Em um mundo dominado pela velocidade e pelo desempenho, o filósofo Byung-Chul Han nos convida a refletir sobre o papel dos rituais na vida cotidiana e a sua crescente desvalorização nas sociedades contemporâneas. Em sua obra, Han destaca que a dissolução das celebrações reflete uma profunda crise de significado. Para ele, vivemos em uma era onde a ritualização do tempo e das relações está sendo substituída por uma cultura da eficiência e do consumo, resultando em um esvaziamento do vínculo humano.

 

 

Os rituais, segundo Han, são formas de criar continuidade e estabilidade em nossas vidas. Eles estruturam o tempo e o espaço, oferecem pontos de referência e geram sentido coletivo. Enquanto a lógica neoliberal busca acelerar tudo em nome da produtividade, os rituais se movem no sentido oposto: eles criam uma pausa, uma forma de se desconectar do tempo econômico e se reconectar ao tempo simbólico e existencial. Celebrações, casamentos, funerais, e até mesmo as pequenas tradições familiares ou comunitárias são exemplos de rituais que transcendem o utilitarismo e nos ligam a algo maior que o presente imediato.

 



 

 

Em tempos anteriores, os rituais desempenhavam um papel central nas culturas porque criavam espaços de pertencimento e identidade. Eles moldavam as experiências humanas, oferecendo uma oportunidade para nos encontrarmos com o outro e com a comunidade de maneira mais profunda e significativa. O filósofo sugere que o desaparecimento dos rituais está diretamente ligado ao enfraquecimento das relações humanas, transformando a sociedade em um espaço de indivíduos isolados, focados em sua própria performance e objetivos.

 

 

Na sociedade atual, onde a lógica do desempenho permeia quase todos os aspectos da vida, a perda dos rituais deixa um vácuo. Ao eliminar essas práticas, estamos, segundo Han, dissolvendo as formas de vida que nos conectam ao passado e ao futuro, e que nos fazem sentir parte de um todo maior. Sem rituais, o presente se torna fragmentado e a vida passa a ser vivida em uma constante busca por novidade e produtividade, mas sem raízes.

 

 

A importância dos rituais, então, vai além da simples repetição de gestos ou celebrações; eles oferecem uma espécie de resistência ao desgaste do cotidiano, criando momentos que rompem com a rotina e resgatam a dimensão simbólica e comunitária. Celebrar um aniversário, um feriado ou um marco importante não é apenas uma pausa na correria, mas uma oportunidade de restabelecer os laços que nos conectam com as pessoas e com nossa própria identidade.

 

 

Os rituais têm uma qualidade quase terapêutica em um mundo fragmentado, pois oferecem um espaço de ressonância, onde o indivíduo pode sentir-se parte de algo maior do que ele mesmo. Ao repetir certos gestos e práticas, criamos continuidade em uma época marcada pela ruptura constante e pela efemeridade.

 

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Assim, ao olharmos para as celebrações e rituais do cotidiano à luz das ideias de Byung-Chul Han, percebemos que eles são uma necessidade, e não um luxo. São momentos que restauram a profundidade da vida, resgatando-nos da superficialidade do presente consumista. Os rituais nos ensinam a viver o tempo de forma qualitativa, criando encontros, significados e vínculos que, em última análise, nos ajudam a resistir ao cansaço da vida contemporânea.

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