Ainda hoje, centenas de pessoas morrem todos os dias no Brasil por doenças evitáveis por vacinas e tratáveis em suas fases iniciais com antivirais e antibióticos. Apenas pela COVID-19 morrem cerca de 300 pessoas por semana, por uma doença para a qual temos vacina e antiviral gratuito pelo SUS - ou seja, o equivalente à queda de quatro jatos do tipo Boeing 777-300 por mês vem ocorrendo e as pessoas continuam viajando normalmente, como se nada estivesse acontecendo. 


Há quatro anos, estávamos aflitos por uma vacina e tratamentos para uma doença que paralisou nossas vidas e o mundo. Parece que foi um sonho ruim, do qual acordamos e nos apressamos por esquecer. Na última semana, fui acionado por parentes, amigos e pacientes para atendê-los com COVID-19. Praticamente todos com vacinas atrasadas e ainda confiantes nas três doses tomadas no princípio da pandemia.

 

 

Ninguém havia contado a elas que o vírus mutou, as vacinas mudaram e seus anticorpos neutralizantes contra o vírus haviam caído a níveis críticos cerca de seis meses após a última dose.


 

Nenhuma delas sabia da disponibilidade de tratamento, altamente efetivo para reduzir o risco de morte pela doença quando administrado nos cinco primeiros dias após o início dos sintomas.




 

Mais preocupado ainda fiquei ao chegar em um hospital de ponta para avaliar um paciente crítico em terapia intensiva e a colega intensivista não saber da existência do mesmo medicamento que poderia ter evitado que o paciente lá estivesse. Da mesma forma, desconhecia as opções terapêuticas para pacientes que chegam nos hospitais com insuficiência respiratória por COVID-19. Certamente não adiantaria muito saber, pois a burocracia imposta pelas operadoras de plano de saúde para liberar os mesmos ultrapassaria o período em que eles seriam efetivos.


Essa é a realidade distópica que vivemos: quando nada tínhamos para tratar a doença, rezávamos para ter. Quando temos, ignoramos.


Foi assim que resolvi divulgar num dos meus grupos de whatsapp que participo, algumas vacinas básicas que pacientes acima de 60 anos devem tomar. Pela repercussão positiva, reproduzo aqui:


Resumindo:

Influenza: uma vez por ano; COVID-19: uma vez por ano; vírus sincicial  respiratório (VRS) - uma vez por ano; vacina contra herpes zoster: duas doses com intervalo de dois meses entre as doses; DPT: uma dose a cada 10 anos; pneumo 13 ou 15 ou 20: uma dose; pneumo 23: seis meses após a pneumo 13 ou 15 ou 20: repetir a cada cinco anos. Recomendo consulta ao site da Sociedade Brasileira de Imunização (Sbim) ou do Programa Nacional de Imunizações (PNI).


Caso tenham sintomas gripais, não se esqueçam de fazer teste para COVID e Influenza logo no início dos sintomas. Ambas têm tratamento eficaz nos cinco primeiros dias. Questionem seus médicos sobre a possibilidade de tomar um medicamento disponibilizado gratuitamente pelo SUS. Se ele não souber de qual medicamento você está falando e principalmente te oferecer cloroquina ou ivermectina, mude imediatamente de médico.


Enquanto a população fica a ver navios, vacinas e medicamentos perdem nas unidades de saúde. Há poucos dias, meu colega e brilhante epidemiologista Wanderson Kleber Oliveira fez um resumo dos motivos pelo qual as vacinas são descartadas pelo sistema de saúde.


Segundo ele, “as perdas de vacinas no PNI do Brasil resultam de múltiplos fatores que impactam a cadeia de vacinação, desde o planejamento até a administração final das doses. Ele destaca: 


- Percentual técnico previsível de perda por tipo de apresentação da vacina, uma perda técnica inevitável de 5% a 10%, o que impacta diretamente nas sobras e no planejamento.
- Desafios logísticos na distribuição. Deficiências no planejamento de demanda geram desperdícios ou faltas. Movimento antivacina, que influencia gestores e populações agravam a subutilização.
- Insuficiência de campanhas e mobilização social, ou seja, falta de esclarecimento da população.
- Escassez de profissionais nas unidades de saúde e restrição de horários de funcionamento das salas de vacina.
- Inconsistências nos sistemas de informação. 

- Limitações na rede de frio.

Ele destaca, ainda, a preocupação com o movimento de alguns setores para desacreditar o Ministério da Saúde. “Não se limita a questões eleitorais, mas está, possivelmente, associado a uma tentativa de grupos políticos de assumir o controle do ministério.”

Apesar de todo o mar revolto, o PNI segue navegando bem e reconquistando terreno perdido. Agora em novembro fomos recertificados como país livre do sarampo conferido pela OPAS/OMS. 


Prova de que vacinar é preciso e morrer não é preciso.

 

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