O terceiro lugar do Atlético no Brasileiro garante a continuidade do técnico Felipão no comando do time em 2024 -  (crédito: PEDRO SOUZA/ATLÉTICO)

O terceiro lugar do Atlético no Brasileiro garante a continuidade do técnico Felipão no comando do time em 2024

crédito: PEDRO SOUZA/ATLÉTICO

 

 

Ao fim do certame, o que se pode dizer é que tá ruim mas tá bom, foi péssimo mas foi ótimo, e que mesmo tendo sido horroroso foi lindo. O patrão disse para olhar o copo cheio. Se eu tivesse 1 bilhão na conta e zero boleto pra me preocupar, ia ver o copo cheio até naquele lagoinha espatifado no chão, dispositivo que aciona o grito gutural: Gaaaaaaaaalooo!!!

A vida é assim, meus amigos: é feia mas é bonita, é bonita e é bonita. Outro dia perguntaram ao Woody Allen sobre a morte, e ele disse que ela se assemelhava a um exame de colonoscopia, ou seja, na hora fatal nada se sente. O problema estaria no preparativo para o exame, em que remédios induzem a uma caganeira visceral capaz de limpar a área por onde se introduzirá uma microcâmera, através do nosso fiofó. A isso o Woody Allen chama “vida”. O patrão teria muito a ensiná-lo sobre copos cheios e vazios.

O atleticano é um pouco o patrão e um pouco o Woody Allen. Enxerga ao mesmo tempo o copo cheio e o copo vazio, a depender das filigranas que a peleja última lhe ofereça. O atleticano derrotado por aquele Crüzeiro bisonho, o pior que já vimos (calma, torcedor), não acredita em mais nada – Deus, vacina, Terra redonda. Mas o gol de Paulinho no apagar das luzes, definindo a vitória contra o São Paulo sábado passado o leva a crer em tudo e mais um pouco – duende, comunismo, 9 a 0 no Bahia.

Por isso não foi de todo ruim o 4 a 1 que levamos na corcova. O Bahia parecia a Alemanha. A gente olhava pra beira do campo e lá estava o Felipão, credo, que assombração. Só faltou a Alegria nas Pernas já ter voltado do exterior.

Foi ruim mas foi bom, por dois motivos: um, salvamos o Bahia, com assento no Conselho de Segurança da União Sinistra e único clube verdadeiramente progressista do país; dois, o copo vazio é aquele que propicia colocar as barbas de molho.

Eu mesmo, depois de enxergar o Felipão como um Joel Santana que tivesse concluído o fundamental do Fisk, já tava achando que de fato o Abel Ferreira aprendera tudo com ele – e quem era o Guardiola perto do nosso pensionista do INSS, o melhor distribuidor de camisas desde Hermann Hering.

Com 3 minutos de jogo, meu filho já tava reclamando: “Tem que fazer o gol agora, ou não vai dar tempo”. Expliquei a ele que sua avaliação era um engano, afinal se tínhamos feito três em cinco minutos, na memorável noite de 2 de dezembro de 2021, quaisquer 15 minutos resolveria o nosso problema. O improvável revés nos devolveu o copo meio vazio, também conhecido como realidade.

Ela, a realidade, nos diz que Felipão é um equívoco. Mas está claro que persistiremos nele. A prova de fogo será o Campeonato Mineiro, repleto de Bahias, Vascos, Coritibas, Américas e Crüzeiros. A permanecer o retrospecto contra essas seleções de cabeças-de-bagre, é possível que terminemos rebaixados.

Seja como for, o Mineiro será o teste de fogo do nosso bom velhinho. Ou ganha com a mão nas costas, ou pelas costas o veremos. O que irá inaugurar o círculo vicioso da troca de técnicos em péssima hora, a exemplo do que fizemos com El Turco e Eduardo Coudet. Melhor seria substituir Felipão desde já. Mas não se pode dizer isso em público agora, ou um copo meio cheio pode atingi-lo na carcaça craniana.

Se pudesse pedir alguma coisa para o outro bom velhinho, aquele que presenteia os ricos e cospe nos pobres, em minha listinha constaria um meia ao estilo Nacho Fernández, um lateral-direito, um zagueiro, um atacante.

Sobretudo, pediria pelo amor de Deus que Hulk não saísse, porque nenhum atleticano tá preparado pra isso. É como perder Reinaldo. É como deixar o Ronaldinho ir embora. Esse copo vazio ninguém merece. Se necessário for, Rodrigo Caetano, vendemos as nossas mães. Sem querer abusar, pediria um ataque com Savarino, Hulk e Paulinho. Um Keno, talvez. Um Alegria nas Pernas.

Com esta missiva, encerro 2023 e parto em merecidas férias. Vamos ao copo cheio, cada qual com a sua Sidra Cerezer! Que 24 nos reserve a Libertadores, o Brasileiro e tudo o mais que ainda consta das nossas infinitas duplicatas. Feliz ano e Galo sempre! Fica, Hulk, pelamordedeus!