Quando o telefone tocou e vi que era a Lu, me deu uma súbita onda de energia positiva. Fazia meses que não falava com ela, mas lembrava de cada um dos momentos vividos naquele nosso primeiro trabalho. Ao dizer “alô”, entretanto, a onda de energia positiva se foi com a mesma velocidade que veio a de tristeza.

 

Do outro lado nem o alô saiu. De súbito, quase que se desfazendo da pouca energia que lhe restava ela disse:

 

- Amigo, eu vou morrer. Já é terminal!

 

 



 

Nem sei quanto tempo fiquei parado. Inicialmente achei que não tinha entendido direito, depois achei que a tristeza tinha me ensurdecido e, em seguida, bateu um certo desespero misturado com indignação.

 

- Como assim, morrer? Foi tudo o que eu consegui responder.

 

Na minha cabeça aquilo não fazia o menor sentido, ela sempre tinha sido tão cheia de vida e de sonhos, como que agora iria morrer, assim? Do nada? Ela não conseguia dizer mais nada e eu não sabia o que falar. Com muito esforço disse apenas:

 

- Estou indo para aí.

 

Desliguei o telefone e me joguei no sofá sem saber o que fazer. Será que ela havia sumido por causa de um tratamento? Por que não falou antes? O que eu ia dizer para ela? Como eu podia ajudar? De repente uma avalanche de perguntas invadiu minha cabeça e me desnorteou. Mas não demorou muito. Eu comecei a focar em uma única tarefa: eu precisava ajudar a Lu.

 

Corri para frente do computador e fui pesquisar tratamentos de câncer. Depois me toquei que eu nem sabia se ela estava mesmo com câncer. Mas o que podia ser em uma pessoa tão jovem? Me convenci de que era mesmo câncer e vasculhei a internet, procurando alternativas. Até que me deparei com um caso de um senhor chamado Paulo Peregrino, que lutava contra um câncer há 13 anos e estava em fase terminal, até que descobriu uma tal célula T.

 

 

Aquilo me encheu de esperança. Fui pesquisar mais a respeito. Descobri que a técnica já é uma realidade para cânceres hematológicos, aqueles que se originam no sangue e na medula. Mas isso não era suficiente, eu precisava entender mais a fundo a terapia com células CAR-T. E saí pesquisando alguns estudos publicados.

 

O tratamento é relativamente simples para o paciente. Primeiro, os médicos coletam suas células Linfócito-T, aquelas que compõem o exército de defesa do corpo. Em seguida, um laboratório especializado faz uma alteração no DNA da célula adicionando o Receptor de Antígeno Quimérico (CAR, na sigla em inglês). Essa alteração faz com que as células modificadas, ao serem reintroduzidas no paciente, identifiquem e combatam as células cancerígenas. Essa reação do organismo é bastante forte, e por isso o tratamento precisa ser feito em hospital para que as reações possam ser controladas.

 

Até aqui não tem muita novidade, essa tecnologia está sendo estudada no mundo inteiro pelo menos desde 2010, então seu desconhecimento era uma ignorância minha. Embora animado para conversar com a Lu, uma coisa ainda me preocupava.

 

Quanto isso tudo custa?

 

Continuando as pesquisas descobri que, embora simples para o paciente, o método é complexo do ponto de vista industrial e científico e isso faz com que a terapia precise ser individualizada e tenha custo estimado em mais de R$ 2,5 milhões. De onde tiraríamos tanto dinheiro?

 

O balde de água fria passou quando eu vi que a USP e o Butantan desenvolveram tecnologia própria que pode tornar o tratamento CAR-T muito mais barato (cerca de 5% do custo original), realizado diretamente no Brasil e que novas pesquisas estão apontando para uma segunda geração do tratamento chamada CAR-NK, que permitiria a produção de um remédio universal e poderia ter custo de produção muito menor que o CAR-T.

 

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Eu já tinha o que precisava para conversar com a Lu. Peguei o carro e no caminho preparava o discurso:

 

- A terapia genética Cart-T Cell é considerada revolucionária no tratamento contra o câncer no mundo. Ela já tem eficácia comprovada para câncer sanguíneo e alguns estudos já comprovaram sua eficácia em tumores sólidos. O custo ainda é alto e a participação nas pesquisas não é tão simples. Mas há um caminho, podemos ter esperança e vamos fazer o possível e impossível para te tirar dessa.

 

Quando cheguei na casa da Lu, o ensaio de nada valeu. Só consegui abraçá-la e chorar junto com ela. Então decidi escrever esse artigo para explicar aquilo que pessoalmente foi impossível. Acredito que assim possa ajudar a Lu e há muitas outras famílias que estejam passando por esse pesadelo.

 

Acredite, vai dar certo! Lutemos!

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