Se não tivesse perdido para times da parte inferior da tabela, como o Coritiba, por 2 a 1, na Arena MRV, Galo poderia brigar pelo título com mais chance -  (crédito: AlexandreGuzanshe/EM/D.A. Press - 12/10/23)

Se não tivesse perdido para times da parte inferior da tabela, como o Coritiba, por 2 a 1, na Arena MRV, Galo poderia brigar pelo título com mais chance

crédito: AlexandreGuzanshe/EM/D.A. Press - 12/10/23

 

Não tenhamos vergonha da condicionante inútil, aquela que preenche de dúvidas igualmente inúteis o engenheiro da obra pronta: “E se?” A condicionante inútil, embora inútil porque já era, tem lá sua serventia: pode ser pedagógica, se e somente se quisermos aprender com nossas escolhas equivocadas.

Se o Galo tivesse vencido Vasco, Coritiba e Crüzeiro em casa seria hoje líder isolado do campeonato. Se tivesse feito só um pouco mais, e perdido apenas um ou outro ponto para os seis ou sete últimos da tabela, estaria agora com a mão na taça.

Apenas se o Jemerson não tivesse cometido o duplo atentado contra o patrimônio, estaríamos com os mesmos 59 pontos de Botafogo, Grêmio e Palmeiras. Se tivesse feito os gols para o lado certo, estaríamos na liderança.

Sempre que me pego absorto em tais elucubrações, me vem à memória um amigo, inimigo das suposições inúteis. Assim ele respondia a qualquer tentativa de ficcionar o passado em prol do presente que não houve: “Se a cunhada da minha tia é sua avó, então o primo do seu tio é a minha mãe”. Um emaranhado que buscava demonstrar a falta de sentido daquele suposto efeito borboleta interrompido por alguma pedra no caminho, a que poderíamos chamar Jemerson.

Por falar em efeito borboleta, um outro amigo alerta para um daqueles fatos que comprovam a máxima de que “há coisas que só acontecem com o Botafogo”, ainda que haja coisas ainda mais loucas que só acontecem com a gente, o atleticano, esse azarado em estado de arte, esse injustiçado sempre à disposição.

Esse amigo alerta para a pedra fundamental da derrocada botafoguense: a saída de Cristiano Ronaldo do Manchester United! Se ele tivesse ficado, não teria ido para o Al Nassr, onde não teria pedido a contratação do técnico português Luís Castro, que não teria deixado o Botafogo. Se a cunhada da tia do Cristiano Ronaldo é sua avó, então o primo do seu tio é a mãe do Cristiano Ronaldo.

Em todo caso, tendo parentes e amigos botafoguenses, ou seja, parentes e amigos que sobreviveram ao Botafogo, estou indignado com o Cristiano Ronaldo. Grande fdp! Como disse a Beth Carvalho, essa uma grande botafoguense, além de um pouco atleticana: “Vou festejar o teu sofrer, o teu penar”. E viva o Messi!

Contudo, nada temos a ver com a desgraça alheia, ainda que de parentes e amigos. Sentimos muito e tal, mas... fodasse! Que siga assim! Da nossa parte, o negócio é parar de remoer o passado e agarrar-se às chances ofertadas por esse estranho momento presente.

Se o engenheiro ergueu o prédio um tanto malemolente em sua base, se ele subiu torto como as linhas de um Niemeyer que tivesse bebido, pelo menos falta o caminho rumo ao topo, aquela escadinha que sobe até a casa de máquinas, acima da cobertura. Se o engenheiro cagou na entrada, pode redimir-se na saída, erguendo um belo de um traçado onde o céu é o limite.

Pois bem, o grande desafio dessa reta final é obviamente o Goiás, amanhã. O poderosíssimo Goiás. Ostentando a incrível marca de 35 pontos em 33 jogos, com 14 derrotas e saldo de gols na casa dos menos 14, está claro que será osso duríssimo de roer. Ainda mais que o Galo jogará em casa, na retranca, claro, e o Goiás poderá finalmente contar com o atacante Jemerson.

Se passar por essa pedreira intransponível, no outro domingo vamos poder respirar: enfrentaremos o Grêmio, neste momento o vice-líder do campeonato, com 59 pontos, 18 vitórias, cinco delas nas últimas cinco rodadas, candidatíssimo ao título deixado em aberto pelo Cristiano Ronaldo. Ou seja, ufa!, uma baba.

Depois virá o Flamengo no Maracanã, outra baba (a ver se contará com alguém capaz de encarnar o espírito de luta de um José Roberto Wright). O São Paulo, na sequência, mais três pontos certos em nossa contabilidade. A última e decisiva rodada será a mais complicada de todas, disparado: contra o Bahia já rebaixado ou almejando nada. Ai, meu Deus... O poderosíssimo Bahia, com seu cartel, até aqui, de 16 derrotas.

Algumas coisas são pontos pacíficos. Se o Galo ganhar, o Galo terá ganhado. Se o Galo perder, o Galo terá perdido. Se o Galo for campeão, não terá sido milagre – terá sido Atlético Mineiro.