
O extermínio de bisões nos EUA e a história dos povos originários no Brasil
Apesar de ambos os contextos apresentarem histórias de violência e destruição, a resistência indígena nunca cessou
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A destruição dos bisões nos EUA durante o século 19 representa um símbolo brutal da violência colonial contra os povos nativos. Estratégias semelhantes de exploração de recursos, desintegração cultural e deslocamento forçado também marcaram a história dos povos originários no Brasil. Embora os contextos sejam distintos, ambos os processos refletem métodos utilizados pelos colonizadores para subjugar populações originárias e consolidar o domínio territorial e econômico.
Nos EUA, os bisões eram uma fonte vital de alimento, vestimenta e cultura para várias tribos indígenas. A matança sistemática desses animais tinha como objetivo enfraquecer e desarticular as comunidades nativas. No Brasil, uma tática semelhante ocorreu com a exploração predatória de recursos naturais essenciais para a sobrevivência dos povos indígenas. Por exemplo, a destruição de florestas, rios e animais selvagens afetou profundamente o modo de vida de tribos que dependiam desses ecossistemas.
Durante a colonização portuguesa, a busca incessante por riquezas, como o pau-brasil, minérios preciosos e, posteriormente, os recursos da floresta amazônica, gerou um impacto devastador. Muitas terras indígenas foram desmatadas para exploração econômica, o que desalojou comunidades inteiras. Assim como a destruição dos bisões nos EUA foi intencional para facilitar a expansão colonial, a destruição ambiental no Brasil serviu para abrir caminho à colonização e à exploração agropecuária.
Nos EUA, a matança dos bisões foi parte de uma campanha militar explícita para enfraquecer as tribos indígenas e forçá-las a viver em reservas controladas. O extermínio intencional era uma forma de "guerra de recursos". No Brasil, durante os primeiros séculos da colonização e até os dias atuais, o controle social dos indígenas ocorreu por meio de métodos variados, como genocídio direto, doenças introduzidas pelos colonizadores e deslocamentos forçados.
As bandeiras e expedições militares, por exemplo, capturaram e escravizaram milhares de indígenas. Com a justificativa de "pacificação" e "civilização", essas campanhas tinham o mesmo objetivo dos esforços americanos: enfraquecer a resistência indígena e facilitar o domínio territorial. Além disso, muitos indígenas no Brasil foram forçados a se converter ao cristianismo e a adotar modos de vida impostos pelos colonizadores, destruindo suas tradições e identidades culturais.
A destruição dos bisões levou as comunidades indígenas americanas a um declínio econômico e social que persiste até hoje, com maiores taxas de mortalidade infantil e pobreza. De forma semelhante, os indígenas brasileiros enfrentam uma desigualdade histórica decorrente da perda de suas terras e recursos naturais. A marginalização forçada e a falta de políticas públicas efetivas resultaram em baixos indicadores de saúde, educação e renda.
Os Guarani-Kaiowá, por exemplo, estão entre os grupos mais afetados pela perda de terras tradicionais para a expansão agrícola no Brasil. O confinamento em pequenas áreas inviáveis para a agricultura tradicional gerou desnutrição, pobreza e conflitos territoriais intensos. Assim como ocorreu nos EUA com os bisões, a exploração de recursos naturais no Brasil não apenas destruiu o ambiente, mas também os meios de subsistência indígena.
Apesar de ambos os contextos apresentarem histórias de violência e destruição, a resistência indígena nunca cessou. Nos EUA, movimentos de resgate cultural e de recuperação de territórios tradicionais têm se fortalecido. No Brasil, os povos indígenas continuam a lutar por direitos constitucionais à terra e pela preservação de sua cultura.
Durante o século 20, o movimento indigenista brasileiro conseguiu algumas vitórias importantes, como a demarcação de terras indígenas garantida pela Constituição de 1988. Contudo, essas garantias são frequentemente ameaçadas por interesses econômicos e políticos. Os povos indígenas no Brasil, como os Yanomami, os Munduruku e os Tupinambá, continuam a enfrentar desafios semelhantes aos enfrentados pelas tribos americanas, incluindo invasões ilegais, desmatamento e falta de acesso a recursos básicos.
Em suma, a destruição dos bisões nos EUA e a exploração predatória no Brasil refletem estratégias coloniais de dominação que visaram eliminar a autonomia dos povos originários. Ambas as histórias são marcadas por tentativas sistemáticas de enfraquecer os indígenas por meio da destruição de seus recursos vitais, forçando-os a adotar modos de vida impostos pelos colonizadores. Os impactos dessas políticas são sentidos até hoje, com desigualdades sociais, econômicas e culturais persistentes.
Apesar dessa trajetória de opressão, a luta e a resistência dos povos indígenas nos EUA e no Brasil são testemunhos de sua resiliência. A recuperação de suas terras, cultura e modos de vida permanece uma prioridade para garantir justiça histórica e social. Reconhecer esses paralelos ajuda a entender que a história dos povos indígenas é uma luta contínua por reconhecimento, direitos e dignidade.
O retorno de Trump ao comando da maior potência do planeta e sua política expansionista têm raízes profundas na história americana de dominação de outros povos e seus territórios. De certa maneira, Trump está explicitando ao mundo o “jeito americano de ser e agir”. Talvez seja este o principal e único legado de seu governo.
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Nesse último final de semana, os golpistas e parceiros de Trump fizeram manifestação pública no Rio de Janeiro por anistia de outros golpistas. Na realidade, já deveriam estar todos na mesma jaula. O Brasil que se cuide para não se americanizar de vez. O que é bom para os americanos, é bom só para eles. O resto do mundo que se exploda, se possível, atomicamente.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.