amigo meu, em tempos de guerra, qualquer buraco é trincheira. A crise climática e ambiental é tão séria que nessa altura do campeonato não faz sentido escolher entre uma solução ou outra, é preciso aceitar e aproveitar tudo que ambas podem oferecer.

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