O Atlético... Ou melhor, o “clube-empresa” que virou o Galo... O que antes era um time carregado por sua torcida apaixonada, que suava as camisas pretas e brancas, agora é mais uma peça em uma vitrine de “investimento moderno”. O Atlético virou SAF, literalmente uma Sociedade Anônima do Futebol. Sem rosto, sem corpo, sem alma. O anonimato das cifras ao final das partidas é tão afetivo quanto um banco digital.

 

 

Comecemos com o básico: os caras são banqueiros. Entendem de planilhas, números, fluxo de caixa. Não conseguem plantar grama em um país tropical. Vão entender de futebol? São os mestres do investimento, mas quando se fala em futebol escutam apenas “entretenimento”. A estratégia é clara: potencializar lucros, não gols. Porque, para a SAF, torcida apaixonada e raça são conceitos abstratos.

 

Esse enfoque excessivo no business leva ao que agora chamamos de futebol coaching. É só abrir o Instagram do clube para encontrar vídeos motivacionais sobre “nunca desistir” e “acreditar até o fim”. Parece papo de coach de rede social, um roteiro mais alinhado a empresas de autoajuda do que à realidade do esporte. Como diria meu avô: jogo é jogado, lambari é pescado. Parece que a galera que não sabe plantar grama entende de storytelling, mas desconhecem a mística da peleja.

 

 

Cada partida é acompanhada de uma parafernália de vídeos, frases impactantes, efeitos visuais – mas de bola no pé, drible e raça, a coisa anda fraca. Em vez de jogadas ensaiadas e passes certeiros, temos jogadores falando sobre “resiliência” e “força interior”. O que, convenhamos, soa muito bonito, mas não balança rede. O verdadeiro filósofo da bola, Neném Prancha, já dizia: “Futebol é muito simples: quem tem a bola ataca; quem não tem, defende". Simples assim.

 

Essa obsessão pela estratégia e pelo controle pasteurizou a essência do esporte: aquela beleza do caos, o gol de placa que nasce sem querer. Hoje, os times não entram para jogar; entram para executar um plano, e isso tem o mesmo sabor de um pão de ontem. O futebol "raiz" era sobre a mística do imprevisível, sobre um drible inesperado, uma jogada de gênio surgindo num campo de barro. Era paixão, era festa, era um espetáculo com alma, não um produto para vender camisetas. Futebol era uma arte despretensiosa e apaixonada, jogada pela vontade, pela surpresa, e não pela planilha tática de um estrategista de terno e gravata.

 

 

E, claro, isso não seria a mesma coisa sem a nova política de ingressos. O torcedor que acompanhou o Atlético em dia de chuva e sol, o “torcedor raiz”, de arquibancada e churrasco na rua antes do jogo, está sendo expulso, ainda que não oficialmente.

 

Agora, o acesso ao estádio é só para quem tem cacife. Os preços, ajustados para fazer render o capital da SAF, afastam a galera de sempre e substituem com um público diferente, mais premium, se é que podemos dizer assim. A mística do Galo – aquela energia de torcida do povo, da Massa – está sendo transformada em uma experiência gourmet, onde ver um jogo equivale a um jantar chique.

 



 

Quem ganha com isso? Nem o time, que parece entrar em campo mais focado em “branding” do que em futebol. Nem o torcedor fiel, que perdeu o lugar no estádio.

 

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A SAF do Atlético devia entender que futebol é mais do que uma conta de investimentos; é uma paixão que não cabe em gráficos financeiros.

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