A interseção entre Inteligência Artificial (IA) e educação promete transformar o cenário educacional, que evoluiu pouco desde os seus primórdios na Mesopotâmia, por volta de 3500 a.C.
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No início de 2024, percebendo o potencial transformacional da IA na educação, o Fórum Econômico Mundial publicou o relatório “Moldando o Futuro do Aprendizado: o papel da IA na Educação 4.0”, onde identificou quatro aspectos que podem ser aprimorados pela Inteligência Artificial de modo a contribuir para a melhoria do aprendizado.
O primeiro aspecto é a automação de processos administrativos obrigatórios. A rotina dos professores vai muito além daquilo que eles vivem em sala de aula. Eles desempenham diversos papéis administrativos, como: (i) manter registros de frequência, notas e avaliações; (ii) participar de reuniões de equipe, conselhos escolares e comitês; e (iii) integrar conselhos escolares. Nesses casos, a IA pode ajudar automatizando tarefas como a transcrição de reuniões, geração de atas e relatórios, a realização de registros, o envio de notificações aos pais, o agendamento de reuniões de acompanhamento, entre
outros.
O segundo aspecto é o aprimoramento da avaliação e o suporte à tomada de decisão. Hoje, a maioria dos alunos são avaliados com testes padronizados e a IA pode analisar os dados de performance desses estudantes para determinar se o sistema educacional está sendo efetivo do ponto de vista de transmissão de conteúdo. Mas também pode ir além. Os testes padronizados nem sempre são capazes de avaliar aspectos importantes do processo educacional. Nesse sentido, a IA pode auxiliar na construção de sistemas de avaliação mais integrativos, incluindo na avaliação ensaios, projetos, simulações e jogos que estabelecem mecanismos de feedback regular, são mais completos, envolventes e agradáveis.
O terceiro aspecto é o suporte à alfabetização digital. Uma das grandes preocupações trazidas pelas revoluções tecnológicas é que ela acabe aumentando a desigualdade social, criando um grupo de pessoas excluídas digitalmente. Para evitar esse efeito, é fundamental que a alfabetização digital seja intensificada. A alfabetização digital vai além da mera capacidade de usar ferramentas e plataformas digitais; ela também engloba o pensamento crítico, a resolução de problemas, a criatividade e a conscientização das implicações éticas da IA. Nesse sentido, a Inteligência Artificial pode auxiliar na capacitação dos alunos de modo que eles sejam capazes de reconhecer a desinformação e incorporar habilidades básicas de cibersegurança. Já existem recursos para ensinar sobre IA, como o "Hands-on AI Projects for the Classroom" da International Society for Technology in Education (ISTE), que inclui projetos específicos que ensinam conceitos como viés inconsciente, coleta de dados ativa versus passiva e termos como algoritmo de aprendizado de máquina e marketing direcionado.
O quarto e último aspecto é a personalização do aprendizado. Estudos mostram que a combinação de tutoria individualizada com testes regulares e feedback leva a um desempenho dos alunos cerca de 98% acima daqueles que só receberam instrução padrão em sala de aula. No entanto, escalar a metodologia de tutoria individualizada é caro e não funciona na maioria dos países devido à escassez de professores ou baixa renda das famílias.
Um estudo conduzido entre 2007 e 2020 constatou que a aprendizagem personalizada com suporte tecnológico teve um efeito positivo significativo nos resultados de aprendizagem. A IA pode melhorar ainda mais essa situação com sua capacidade de analisar e aprender com grandes conjuntos de dados. Isso permite personalizar a um custo muito baixo a oferta de trilhas de aprendizagem, conteúdos, experiências, feedbacks. Essa personalização estaria mais alinhada com o ritmo, as fragilidades, os potenciais, o estilo de
aprendizagem e o comportamento do aluno.
Isso não significa, entretanto, que a IA substituirá os professores. Pesquisas demonstram que, atualmente, a Inteligência Artificial é muito mais potente como ferramenta de suporte, principalmente na otimização de tarefas administrativas e pedagógicas de base, liberando tempo para que os professores tenham interações mais significativas com os alunos e possam se desenvolver melhor para oferecer experiências de aprendizado mais eficazes e personalizadas.
Por fim, é importante ressaltar que a promessa da IA na educação é estimulante, mas seu verdadeiro potencial só será alcançado por meio da adoção responsável e informada, garantindo acesso de qualidade a todos. Isso não depende apenas das escolas, mas também dos professores, dos alunos, dos pais, das instituições da sociedade civil e por fim, do governo.