Estamos diante do maior experimento de comportamento humano da história. Chamamos isso de “behaviorismo”, a mesma técnica utilizada para condicionar ratos a darem respostas planejadas e satisfatórias – lógico, nunca para eles mesmos, sempre para os donos o experimento.


Essa experiência se chama Redes Sociais. Aliada aos algoritmos e, agora, à Inteligência artificial, essa teia nos prende e condiciona comportamentos planejados que interferem em nossas decisões pessoais, sociais, pedagógicas e políticas. Engana-se quem se preocupa com o conteúdo veiculado nas redes. Para os “anjos tronchos do vale do silício, desses que vivem no escuro em plena luz”, como cantou Caetano, o meio é mais importante do que a mensagem.

 


Eles sacaram, de imediato, a fórmula teórica de Marshall McLuhan, intelectual canadense esquecido em nossas academias. Ele propõe que a forma como a informação é transmitida (o meio) tem mais impacto em nós do que o próprio conteúdo da mensagem. Em outras palavras, ele sugere que cada meio de comunicação — seja a televisão, o rádio, a internet ou até uma pintura — altera a nossa percepção e molda a sociedade, independente do que está sendo comunicado.

 



 


Por exemplo, a televisão influencia nossa forma de ver o mundo não apenas pelo que mostra, mas pelo jeito que nos acostumamos a receber informações visuais rápidas e fragmentadas. Para McLuhan, os meios não são só ferramentas neutras; eles transformam nossas relações, nosso jeito de pensar e, em última análise, a própria estrutura social. É como se o meio de comunicação fosse parte da mensagem, influenciando nossas ideias e comportamentos. Detalhe, o teórico ainda não conhecia a internet e o impacto da incubadora de imbecis que chamamos de redes sociais.

 


O fato é que estamos expostos ao Biopoder, de uma forma tão intensa e com tão amplo espectro que nem Foucault, em seus horizontes mais filosóficos, imaginou. Pense em um controle social que não usa chicote e repressão, mas regula cada detalhe da vida cotidiana – saúde, reprodução, gostos, comportamentos, higiene e alimentação. Foucault argumenta que o biopoder controla populações inteiras, gerenciando estatísticas, políticas de saúde pública, agendas de governo e o que mais for necessário para “otimizar” a vida e a força de trabalho.


Parece familiar? Pois é. Esses algoritmos, ao se voltarem para o gerenciamento de comportamentos, criam formas de controle sutil e muito mais eficaz. Em última instância, o biopoder revela como a vida humana se tornou alvo de uma gestão informatizada, que parece cada vez mais autônoma e confiante em suas intenções.

 


E aqui estamos nós, entrando de cabeça na Caverna de Platão, contemplando sombras que agora chamamos de realidade, nos afastando das buscas existenciais e limitando as experiências humanas.
No mito da caverna, os prisioneiros enxergam apenas sombras projetadas na parede, acreditando que aquelas formas distorcidas representam o mundo real; de forma semelhante, os algoritmos, com base nos dados que coletam, criam "sombras" ou representações parciais de nossos interesses, sugerindo conteúdos que podem reforçar nossas crenças e nos manter em bolhas informativas.

 

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Assim como os prisioneiros da caverna são incapazes de ver além das sombras, os usuários frequentemente se veem presos em uma versão filtrada e limitada da realidade, onde os algoritmos reproduzem e intensificam o que já conhecemos, dificultando o acesso a outras perspectivas e, em última instância, à verdade mais ampla que Platão imaginava existir fora da caverna.

 


Em nossa caverna moderna, não são mais as sombras que nos acorrentam, mas os algoritmos que moldam o que sentimos, como devemos amar, o que escutar e em quem votar. E no fim do túnel, acreditamos que eles serão a luz, pois prometem uma pseudolibertação reduzida às práticas de consumo.
Pois é, parece que o capitalismo encontrou sua mercadoria mais barata: o ser humano, formatado, pronto para usar – e agora, plenamente convencido de que tudo isso foi escolha sua.

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