Vez ou outra, algum termo aparece para compensar a falta de vocabulário do capitalismo-coaching. Não estamos mais na era do capitalismo industrial, especulativo ou financeiro. Surge uma nova forma de se relacionar com a produção de riquezas a partir de uma mistura de feng shui, astrologia e teologia da prosperidade. Uma espécie de designer de consciências com pitadas de autoajuda, culminando em dinâmicas com balões em palestras motivacionais que produzem um marketing existencial fundamental para a vida no multiverso.

 

Com baixa carta de leitura e um pensamento curtinho, os gurus da “nova era treconológica”, lançam termos ao vento como iscas para pegar qualquer piaba de boca aberta preparada para tentar preencher seus vazios existenciais (o que nunca irá acontecer, pois, desde Freud, sabemos que o ser humano é um motor a vácuo). Surgem, então, as condições perfeitas para um novo sistema de pensamento que conhecemos como o Capitalismo Coaching.

 




Resiliência é um dos termos que tentam sustentar um discurso vazio de aceitação e adequação às explorações nesse novo sistema. Para os desavisados, esse é um conceito elaborado para descrever objetos que possuem a capacidade elástica de retornar à forma original após terem se submetido à deformação inicial. Lindo, não é (só que não!)? Uma tentativa de comparar a sua vida com a esponja de lavar louça. Nada mais apropriado à lógica de abusos defendida pelos mestres holísticos de corpos alheios.

 

Tentam, inclusive, colar a filosofia do estoicismo a esse deserto de ideias. Mal eles sabem que um sábio estoico mais se assemelharia a um morador de rua, despreocupado em agradar todas as convenções sociais, do que um empresário de sucesso que opta por uma “vida simples” à custa da exploração ambiental, humana e animal.

 

 


Para quem leu Guimarães Rosa e seu Grande Sertão: Veredas, dói aos ouvidos a ideia de que a resiliência seria uma espécie de “coragem para enfrentar os desafios da vida”. Agir com o coração (cor-agem) se assemelha muito mais ao sujeito que, inconformado com o atual estado das coisas, tenta atravessar a terceira margem do rio, construindo uma canoa para experimentar a solidão angustiante que toda decisão provoca em um ser consciente.


Precisamos trocar e incrementar o vocabulário. Menos resiliência e mais coragem, pois esta refere-se ao agir, apesar do medo. Uma virtude de seguir em frente mesmo diante do temor e da intimidação que o destino, por vezes, coloca à nossa frente. O mundo sempre respeitou os corajosos. Ao contrário, sempre esteve disposto a amassar os resilientes.

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