Em Minas, as montanhas escondem montanhas. As mais próximas ficam verdes e as mais distantes cinzas. Formam um volume de sombras quase infinitas. Mistérios das entranhas Gerais.
Somos a síntese e o caminho do meio de um país. Cortados por estradas traiçoeiras e mortais, abraçamos nosso passado e destino inconfidente-revolucionário. Somos mineiros e acima de tudo, brasileiros de todos os cantos do mundo.
Minas alberga gente que chegou e não chegou onde queria. A história passa por Minas, assim como, eleições, doenças e alegria congada.
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Espigões brotam por todos os lados de nossos belos horizontes. Quanto mais alta a montanha, mais alto o prédio que sobe em suas encostas. Falta vista e chão para todos.
Quanto mais distante querem os olhos alcançar, menos se enxerga o próprio umbigo e a sujeira que nele se esconde. Que estranha a necessidade do homem de mirar a paisagem e não se perceber vivendo.
Aglomerados aos milhões em espaços urbanos cada vez mais adensados, complexos e socialmente injustos, rezamos em igrejas barrocas e galpões de periferia. Fugindo de balas perdidas e mosquitos, ficamos distantes do futuro que sonhamos.
Curioso o fato de identificarmos culpados pelos nossos pesadelos nas pedras que plantamos pelo caminho. Invadimos as matas, fazemos lenha e fogo do que nos dá oxigênio e reclamamos do calor infernal. Inventamos o ar-condicionado e descobrimos a rinite.
Poluímos nossas águas e pagamos caro pela matriz da qual somos constituídos em mais de 70%. Tente comprar um copo d'água e verá o preço que se paga pela nossa essência. Sujamos o planeta e tercerizamos a limpeza para nossos filhos.
Enchemos nosso Jardim do Éden de lixo e queremos colher suculentas maçãs vermelhas, repletas de desejos obscenos. Quaresma exige reflexão, mesmo de ateus.
É fácil achar culpados: O mosquito, o vírus, o marginal que fugiu pelo teto do presídio de máxima insegurança e comunistas a espreitar nossas igrejas com altares de ouro. Todos nos assustam, exceto nosso espelho narcisista desfigurado.
Não investimos em educação, não temos ciência e culpamos os mosquitos, o vírus e bandidos pela sujeira debaixo do tapete. Injustiça social tem nome e sobrenome, assim como, consequências.
A cada quatro anos temos a chance de mudar nosso destino e não o fazemos. Pior, colocamos em risco até mesmo a possibilidade de decidirmos nosso futuro. Ao acenarmos com simpatia para candidatos a ditadores, abrimos mão de sermos donos de horizontes que nossos olhos têm o direito de enxergar. É por essa janela que entram pernilongos e pesadelos a perturbar nosso sono.
Filhotes de ditadores de aqui e acolá, há alguns dias atrás, fizeram estardalhaço nas redes sociais dispensando a vacina contra Covid-19 para matrícula escolar. Claro jogo de cena politiqueiro e antipedagógico, lesivo aos interesses coletivos de Saúde Pública.
Felizmente, o ministro Cristiano Zanin, do STF, derrubou essa semana os decretos negacionistas com argumentos óbvios e consistentes: “É importante ressaltar que não se trata de uma questão eminentemente individual, que estaria afeta à decisão de cada unidade familiar, mas sim de dever geral de proteção que cabe a todos, especialmente ao Estado. Assim, o direito assegurado a todos os brasileiros e brasileiras de conviver num ambiente sanitariamente seguro sobrepõe-se a eventuais pretensões individuais de não se vacinar”.
Hipócrates já dizia: “Antes de curar alguém, pergunte se ele está disposto a desistir das coisas que o deixam doente”. Nesse caso a pergunta é: “Quem de fato nos adoece enquanto sociedade?!”.
Se a sua resposta foi o mosquito, estamos definitivamente perdidos.