Qual fenômeno se esconde atrás dos diversos incidentes com alguns motoristas de certos carros importados? O que pensam? Como vivem? O que desejam? Chama a atenção a recorrência dessas situações e um ponto em comum: todos envolvem uma performance da barbárie que se manifesta por meio da busca incessante por autoafirmação de um suposto status social.
Em julho, um motorista vira réu por morte de um amigo. Em agosto, outro inicia uma verdadeira caçada a um trabalhador e mata um motoboy por causa de um retrovisor. Em julho de 2019, mais um caso de atropelamento, agora de uma idosa (detalhe, o mesmo indivíduo já teria matado um motoboy em 2014). Agora, em agosto deste ano, cenas de um estágio primitivo de desenvolvimento humano, um sujeito criando caso com um entregador que estacionava na porta de sua garagem. Enfim, não podemos avaliar tantos casos como fatos isolados, sem nenhuma ligação entre si.
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O que há de comum em todas essas situações? O desejo de transformar a condução de um veículo em um verdadeiro Por(sch)te de arma. E não sou eu que falo, a magistrada Vivian Brenner, avaliando o caso ocorrido em São Paulo, conclui que “o indiciado utilizou o seu veículo como verdadeira arma”. Tá lá no processo, página 73.
A explicação parece óbvia. O que, logicamente, não justifica nenhuma dessas barbáries. Desde Freud sabemos que alguns machos tentam compensar a falta de cérebro e o pequeno desenvolvimento de alguns órgãos do corpo com certos símbolos fálicos. O carro é um exemplo disso.
Porém, enquanto não faziam mal a ninguém, era apenas uma exibição pública, a tentativa de compensar a falta de potência sexual em carros e outros artigos. E eles vivam assim, machos inseguros (quase uma redundância) em uma espécie de priapismo símbolo, um lodo existencial de dar inveja a qualquer vida enfronhada em teses coachings de um laMarçal.
A questão é quando a crise existencial e sexual dos machinhos acaba por exterminar a vida do outro. Potencializados por um capitalismo hereditário, que tem como característica principal a capacidade de aumentar o poder dos imbecis e ineptos, a vida humana fica em segundo plano quando o negócio é a propriedade. Esse raciocínio não surge espontaneamente na cabeça do sujeito que acredita que a vida de um trabalhador deve ser acabada porque ele encostou em seu retrovisor. É a insegurança se transformando em risco social.
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Lógico que isso foi visto, sentido, percebido e ensinado a idiotas dessa espécie. Imbecis enjaulados em carros de luxo chegam a ser tão perigosos quanto a maldade que assola nosso sistema econômico e social.
Aliás, não seria errado pensar que eles são a própria materialização desse sistema, dejetos que, incapazes de reconhecer uma vida ou levantar uma moto, tentam justificar suas frustrações à custa da vida de gente que realmente luta para viver.