As questões de saúde mental, como estresse, ansiedade e depressão, vêm sendo associadas a maior incidência e pior prognóstico em doenças cardiovasculares -  (crédito: Freepik)

É fundamental ressaltar a necessidade de tratamento psicológico para indivíduos com peles únicas em conjunto ao tratamento biológico da patologia

crédito: Freepik

 

Para muitas pessoas com condições sensíveis de pele, a jornada para uma autoimagem positiva pode ser desafiadora, pois algumas condições raras como vitiligo, albinismo e outras, impactam essa nossa sociedade com o medo do desconhecido. A singularidade torna essas pessoas únicas, mas também as coloca diante de desafios em relação à autoimagem e aceitação, prejudicando a saúde mental e promovendo a autodepreciação de corpos fora do padrão considerado aceitável. 


“A dor do vitiligo é solitária”, “Eu me olhava no espelho e não me reconhecia”, “ouvimos coisas do tipo ‘se a doença não mata, então está tudo bem’” essas são algumas frases da a ex-modelo Milena Satyro, portadora de vitiligo. Dentro delas, podemos perceber claramente o quanto a imagem que uma pessoa tem de si mesma é negativamente afetada pelo surgimento de uma doença autoimune e pela percepção social. Muitas vezes as pessoas com essas condições se sentem isoladas em sua experiência. Elas podem se sentir diferentes e incompreendidas, especialmente em uma sociedade que frequentemente valoriza a aparência física.

 

Leia também:  Viagens e peles sensíveis

 

A própria ideia de olhar no espelho e não se reconhecer é profundamente perturbadora e demonstra como uma pele considerada diferente afeta a autoestima e a identidade de alguém. Além disso, o comentário de ouvir coisas do tipo "se a doença não mata, então está tudo bem" reflete uma falta de compreensão generalizada sobre o impacto emocional e psicológico das doenças de pele, como o vitiligo. Embora a doença em si não seja fatal, ela pode ter consequências emocionais devastadoras e prejudicar a qualidade de vida de pessoas como desta ex-modelo. 


Inúmeras pessoas que possuem características físicas únicas ou raras enfrentam experiências desafiadoras desde o surgimento destas patologias, que incluem o isolamento social, a discriminação e o doloroso bullying. Com isso, conseguimos entender melhor sobre os resultados de estudos que comprovam que indivíduos com condições de pele incomuns têm uma probabilidade significativamente maior de enfrentar quadros de ansiedade e depressão. No artigo “Aspectos psicológicos em dermatologia: avaliação de índices de ansiedade, depressão, estresse e qualidade de vida”, por exemplo, há uma frase bem emblemática em que se diz: 


“As doenças de pele, diferentemente de outras doenças, estão expostas ao externo e, talvez por isso, as pessoas com estas condições necessitem de adaptação tanto à sua doença quanto à exposição ao outro.” 


Na frase, fica claro que essa condição não se deve apenas à carga emocional associada à administração de sua condição médica, mas também à incessante batalha contra olhares curiosos e comentários insensíveis que minam a autoestima e bem-estar psicológico dos portadores de peles raras.


Visto isso, é fundamental ressaltar a necessidade de tratamento psicológico para indivíduos com peles únicas em conjunto ao tratamento biológico da patologia. A vivência de diferenças físicas muitas vezes traz consigo um fardo emocional significativo, agravando o sofrimento psicológico e a intervenção de profissionais de saúde mental desempenham um papel crucial na abordagem desses desafios, fornecendo ferramentas para lidar com a ansiedade, a baixa autoestima e a discriminação que frequentemente acompanham essas condições.

 

Além disso, promover a conscientização social acerca da existência dessas doenças por meio dos veículos de informação, explicando e desmistificando esta doença, pode ser uma ferramenta importante para o olhar social e consequente maior acolhimento a essas pessoas.