Participantes ouvem discursos durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP29) em Baku -  (crédito: Alexander NEMENOV / AFP)

Participantes ouvem discursos durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP29) em Baku

crédito: Alexander NEMENOV / AFP

Ontem e hoje os negociadores da COP não chegaram a nenhuma conclusão que poderíamos considerar relevante. Mas participei de alguns momentos que somados levam a um ponto importante sobre o qual refletir.

 

Siga nosso canal no WhatsApp e receba em primeira mão notícias relevantes para o seu dia

 

O primeiro foi uma reunião do grupo de desenvolvimento de capacidades institucionais. Um tema que nós temos especial interesse na Fundação Dom Cabral, pois está na base da geração de valor público.

 

 

O grupo foi claro e taxativo: não há combate a mudanças climáticas sem que países, estados e municípios capacitem seus servidores em gestão. A questão climática impõe uma série de desafios complexos e interconectados que se não forem tratados de maneira muito bem estruturada levarão a um cenário de ampliação das perdas humanas.

 

 

O segundo momento foi um painel sobre descarbonização no Hub da Amazônia. Nesse painel duas falas me chamaram especial atenção.

 

A primeira, da ex-ministra Izabella Teixeira, ressaltou como a visão do papel da iniciativa privada na questão climática está equivocada. Segundo ela, é preciso pensar o papel político da iniciativa privada, sem reduzi-lo a quem paga a conta; é preciso pensar dentro de um ambiente geopolítico de insegurança, de competitividade, de inovação, de mercado, de comércio internacional. A interlocução atual é assimétrica e extemporânea. Isso gera um distanciamento do setor privado em relação à questão climática. Para evitar esse distanciamento, faz-se necessária a criação de uma relação que também beneficie a iniciativa privada, que entenda a importância do lucro. É preciso pensar todo o ciclo e não apenas transferir o ônus para o setor privado.

 

 

Outra fala dura e forte foi do Secretário-Executivo do Consórcio da Amazônia e potencial High Level Champion da COP30, Marcello Brito, que destacou a necessidade de se abandonar a atual visão dogmática adotada no Brasil em prol de uma visão pragmática que de fato gere riqueza. Ele destaca a grande quantidade de potenciais que o Brasil tem na questão climática e a absurda dificuldade que temos em transformar esses potenciais em uma realidade que de fato gere desenvolvimento. Ele chama atenção para a necessidade de se reformar as relações da sociedade: governo-setor privado-sociedade civil; e ressalta a ineficiência da máquina pública em especial das normas burocráticas e pouco focadas em resultados adotadas por diversas instituições públicas brasileiras.

 

Se pudéssemos resumir o que esses momentos trazem de ensinamento seria: sem gestão e governança públicas não há como combater a mudança climática ou desenvolvimento. Acho que vale a pena refletirmos sobre isso, pois muitas vezes queremos fazer a parte difícil sem termos cuidado de verdade daquilo que é fácil.