(Escrito em parceria com João Vitor Fonseca, mestre em Políticas Públicas pela Hertie School na Alemanha; conselheiro da Prevcom, professor convidado pela Fundação Dom Cabral)


 
O intemperismo de rochas é um processo natural cujo nome é pouco conhecido, mas seu funcionamento é tão facilmente percebido que gerou até um ditado popular: “Água mole em pedra dura tanto bate até que fura.” E esse furo, que demora milhares de anos para ser feito, é causado pela dissolução das rochas basálticas, processo físico-químico que consome CO2.


Mas como um processo que dura milhares de anos pode nos ajudar a resolver um problema que é urgente? A resposta também vem da química: ao aumentar a área de contato da pedra com a água, o processo de dissolução é acelerado e mais CO2 é capturado. E para aumentarmos essa área de contato basta moer a pedra, transformando-a em pó.

 




Para tornar a equação ainda mais atrativa, o pó de basalto possui uma grande variedade de micronutrientes, tais como cálcio, magnésio e potássio, que aumentam a fertilidade do solo. Além disso, ele também aumenta a capacidade de retenção de água; reduz erosões e perda de nutrientes; regula o pH e aumenta a capacidade de troca de cátions (CTC) -  capacidade do solo fornecer nutrientes às plantas -; melhora a resistência das plantas contra pragas e doenças, por ser rico em silício.

 

 

Mas nem tudo são flores, a necessidade de altas dosagens por hectare, o fato de precisar ser minerado e a baixa disponibilidade do material em diversas partes do país são pontos importantes a serem considerados. Principalmente se considerarmos que a mineração já é um dos grandes vilões do desenvolvimento sustentável do Brasil.


Do ponto de vista de captação de CO2, as pesquisas ainda estão em andamento, mas os primeiros números impressionam. Segundo um estudo publicado na revista Nature, se China, Índia, EUA e Brasil, os quatro maiores produtores de alimentos do mundo, utilizarem o intemperismo de rocha em suas agriculturas, seriam capturados até 2 bilhões de toneladas de CO2 por ano. Esse valor equivale à soma de tudo o que Japão e Alemanha emitem anualmente. Porém, alguns pesquisadores questionam esses números. Segundo eles, é complexo medir com precisão a quantidade de carbono sequestrado, pois fatores naturais como chuva, temperatura e as próprias plantas podem interferir.

 


Do ponto de vista do comércio internacional e da sustentabilidade da agricultura brasileira, a nova tecnologia apresenta aspectos interessantes. O Brasil importa, atualmente, até 97% do potássio que utiliza na agricultura e o intemperismo de rochas poderia substituir em grande parte o uso desse mineral, aliviando a balança comercial brasileira em cerca de US$ 25 bilhões. Além disso, a maior parte do potássio importado pelo Brasil (70%) vem da Rússia, país que continua em guerra com a vizinha Ucrânia, o que acaba aumentando os custos dos produtores brasileiros. A nova tecnologia pode aumentar significativamente a competitividade da agricultura do país, já que uma tonelada de um fertilizante mineral à base de potássio custa aproximadamente R$ 2 mil, enquanto o pó de rocha custa R$ 200.


Além disso, o Brasil apresenta condições excepcionais para a implementação em larga escala do intemperismo de rochas. Sua vasta extensão territorial, abundante em rochas ricas em minerais adequados, além do clima favorável, torna o país um candidato ideal para se tornar um grande produtor e utilizador do pó de basalto. Segundo a Embrapa, a nova tecnologia tem sido testada com sucesso e já foi aplicada em 5 milhões de hectares, o que representa 7,5% dos 66 milhões cultivados atualmente no Brasil.

 

Com novos investimentos em pesquisa e desenvolvimento, a implementação dessa técnica pode contribuir para a redução das emissões de gases de efeito estufa, aumentar a sustentabilidade da agricultura nacional e também sua competitividade no comércio internacional, contribuindo para a construção de um futuro mais sustentável.

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