Aprendi nas aulas de catecismo, ainda menino, que mentir é pecado. Apesar de não estar explícito nos Dez Mandamentos, a mentira gera desonra (Quarto Mandamento), pode gerar mortes (Quinto Mandamento), e faltar com a verdade é roubar (Sétimo Mandamento).
Com o tempo, aprendi que omitir para não se prejudicar é aceitável, pelo menos do ponto de vista jurídico. O silêncio, às vezes, é precioso. Também aprendi, ao frequentar a casa de amigos em Ibiá, que “na minha casa valia as regras dos meus pais. Na casa deles, as regras dos pais deles”. Assim, levei esses princípios para a minha vida toda.
Pois bem, parece que o senhor Musk não fez catecismo, nem teve alguém para orientar-lhe sobre boas maneiras. Deve ter sido o menino dono da bola – “se eu não jogar, não tem bola nem jogo”.
Provavelmente, deve ter sido daqueles que chegava na casa do coleguinha, abria a geladeira, pegava o último iogurte, tomava e ainda arrotava alto sem qualquer cerimônia. Isso, quando não usava o banheiro de porta aberta.
Pois bem, o menino cresceu, virou um megamilionário e agora acha que pode fazer XiXi no mundo de porta aberta. Aqui não, disse Moraes!! Aqui a bola é nossa! Se quiser jogar no nosso quintal, jogue dentro das quatro linhas. O seu amigo Messias não te ensinou?! Nossa casa, nossas regras!
Mentir sobre vacinas, fraudar eleições, acobertar bandidos e atentar contra a democracia não faz parte das regras do jogo por aqui. Se quiser vender seus princípios e fazer XiXi de porta aberta no universo, que o faça bem longe do sistema solar. Sugiro a “Galáxia dos Mil Rubis “, certamente agregarão muito à sua fortuna telescópica.
Esse episódio ultrapassa os limites básicos de civilidade que deveríamos aprender na infância. Respeitar princípios e leis democraticamente estabelecidas é básico dentro de uma sociedade civilizada. Afinal, mesmo com todos os nossos problemas sociais e distorções relacionadas à distribuição de riqueza, somos a oitava economia do mundo.
O X da questão e que incomoda tanto o Sr. Musk é certamente esse: “Como um país de bananas não se curvou aos meus pés?!”. Alegar falta de liberdade de imprensa não vale. Afinal, imprensa livre não significa imprensa sem princípios éticos e morais.
A humanidade deve ter mecanismos que a protejam de indivíduos que se colocam como Messias e donos do mundo. A trajetória de Hitler, Mussolini, Napoleão nos mostrou muito bem e torna muito óbvio as consequências nefastas para uma sociedade de indivíduos com esse tipo de perfil psíquico.
Inteligência, habilidade para negócios e capacidade de acumulação de riqueza nada tem a ver com maturidade psíquica. As pessoas podem ser altamente capazes de resolver problemas técnicos complexos, mas não saberem ser minimamente respeitosas com terceiros.
A forma de atuar do indivíduo em um determinado ambiente e, em grande parte, função de seu psiquismo, independentemente das informações técnicas que tenha recebido. O psiquismo individual e coletivo, por sua vez, e regido basicamente pelas leis gerais da harmonização.
No caso do ser humano, o componente básico do todo harmônico e o campo vivencial que pode ser entendido como as possibilidades evolutivas do indivíduo, desde a vida instintiva e a inconsciência ate o viver racional, inteligente e consciente. A atuação adequada do indivíduo exige níveis de consciência e de moralidade que só ocorrem no plano da liberdade.
Os outros componentes do todo harmônico são: percepção, emoção, inteligência, consciência, moralidade, sexualidade e religiosidade.
A personalidade e a expressão global do psiquismo, integrando todos os seus componentes em cada momento do existir. Cada componente do todo harmônico e regido por uma lei particular. No caso do grupo humano, os componentes do todo harmônico são os seus membros, os seres humanos que o constituem.
Dessa forma, é fundamental entendermos a psicopatologia dos atores que nos cercam no dia a dia para não adoecermos junto com eles. A doença psiquiátrica é certamente uma das “doenças transmissíveis” mais complexas e perigosas que a humanidade tem pela frente. Enxergar a loucura no comportamento humano e preveni-la faz parte do nosso trabalho como profissionais de saúde.
O processo pedagógico para mudar uma conduta de forma consistente e duradoura, exige o entendimento de que o ser humano não é perfeito e sempre terá possibilidade de evoluir. Até mesmo o Sr. Musk. Nesse sentido, educar será sempre, e em última instância, um diálogo sobre o amor, mesmo que com a força da lei.