Vários são os fatores que levam à crise de uma empresa. Podemos citar a falta de planejamento, capital insuficiente, mudança da conjuntura econômica, entrada de novos concorrentes no mercado, falta de inovação, inconsistência do modelo de negócio e problemas de gestão.



Alguns deles podem ser encontrados no caso da WeWork, que entrou no início deste mês com um pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos. Além disso, também contribuíram para sua crise, a consolidação do trabalho remoto ou híbrido após a pandemia, a superavaliação da empresa e o aumento da taxa de juros.

Mas, para a maioria dos analistas, há duas causas principais para seu declínio: a inviabilidade do modelo de negócio e a atuação pessoal de seu fundador, Adam Neumann.

O problema do modelo de negócio é que a empresa locava imóveis a longo prazo e tentava pagar os aluguéis com o valor de curtas sublocações feitas aos usuários.

A questão de Neumann refere-se à gestão da empresa. Desde a entrada de investidores dúvidas surgiram sobre sua capacidade para exercê-la. As suspeitas se confirmaram em 2019, após uma tentativa fracassada de oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês). Na oportunidade, potenciais investidores descobriram operações consideradas prejudiciais à empresa e que a situação financeira dela era bem pior do que se imaginava.

Após um processo judicial, e um acordo com os investidores, Neumann renunciou ao cargo de CEO da WeWork, recendo uma boa quantia para sair da empresa.

Agora, o Softbank, principal investidor no negócio tenta reerguê-lo por meio da recuperação judicial e diminuir seu prejuízo.

O caso ilustra bem como a alocação de capital de risco pode ser equivocada e chama a atenção pela forma em que os investidores acreditaram na proposta de Neumann.

Há relatos de que bastou meia hora de conversa com ele, para que Masayoshi Son, dono do Softbank, injetasse mais de 10 bilhões de dólares na empresa. Há informações também que ele foi alertado que a WeWork não era uma startup de tecnologia, mas somente uma empresa de sublocação.

Mas o ponto é que, geralmente, o relacionamento entre fundadores e investidores de uma startup (e de outros tipos de negócios) são regulados por contratos sofisticados. Neles há sempre cláusulas prevendo uma diminuição da diferença de informações sobre o negócio.

Não temos acesso aos contratos de investimento na WeWork, mas, ao que parece, a ausência deste tipo de regra permitiu o comportamento temerário de Neumann.

Como a empresa já vinha negociando com credores, é possível que obtenha sucesso no processo de recuperação. O percentual de êxito destas demandas no judiciário americano costuma ser bem maior do que aquele observado por aqui. Talvez, por um uso mais comedido e criterioso desse instrumento. Mas isso é assunto para um outro texto.

O autor desta coluna é Advogado, Especialista e Mestre em Direito Empresarial. É sócio da Empresa Tríplice Marcas e Patentes do escritório Ribeiro Rodrigues Advocacia.

Sugestões e dúvidas podem ser enviadas para o email lfelipeadvrr@gmail.com

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