Confesso que não sou muito favorável às receitas e demais conselhos. Sobretudo quando se trata da formação dos filhos ou dos pets, o que na sociedade contemporânea tem tido o mesmo peso e valor.
Porém, como existe essa demanda de mercado - e aprendi em um workshop imersivo que devemos sair da zona de conforto - decidi me arriscar e tentar entregar algo de valor, recheado de propósito, à sociedade que tanto anseia por orientações repletas de empatia sororidade pedagógica.
A adolescência é, de fato, um desafio para muitas famílias. Isso não é privilégio seu. No entanto, para aliviar o peso existencial, seguem algumas observações (que alguns chamariam de metas) para criar adultos inúteis e imprestáveis:
Primeiro conselho: Confie mais no grupo de WhatsApp de pais (ou mães) do que na escola. É lógico que ninguém sabe mais sobre seu próprio filho do que aqueles que monitoram a cria via suporte digital. Para o trabalho ser bem-feito, reclame sempre da competência dos professores e demais profissionais da educação, mostrando ao rebento que o cliente tem sempre razão.
Resiliência é a bobagem do capitalismo coaching
Segundo conselho: Afaste seu pupilo dos livros de papel, principalmente aqueles que possuem muitas páginas e vão gerar várias perguntinhas na cabecinha deles. Coitados. Não precisam passar por isso. Reforce a ideia de que eles podem resolver todos os problemas consultando qualquer inteligência artificial por aí e que essa coisa de ficar lendo é muito ultrapassada. As redes sociais ensinam bem mais do que qualquer escola, basta procurar. O sucesso do futuro está reservado aos estudantes que passam a aula inteira jogando no “tigrinho” ou aproveitando todo o entretenimento que o mundo digital pode oferecer.
Terceiro conselho: Deixe bem claro para ele (ou ela) que o esforço é coisa de gente que gosta de sofrer. Pouco importa se praticamente todas as culturas têm seus rituais de entrada na vida adulta – e quase todos envolvem uma certa dose de sofrimento, seja colocar a mão no formigueiro ou correr com um toco de árvore nas costas. A dor do crescimento é coisa de gente primitiva, acredite que seu menino(a) vai crescer sem doer.
Quarto conselho: Compense toda ausência diária com presentes e passeios no shopping. Deixe bem claro para ele(a) que tudo se resume a ter o calçado, roupa ou celular da modinha. Mostre ao seu (ou sua) adolescente que a união entre vocês é proporcional ao poder de compras. Imagine um(a) menino(a) desse tamanho dando chilique por não ter o lançamento do último smartphone? É caso de Conselho Tutelar, não é? É muito importante que ele tenha um celular que custe mais do que três salários-mínimos, pois assim ele sempre olhará para seu professor(a) com desdém, o que é fundamental para seu anti-desenvolvimento.
Quinto conselho: Pratique a educação positiva, aquela que condiciona comportamentos a partir da capacidade madura que ele (ou ela) tem de escolher tomar banho agora ou daqui cinco minutos. Não negue nada, ensine que dificuldades não existem, pois isso é apenas ideologias criadas para roubar a beleza da eterna infância na qual eles nunca deverão sair.
Sexto conselho: Ceda sempre. Nunca o conteste em seus pedidos ou reclamações. Lembre-se: essa geração sabe o que quer! E ainda tem mais informação do que você. Eles fazem danças surpreendentes e ouvem músicas de trinta segundos que não se equivalem ao seu gosto estético. Coloque-se, constantemente, em auto suspeita, pois eles devem saber de algo que a sua geração foi incapaz de criar.
Sétimo conselho: Sustente com eles a ideia de que os empregos do futuro ainda nem existem. Então, se ele (ou ela) chegar dizendo que não quer cursar uma universidade, apoie incondicionalmente! E ainda diga, na reunião de condomínio, que as mentes mais brilhantes do mundo não passaram por um processo de educação formal. Aceite sem pestanejar que ele (ou ela) está seguindo algum caminho disruptivo e inovador, com ênfase em algum curso livre de ciências ocultas e letras apagadas.
Oitavo conselho: Não tenha projeto para o quarto dele(a). Reforce a perspectiva de que a adolescência vai até os 49 anos e ele pode depender de você até atingir a vida adulta, isto é, por volta dos 50. Até essa idade, ele poderá contar com o achocolatado em casa, com as roupas limpas e a ideia de que ele é muito especial. Pois, crescer é uma coisa que está fora de moda.