Os recentes protestos de estudantes nos Estados Unidos e em várias partes do mundo justificam essa visão otimista -  (crédito: CHARLY TRIBALLEAU / AFP)

Os recentes protestos de estudantes nos Estados Unidos e em várias partes do mundo justificam essa visão otimista

crédito: CHARLY TRIBALLEAU / AFP

Quando vejo estudantes protestando contra injustiças que acometem populações há milhares de quilômetros do conforto dos seus lares, essa conclusão é óbvia para mim: o mundo tem jeito. A palavra jeito vem do latim “jactus”, que significa ação de jogar, ou arremessar. A irreverência da juventude nos catapulta para frente. Quer nós queiramos ou não.

Os recentes protestos de estudantes nos Estados Unidos e em várias partes do mundo justificam essa visão otimista.

 

 

Sensibilidade e engajamento em defesa da vida impulsionam mudanças sociais necessárias e urgentes. Vimos isso no passado e no presente. É preciso sentir a dor alheia onde quer que ela esteja. É preciso agir. Quem tem vida pela frente e sangue correndo nas veias tem fome de justiça.

 

A consciência social jovem projeta a perspectiva de um mundo melhor pela frente. Não sem luta, sem cicatrizes no corpo, sem ficha nos arquivos repressores, sem olhares vagos e indiferentes para a banalidade do bem. A dor é pedagógica e parte da história da formação do caráter de cada um.

 

“Eu sou o caminho, a verdade e a vida.” Adolescentes revolucionários sempre marcaram a história da humanidade com sua prepotência juvenil, qualidade necessária à transformação do mundo. É preciso desafiar profetas e deuses de barro para ter o paraíso como meta terrena. Nossos passos, nosso destino.

 

Para chegar lá, enfrentam “os perigos da esquina”. “Gente jovem reunida” faz barulho para acordar velhos que fazem guerras e matam crianças, pais, mães e futuro.

 

Jovens protestando contra financiadores hipócritas das guerras, escondidos por trás de dividendos milionários, reafirmam que “viver é melhor que sonhar”. Como é bom ver água fresca lavando e derretendo o vil metal.

 

Ideias ao vento, cabelos cobertos por lenços coloridos nos dizem que “qualquer canto é menor que a vida de qualquer pessoa”. Na minha memória ainda está fresca a lembrança dos dias de chumbo que enfrentamos. Bolas de gude no bodoque e cobrindo o chão de asfalto quente e áspero. Cavalos e cacetetes pelos ares e o coração a mil. O gás lacrimogêneo ainda me enche os olhos de lágrimas do que vi e vivi. A dor do cacete nas costas eu nunca esqueci, mas é dela que mais me orgulho.

 

O sinal estará sempre fechado para o futuro, quando a ganância dos extremos nos impõe velhas verdades e a espada como solução. O caminho do meio é um labirinto que precisa ser visto de cima e nu.

 

“Vejo vir vindo o cheiro de uma nova estação “, mesmo que eu não a desfrute por inteiro, ela me cheira amor, flor e filhos.

 

“Apesar de termos feito tudo que fizemos” já não conseguimos ver o que “o novo sempre verá”. Aparências não enganam, “somos os mesmos e vivemos”. Não tenho ídolos.

 

“Minha dor é perceber” que homens continuam matando em nome de Deus, Allah, Javé etc. Certamente, esse não é o caminho da verdade, muito menos da vida.

 

Não é preciso amar o passado para ver “que o jovem sempre vem” e o tempo sempre vence. Rendam-se, “eles venceram”. O mundo tem jeito. Beber é melhor que sonhar.

 

* Esse texto é para a Sophia, minha linda que completou 15 anos nesse 5/5.