Essa história de amor começa sem nenhum romantismo. Quando era criança, odiava sorvete de pistache. Me lembro até hoje do dia em que provei e rejeitei. O sabor não me agradou nem um pouco. A partir daquele momento, nunca mais olhei para o pote verde cor de chiclete.

 




Resultado: passei anos da minha vida achando que não gostava de pistache. Do sorvete, na verdade, porque naquela época nem sabia direito o que era o pistache em si. Algumas vezes, vi meu pai comer de tira-gosto e achava divertido ter que quebrar a casca para encontrar a castanha. Mas nem associava uma coisa à outra.


Se você é de Belo Horizonte, deve se lembrar da revolução do mercado de sorvetes de uns anos para cá. Com as primeiras gelaterias de inspiração italiana, comecei a ver pistache em todas as vitrines. Mas não tinha nada a ver com o que estava registrado na minha memória. Resolvi dar uma nova chance.

 


Não sei onde nem quando, só sei que me reencontrei com o sorvete de pistache e me apaixonei – à segunda vista (isso me fez lembrar de comida japonesa e açaí, outros rejeitados no primeiro contato). Provando um daqui outro dali, entendi porque essa história de amor tinha começado enviesada. Não tinha nada de pistache naquelas misturas. A cor era claramente artificial e o sabor não passava de essência.


Com o tempo, a lógica se inverteu a ponto de sempre e em todo lugar procurar sorvete de pistache. Não só porque passei a amar, mas também pelo prazer de experimentar e fazer comparações. Para mim esse sabor diz muito sobre uma sorveteria, principalmente sobre os ingredientes que ela usa.


Na minha ida à Itália, virei a “louca” do pistache. Tomei vários sorvetes, claro, me esbaldei. Estava em Milão para participar da cobertura de uma feira de alimentação e lá conheci o pistache da cidade de Bronte, chamado de “ouro verde” e considerado o melhor do mundo.

 


Isso tudo aconteceu muito antes de o pistache virar febre. Hoje é raro encontrar uma confeitaria em BH que não tenha um doce verde. Brigadeiro, brownie, bolo, pudim, palha italiana, donut... a lista é infinita. Acho importante democratizar o acesso ao pistache, que não é um ingrediente barato, mas essa história já me fez cair em armadilhas. Desconfio logo quando vejo um verde intenso – a cor natural é suave e muitas vezes puxa para o amarelo ou marrom. Fora que continuo a encontrar sabor de essência por aí. Triste.


Nas caçadas ao pistache, a Mi Garba sempre esteve entre os meus lugares preferidos. Um porto seguro, onde sei que não vou errar. Acho que eles fazem um dos melhores sorvetes de pistache da cidade. O pistache, inclusive, é o símbolo da marca, por isso a cor verde na logo. Luca Lenzi, o fundador, é italiano de Florença e me contou que, “na Itália, a regra para definir uma gelateria de excelência era ditada pela qualidade do sabor de pistache. Se fosse bom, o resto seria também”. Verdade.

 


Para comemorar seus 10 anos, a Mi Garba levou 10 sabores de pistache para as vitrines. Muitos já são conhecidos, como o “8 Volte Pistacchio”, com pistache em oito texturas, que já me fez arrancar correndo de casa pouco antes do fechamento da loja com um amigo – outro apaixonado por pistache. Entre as novidades, estão o “Mi Garba! Pistache” (creme de baunilha com cookies) e o “Brownie de Pistache” (creme com pedaços de brownie). Há também versões vegana e sem açúcar.


Recomendo fazer uma experiência muito interessante: comparar os sorvetes com pistache siciliano e com pistache californiano. Pensei que não teria muita diferença, mas fiquei impressionada. Não que o pistache da Califórnia seja ruim, longe disso (aliás, é o mais usado por aqui), mas fica fácil de perceber que o da Sicília tem um sabor muito mais intenso.

 

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A ação da Mi Garba não tem data para terminar, mas a expectativa é de que os estoques durem mais duas ou três semanas. Até lá, vou voltar para comer outros sabores e zerar a vitrine comemorativa. Ainda bem que essa minha história de amor com sorvete de pistache teve um final feliz.

 

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