Nessa terça-feira (5/12), a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgou os resultados do seu Programa de Avaliação Internacional de Estudantes (Pisa), voltado para jovens de 15 anos de idade, em 81 países e economias do mundo. Pisa é um teste trianual que, excepcionalmente, deixou de ser realizado no ano de 2021, em virtude da pandemia da Covid-19. Os resultados do Brasil exigem grande atenção dos formuladores de políticas educacionais e setores voltados para educação para que o país pare de “tomar bomba”.
O Pisa avalia três áreas do conhecimento (matemática, leitura e ciências) e explora quão bem os estudantes podem resolver problemas complexos, pensar criativamente e comunicar-se eficazmente. Em 2022, o resultado médio do Pisa apresentou o maior declínio de sua história – o programa começou em 2000 -, e a área da matemática foi a mais afetada.
Países com elevado grau de desenvolvimento socioeconômico, como Alemanha, Islândia, Países Baixos, Noruega e Polônia, tiveram quedas muito acima da média em matemática, enquanto países asiáticos, como Singapura, Macau (China), Taipé Chinês, Hong Kong (China), Japão e Coreia, lideraram a performance positiva de 2022.
Outro resultado que merece atenção é a expansão contínua, ao longo da última década, do desempenho de países com médio ou baixo nível de desenvolvimento socioeconômico, como Camboja, Colômbia, Costa Rica, Indonésia, Marrocos, Paraguai e Romênia, com avanços rumo à universalização de seus ensinos secundários. Exemplos de educação mais equitativa, experimentada por Canadá, Dinamarca, Finlândia, Hong Kong, Irlanda, Japão, Coreia, Letônia, Macau e Reino Unido, reiteraram suas performances em 2022.
Algo importante que deve preocupar a maioria dos países, e não só o Brasil, é a queda, cada vez mais consolidada, dos resultados médios nas três áreas, com destaque para matemática. Há uma década que essa área apresenta performance cada vez pior. A partir dos resultados de 2015, leitura e ciências também iniciam desempenhos decrescentes, embora em intensidade menor que matemática. Acendem-se luzes sobre as últimas gerações quanto ao desinteresse pelos conteúdos e suas formas de transmissão.
Para colocar lenha na “fogueira da incapacidade de conexão com os jovens”, os dados do Pisa indicam o impacto negativo das tecnologias digitais de recreação sobre a performance dos alunos. Nos 81 países avaliados, os alunos que passavam uma hora por dia em dispositivos digitais de entretenimento alcançaram 49 pontos adicionais em matemática comparativamente àqueles que gastavam entre cinco a sete horas de seu dia. Poucos são os países que estão observando mais atentamente esses resultados e proibindo o uso de celulares nas escolas.
Especificamente em relação ao Brasil, os resultados continuam vexatórios, e o país mantém sua performance bem abaixo da média do Pisa nas três áreas do conhecimento. Praticamente, desde 2009, o país mantém seus resultados pouco ou nada alterados. Em matemática, em 2015, o país teve desempenho negativo, pela primeira vez, recuperando ligeiramente em 2018 e voltando a cair em 2022. Leitura teve seu ápice em 2009 e, de lá em diante, vem se mantendo quase inalterada; e ciências segue performance semelhante à da leitura. Em suma, de 2009 em diante, o Brasil segue estagnado no Pisa.
Comparativamente aos países da pesquisa, no Brasil, 73% dos estudantes de 15 anos tiveram resultado abaixo do nível 2 (entre 6 níveis classificatórios), em matemática, enquanto a média da OCDE era de 31%; em leitura, foram 50% dos alunos com média abaixo de 2, ante 26% da OCDE; e em ciências, esses resultados foram de 55% para o Brasil e 24% para os países da OCDE. Evidencia-se, mais uma vez, o quanto o Brasil está abaixo da performance média dos integrantes do Pisa.
Do lado oposto, ou seja, nos níveis 5 e 6, que são os mais elevados de desempenho, somente 1% dos estudantes brasileiros estão nesse grupo, na área de matemática, ante 9% dos estudantes da OCDE; em leitura e ciências, o Brasil só alcançou 2% e 1%, respectivamente, dos níveis mais altos, enquanto na OCDE a média é de 7%.
Quanto aos impactos socioeconômicos sobre o desempenho no Pisa, o Brasil apresenta a menor diferença entre os grupos mais ricos e os mais pobres, comparativamente aos resultados médios dos países da OCDE. Portanto, o aspecto socioeconômico é menos preponderante no Brasil em relação aos demais 80 países, desmitificando a noção de excelência da qualidade do seu ensino privado. A bem da verdade é que a qualidade é ruim de forma geral, porém os menos favorecidos contribuem mais para a piora geral do resultado.
Os resultados do Pisa 2022 também envolvem aspectos de segurança, bullying, atenção e dedicação dos pais e, em todas as situações, a performance brasileira está aquém da média da OCDE. A expectativa de que a Covid-19 comprometeria ainda mais o desempenho dos alunos se confirmou parcialmente e não na magnitude previamente esperada.
Aspectos como tempo de entretenimento com tecnologia e entrada na escola na primeira infância compõem rastros e pistas de importantes indícios de que as políticas públicas precisam, urgentemente, regular o uso das tecnologias, ampliar o acesso e o tempo nas escolas, mudar a forma de despertar o interesse pelo conhecimento por parte dos jovens e dar-lhes estímulos e sopros de esperança ante os desafios do aprendizado.