Na quarta-feira passada, o melhor jogo da televisão começou às 6 horas da manhã e se estendeu noite adentro. Parecia que, enfim, estava a se cumprir a profecia do Goulart: “Quarta-feira tem mais”. Oh se tem! Grande dia! Aboletei-me no sofá com meu balde de pipoca e fiquei ali absorto, vendo o Xandão puxar o contra-ataque. O Bozo na defensiva, o Cidão entregando a paçoca. Geral já tava naquela: “Chora, não vou ligar, chegou a hora, vais me pagar”. Pode cholar, pode cholar.

Cancelei todos os compromissos, antecipei o carnaval e já entrei no recesso. Quando o milico da psicologia desmaiou, eu já tava igual o folião da música do Erasmo: “João bebeu toda a cachaça da cidade, bateu com força em todo bumbo que ele via, gastou seu bolso mas sambou desesperado, comeu confete, serpentina e a fantasia”. Tava eu nesse estado de espírito até que... Bem, até que veio o Galo, e fui obrigado a mudar de canal.

Ave Maria, que empata foda! O Athletic parecia o Xandão, e a gente os milicos, tudo general Heleno, o Pequeno. Meu Deus, tinha passado o dia no sábado de carnaval, e quando deu as 21 horas virou Quarta-Feira de Cinzas, oh céus, oh vida, oh azar... Dez minutos de jogo e eu já tava o João: “Levou um tombo bem no meio da avenida, desconfiado que outro gole não bebia, dormiu no tombo e foi pisado pela escola, morreu de samba, de cachaça e de folia” No caso, de Atlético.

O atleticano é tão azarado que o azar o acomete muitas vezes da forma mais refinada. Veja o passado recente: para garantir que o azar tivesse as piores consequências, tivemos que dar sorte antes. Só assim, acreditando que havíamos galgado os degraus rumo à cobertura, é que podemos agora desabar da sobreloja e quebrar a cara.

Refiro-me ao returno do Brasileirão. Não fosse aquela nossa performance, tudo basicamente uma questão de sorte, hoje não teríamos como treineiro esse senhor do tempo da bola de capotão. Um amigo me enviou o desenho tático de seu sistema. É como se fosse o powerpoint do Dallagnol, só que no lugar do Lula tá o Hulk. De resto, é bico pra ele e seja o que Deus quiser.

Foda é quando Ele não quer. Como no domingo passado. Tava eu lá de novo, naquela alegria incontida, tinha descido desde a Bahia pra ver o Galo no Terreirão, uma passada antes no Território do Galo. Nem me lembrava da última vez que havia perdido in loco para o Crüzeiro, eu devia ser adolescente, juro, não é à toa o arquifreguês. É, mas como um Chapolin ao contrário, não contava com a astúcia do Felipones. Esse Benjamin Button que nunca rejuvenesceu.

Desgraça! A gente contrata o Scarpa mas as bolas passam todas por cima da cabeça dele, que lástima. Não ganha de time pequeno porque time pequeno não propõe o jogo, o que é necessário para abrir espaço pra nossa bicuda em busca do golzinho salvador. Deixa Flamengo, Palmeiras, Grêmio perceberem isso, e tamo lascado.

Agora vai chegar o Bernard. Alegria nas Pernas. A gente devia ficar feliz, mas esse senhor vem de novo empatar a foda. Quer dizer, se empatar tá bom, o problema é repetir o 7 a 1, do qual também foram partícipes o nosso Bernard e o incrível Hulk, além, claro, do senhor Hering, o grande distribuidor de camisas.

Menos mal que já foi, e daqui até a verdadeira Quarta de Cinzas teremos esse interregno de excessos e bebedeiras, bem apropriado às grandes amnésias. Só assim pra esquecer! Se bem que na quarta tem o Tombense, com esse nome adequado: “Dormiu no tombo e foi pisado pela escola, morreu de samba, de cachaça e de folia”. Bom Carnaval a todos! Vou sair de Felipão só pra depois poder rasgar a fantasia. Gaaaalooo!

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