Hoje é aniversário do meu pai. Se estivesse vivo, completaria 112 anos.  Seria o homem mais velho do planeta, superado apenas pela espanhola Maria Branyas Morera, que celebrou recentemente o seu 117º aniversário.


Fez muita falta para mim! Quando partiu, eu tinha apenas 15 anos. Neste breve período em que estivemos juntos, me ensinou coisas fundamentais nessa vida: amor pelos livros, pela música, poesia, medicina e xadrez. Nunca foi um bom jogador. Levou xeque-mate da morte muito cedo. Mas deixou impregnado em mim mais do que o seu DNA: amor, puro amor.


 

Aprendi com ele a importante arte de andar de bicicleta. Mas, principalmente, cair, limpar os ralados, engolir o choro, levantar e seguir adiante. Envelhecer é o novo normal. Morrer cedo é que ficou velho. Aos 67 anos, sucumbiu consumido pelo enfisema pulmonar e várias outras complicações relacionadas ao tabagismo pesado. Nada mais velho que fumar, mesmo que seja o novo cigarro eletrônico. 


Estudos científicos com novas e bem embasadas evidências demonstraram que o cigarro eletrônico aumenta o risco de infarto agudo do miocárdio e de doenças respiratórias e pulmonares, como a asma. Além disso, tem em sua composição substâncias reconhecidamente cancerígenas.


 

Minha querida amiga, Dra. Margareth Dalcolmo, é quem diz: “Os cigarros eletrônicos são uma criação diabólica do homem”. A Anvisa, com a sua tradicional responsabilidade ética, social e científica, manteve a proibição da comercialização e venda dessa droga no país. Mesmo contra o velho lobby da indústria do tabaco, típico do novo-velho jeito de “passar a boiada”.




O velho e o novo se digladiam ao longo da história da humanidade desde sempre. A busca pela verdade e o sentido da vida e questões como "Qual é o sentido da vida?" ou "O que é a verdade?" são antigas, remontando a Sócrates, Platão e Aristóteles, mas continuam sendo relevantes. A experiência humana se transforma, mas a busca por compreensão e significado persiste, mostrando-se sempre nova em cada contexto cultural e individual. 


Por outro lado, existe o que parece novo, mas é mais velho que a nossa violentada Serra do Curral. As tecnologias modernas e a alienação humana. A internet e as redes sociais, podem parecer algo novo, mas as questões que suscitam — como a alienação, o isolamento e a perda de conexão com a natureza e com outras pessoas — são antigas. Filósofos como Marx, Heidegger e Rousseau já abordaram a alienação sob outras formas, seja no trabalho ou na relação com a natureza. A forma muda, mas a essência da experiência humana de alienação e desconexão se mantém, fazendo do "novo" algo "velho".


Na filosofia e na cultura, há vários símbolos que representam o que é velho, mas permanecem novos, pois eles carregam significados que se renovam continuamente em diferentes contextos. Um dos símbolos mais clássicos do "velho que permanece novo", na mitologia, a Fênix é um pássaro que morre em chamas e renasce das próprias cinzas. Representa a ideia de renovação e ressurreição, sugerindo que, mesmo após a destruição ou o fim, algo pode surgir renovado.


O livro, como símbolo de conhecimento e sabedoria, é um objeto antigo, mas sua capacidade de transmitir ideias e provocar reflexões sempre se renova. Cada leitura é uma experiência nova, independentemente da antiguidade do texto, como é o caso de obras filosóficas clássicas que continuam a ser interpretadas e reinterpretadas ao longo do tempo.


Por outro lado, existem coisas que parecem novas, mas em sua essência são velhas O chip, que simboliza a era da tecnologia digital, inteligência artificial e conectividade global, pode parecer moderno, mas sua essência filosófica remonta a antigos questionamentos sobre o poder do conhecimento, a mente e a criação de artefatos humanos. Desde a filosofia de Aristóteles até Descartes, sempre houve reflexões sobre a natureza da mente, da inteligência e da criação de "réplicas" de processos humanos, conceitos agora renovados na forma de IA e máquinas inteligentes.


Descoberto no século 20 como a base molecular da vida, o DNA é um símbolo moderno da biologia e da genética, mas sua essência filosófica toca antigos debates sobre a natureza da vida, a origem do ser e a identidade. Desde os pré-socráticos, questões sobre o que constitui a vida e o ser humano já eram discutidas, e o DNA, mesmo como um símbolo novo, representa essa velha busca por compreender a essência da existência.


O velho-novo e o novo-velho fizeram um embate democrático histórico nas eleições deste último final de semana, em Belo Horizonte. Poderíamos definir como a disputa entre o suspensório e o cinto.  Ganhou o suspensório! O suspensório é um ótimo exemplo de um item do vestuário que, embora seja antigo, pode ser considerado novo em diferentes contextos. Historicamente, os suspensórios surgiram no século 18 como uma solução prática para segurar as calças, e eram amplamente utilizados até meados do século 20, quando foram substituídos pelos cintos. No entanto, mesmo sendo um acessório antigo, os suspensórios podem ser novos em diversos sentidos. Frequentemente reinventado na moda moderna, ele se tornou um símbolo de estilo vintage e retrô, usado não apenas por necessidade prática, mas também como uma declaração de moda. Marcas e designers criam versões atualizadas, com novos materiais e estilos, renovando seu uso. Certamente, não faltará à moda mineira criatividade para vender o estilo pessoal do nosso velho-novo para o restante do país.


O velho-novo mostrou currículo de administrador, história na vida pública, coerência, sensatez, educação e resiliência. Superou um momento dos mais complexos para qualquer mortal: a doença.  Em plena campanha eleitoral, confiou na ciência e submeteu-se a um tratamento quimioterápico, que debilita qualquer jovem de 20 anos. Com a coerência de seu suspensório, manteve as calças acima do umbigo e foi vitorioso. Parabéns, Belo Horizonte! Mais uma vez, deu demonstração de que sabe separar o cinto do suspensório. O novo-velho do velho-novo. O novo é o que se mantém em movimento, mesmo contra a lógica imposta pelo tempo.

 

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