Ah, o sublime e tranquilizador mantra de que “os ignorantes são mais felizes.” Que verdade gloriosa e libertadora! Afinal, por que se preocupar com a verdade, a realidade ou o conhecimento quando se pode mergulhar na gloriosa simplicidade da ignorância? É quase como se a ignorância fosse a chave secreta para uma vida de serenidade interminável e despreocupada.


Imagine, se puder, a vida dos verdadeiros felizes ignorantes. Eles flutuam suavemente pelo mar do contentamento sem serem perturbados pelas desagradáveis ondas do raciocínio crítico. Eles vivem como se fossem crianças eternas, livres das complicações do entendimento profundo. Para eles, a vida é uma pintura em aquarela, onde todos os traços de complexidade são suavemente apagados pela borracha do desinteresse.

 

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E, claro, nada poderia ser mais perturbador para esse estado de graça do que as grandes descobertas que moldaram a nossa civilização. Pense só em como a vida poderia ser mais feliz se a humanidade nunca tivesse se aventurado por essas estranhas e desnecessárias rotas de conhecimento.

 




Numa sociedade onde a ignorância é a última fronteira da felicidade, o conhecimento se torna o vilão. É um pesadelo perturbador que estraga a serenidade ao trazer à tona fatos incômodos, verdades duras e aqueles detalhes irritantes como, por exemplo, a crise ambiental iminente, desigualdades sociais escandalosas e o fato de que o aumento do nível do mar pode transformar o seu lindo apartamento à beira-mar em um aquário gigante.

 


Que encantador é ver a geração que acha que a educação deve se reduzir ao entretenimento e que os professores são apenas um incômodo passageiro, animadores despreparados em uma eterna colônia de férias, atrapalhando seu glorioso caminho para o nirvana digital! A verdadeira sabedoria, claro, não vem dos livros ou das salas de aula, mas do poder absoluto das telas que piscam incessantemente com as últimas atualizações de status e os jogos que consomem horas preciosas de uma maneira tão produtiva.


E não podemos esquecer da filosofia! Os filósofos, esses eternos maquinistas de pensamentos, ficam tão presos em suas dúvidas existenciais e paradoxos infinitos. Enquanto eles se questionam sobre o sentido da vida, os felizes ignorantes estão ocupados vendo novelas e discutindo sobre qual reality show é o mais autêntico. A filosofia, com sua indesejável insistência em questionar tudo, é um obstáculo para a verdadeira felicidade. Que comparação ridícula entre a sabedoria agonizante de Sócrates e a alegria pura e não perturbada dos que vivem em suas pequenas bolhas de negação, dançando como animais amestrados.

 


Perceba o “detalhe” da eletricidade, um capricho insensato que trouxe à tona os perigos de curtos-circuitos e fiações. Antes da eletricidade, não havia necessidade de se preocupar com falhas de energia ou com o interminável jogo de "será que a conta de luz vai chegar no próximo mês?" E pense em como a vida seria tranquila sem as inconvenientes luzes artificiais que nos forçam a encarar as sombras e as imperfeições do mundo ao nosso redor.


E a invenção do telescópio? Que desperdício de tempo! Em vez de observar as profundezas do cosmos e perceber a nossa pequena e insignificante posição no universo, poderíamos simplesmente continuar acreditando que a Terra era o centro de tudo e que os astros giravam ao nosso redor por um capricho divino. Que alívio seria não ter que lidar com a esmagadora perspectiva de um universo infinito e o desconforto de nos perceber como meros pontos luminosos em um vasto e imenso cosmos.

 


E quem pode esquecer da revolução médica? Com suas vacinas e antibióticos, ela fez o favor inconveniente de prolongar vidas e erradicar doenças que poderiam ter poupado a humanidade de tantas questões filosóficas e existenciais. Em um mundo onde a mortalidade prematura ainda fosse uma realidade constante, a simplicidade da vida provavelmente se manteria intocada pela angústia de perguntas sobre a ética e a justiça. Menos saúde significaria menos reflexão sobre o sentido da existência e mais tempo para desfrutar da imaculada ignorância.


E assim, a vida se desenrola no fantástico espetáculo dos ignorantes felizes, onde a profundidade e a análise são substituídas por slogans simplistas, pílulas coaching e um desejo quase zen de permanecer no escuro dos iluminados. Se ignorar é viver bem, então, realmente, os eruditos e questionadores devem estar em um estado perpétuo de infelicidade. Afinal, como disse um sábio (ou, pelo menos, alguém que parecia ser sábio): "A verdade é inimiga da paz." Ou algo assim.

 


Imagine, por um momento, a beleza de uma vida sem qualquer forma de complexidade. Sem aquele chato trabalho de entender as nuances da política global, os dilemas éticos contemporâneos, ou até mesmo o motivo pelo qual o trânsito está sempre insuportável. Quem precisa dessas distrações? Melhor deixar essas coisas para os "espertos" e aproveitar a vida simples, como aqueles que acreditam que a Terra é plana e que vacina causa tudo, menos imunidade.


No fim das contas, a ignorância é, sem dúvida, a forma mais elevada de felicidade. Sem conhecimento para perturbar a paz de espírito, sem perguntas para desencadear incertezas, e sem consciência para enfrentar a realidade.

 


Os ignorantes não são apenas mais felizes; eles são, sem dúvida, os mais sábios entre os seres humanos, vivendo numa iluminada eternidade de serenidade e contentamento. E quem somos nós para questionar tal encantadora filosofia da vida? Quem precisa de educação ou informações precisas quando se pode viver em um estado de contentamento absoluto pela simples razão de não saber nada sobre nada? É a receita perfeita para um final feliz, ou pelo menos, um final que você nem vai saber que aconteceu.

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