A Justiça do Trabalho do Rio de Janeiro acaba de marcar a data de audiência que colocará cara a cara a atriz Guilhermina Guinle e sua ex-funcionária, que acusa a artista de se surrupiar seus direitos trabalhistas. Natalice acusa Guilhermina e o irmão, Luiz Raphael de Oliveira Sampaio Guinle, de terem acionado um advogado da família para expulsá-la da casa durante seu horário de serviço após a cobrança de dividas trabalhistas. Ela foi levada para uma delegacia sob acusação de "violação de domicílio" e agora cobra na Justiça o montante de R$ 385 mil pelas verbas trabalhistas e danos morais. A audiência foi marcada para o dia 12 de novembro, às 9h10 por meio de uma videoconferência.

Este colunista teve acesso exclusivo ao processo e as acusações que pesam contra Guilhermina Guinle e Luiz Raphael são gravíssimas. Natalice conta no processo que começou a trabalhar na casa do pai da atriz - que faleceu recentemente - exercendo a função de doméstica e cuidadora do idoso. Mas o que se nota a partir das provas apresentadas é que Natalice também seria obrigada a cuidar do pagamento de todas as despesas da casa, apresentando relatórios financeiros aos irmãos, que por vezes questionam os valores gastos expondo a funcionária a situações humilhantes. Em uma das trocas de mensagens, o irmão de Guilhermina pressiona Natalice a rever o orçamento para tentar baixar o fluxo financeiro da família.

Ainda de acordo com os autos, Natalice prestava também um trabalho similar ao de uma verdadeira contadora. Ela relata no processo que, ao expressar exaustão trabalhista pelas funções acumuladas, teria sido direcionada por Guilhermina Guinle para "terapia".

Natalice exercia a jornada de trabalho de segunda a sexta-feira, das 8h às 23h, e, aos sábados, das 8h às 15h, "tudo sem o correto intervalo para refeição e repouso, tendo que se alimentar rapidamente durante o serviço, pernoitando no local". Ela alega que morava na casa da família de segunda a sábado, dormindo no local, e quando o patrono da família falaceu Guilhermina Guinle continuou demandando os serviços de Natalice normalmente, que continuou trabalhando na casa da família e recebendo por isso.

Conforme já relatado, a ex-funcionária enviava relatórios com toda as contas e despesas da residência, discriminando valores e datas de vencimento, ocasiões em que Guilhermina e Luiz Raphael Guinle realizavam os depósitos das despesas na própria conta bancária dela, quem fazia os pagamentos a terceiros, a fornecedores e demais logísticas orçamentárias que cercavam as despesas da casa. "Vamos sentar para discutir essas contas e ver como baixamos os custos", disse Luiz Raphael atribuindo responsabilidades a ex-funcionária que, segundo ela, não deveriam estar sob seus cuidados.

Ainda segundo os autos processuais, Guilhermina raramente visitava o pai, e, quando fazia, utilizaria ferramentas de chamadas de vídeo. Ela reforça que ao longo de mais de 25 anos o pai da artista "trocava o dia pela noite" e que precisava ficar alerta a todo momento em razão dos medicamentos controlados que eram ministrados. A cuidadora acabou revelando nos autos processuais que Luiz Eduardo "sofreu um acidente doméstico porque ficava sozinho aos domingos, sem assistência de qualquer familiar”, ocasião em que teria saído de sua residência, em Campo Grande, para socorrê-lo.
Luiz Eduardo Guinle veio a óbito aos 82 anos. O processo alega que após o falecimento aconteceu o "mais absoluto absurdo e desrespeito com o trabalhador." Natalice afirma que após a morte do idoso, a relação de trabalho não foi dissolvida e anexou ao processo provas que continuo prestando serviços no imóvel sob ordens e pagamentos de Guilhermina Guinle e o irmão Luiz Raphael. Desde então, assim como fazia há 26 anos, teria permanecido morando no imóvel de segunda a sexta realizando faxinas, pagamentos de contas do imóvel e do falecido, entre outros serviços. Embora ainda estivesse prestando serviços para os irmãos, Natalice conta que iniciou um diálogo com a família para demonstrar os valores que pretendia receber decorrente do futuro encerramento do seu contrato de trabalho.
 
"FUI TRATADA COMO CRIMINOSA"
 
Ainda segundo os autos processuais, após serem cobrados em relação as verbas trabalhistas, Guilhermina Guinle e o irmão Luiz Raphael "praticaram um ato de extrema covardia". Natalice narra que estava no imóvel que trabalhava desde 1998, cumprindo normalmente seu expediente de trabalho quando foi' "surpreendida com a presença de um advogado, acompanhado de dois policiais militares, por volta as 19h30, horário em que prestava serviço, considerando que trabalhava até as 23h. Ela conta que "a retiraram, à força, após arrombarem a porta do imóvel, e a conduziram para a 14ª Delegacia de Polícia, por suposta invasão de domicílio."
 
Diante do absurdo acontecimento, Natalice contou à Justiça que "gritou por socorro e chegou a telefonar, por quatro vezes consecutivas, para o 190, sem sucesso, uma vez que nunca chegou o auxílio almejado". Ela completa dizendo - por meio do seu advogado - que "temendo por sua segurança e integridade física, optou por não abrir a porta do apartamento e que, desesperada com a ilegal situação, pediu socorro no grupo de WhatsApp do condomínio e que a Sra. Cláudia Pecker, síndica do prédio, imediatamente removeu seu número do grupo.
 
"Todo o ato nefasto e violento ocorreu em decorrência da entrega, pela Reclamante, de planilha de créditos trabalhistas e rescisórios que, ao invés de efetuarem o pagamento devido àquela que, por mais de 25 anos, de forma incondicional, cuidou de seu pai, associaram-se a terceiros para expulsar a Reclamante da residência em que se encontrava laborando, com o único intuito de não adimplir com as verbas trabalhistas e rescisórias devidas", diz o processo. A defesa de Natalice ainda afirma que, além da esfera trabalhista, o caso será levado para as esferas criminais, cíveis e de corregedorias das Polícias Militar e Civil, uma vez que Natalixe foi expulsa da residência pelo advogado da família e dois polícias sem qualquer ordem judicial ao aviso prévio por parte dos herdeiros do Copacabana Palace. O caso, por conter o envolvimento de um advogado da família, também será encaminhado ao Tribunal de Ética e Disciplina da Ordem dos Advogados do Brasil.
 
Natalice alega na Justiça que foi "arrastada humilhantemente dentro de uma patrulha da Polícia Militar, apenas por pretender o receber seus direitos trabalhistas". O processo alega que a situação foi tão "vexatória e inimaginável, que sequer teve tempo de separar cuidadosamente seus pertences, tendo que deixar o que conseguiu separar sob a guarda do morador de outro apartamento, que gentilmente aceitou o encargo de guardar seus pertences enquanto era conduzida à Delegacia de Polícia sob os olhares de todos os moradores do condomínio."
 
Após anexar imagens, fotos, conversas e demais prints como provas, inclusive áudios de pedidos de socorro escutados por este colunista - e que também serão preservados neste espaço - a defesa de Natalice apresentou todos os cálculos trabalhistas e mais um pedido de R$ 100 mil pelos danos morais sofridos. No total a ação cobra de Guilhermina Guinle o montante de R$ R$ 385.810,07.
 
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