No Brasil, a palavra MILITAR encontra-se há muito eivada de balas – oitenta delas atingiram um músico em passeio com sua família, outras tantas, mais ou menos perdidas, apanharam crianças e jovens, sempre pobres e sempre negros.

Sua simples menção pode conduzir o interlocutor diretamente a sessões de afogamento e sevícias no pau-de-arara. Sua lembrança nos remete a golpes e ditaduras. Com sorte, virá à mente de uma minoria a singela pintura dos meios-fios, visto que o MILITAR é verdadeiro Michelangelo no arrematar de nossas calçadas.

Esse estado de coisas nos fez esquecer o Evangelho de João, segundo o qual “no princípio era o verbo”. Quem veio em nosso socorro foi Gabriel MILITO, a lembrar que se o MILITAR remete a cavalgaduras como o general Heleno e o coronel Cid, o léxico é antes de tudo um modo de ação.

A atleticanada compreendeu o recado e a conjugação mais que perfeita: eu MILITO, tu militas, ele milita, nós militamos, vós militais, eles militam. Tamo tudo desse jeito, encantados com a performance desse anjo caído do céu, com o perdão da poesia, o anjo Gabriel. É como se tivéssemos flagrado o hermano numa suruba de evangélicos: Deus acima de tudo e MILITO acima de todos!

Agora, já pensou se fosse o Gabriel MILICO? Aí a gente tava lascado. Teríamos de escapar pelos mais desviantes subterfúgios, como aqueles utilizados para apoiar o Jair em 2018. Jair, o volante – “o único Jair que a gente respeita”; “o Jair que desarma”, dizíamos, de modo a evitar qualquer possibilidade de que a história nos registrasse em seu lado errado.

MILITO era o apelido do Médici, informa o meu pai, a quem Elio Gáspari bate continência. A maneira como o nosso MILITO chegou chegando configura-se, portanto, uma anistia geral e irrestrita à primeira pessoa do MILITAR. Viva o MILITO! Abaixo a ditadura da esquerda para o Scarpa! Viva o Scarpa, o nosso homem infiltrado na extrema direita! Viva a escola MILITO, a única escola MILITAR que a gente coloca os nossos filhos!

Desconheço os motivos para tal, mas não foi raro, nos últimos anos, que este escriba tivesse sido acusado de MILITANTE. Quem sabe seus desafetos estivessem a atacar sua causa em desfavor do coentro? Nas redes sociais, era possível vê-los com o indefectível boné “Make Coentro Great Again”, argh!

De toda forma, estavam a antever a condição MILITANTE em que nos encontramos todos desde a chegada de MILITO. O nosso Collor de Mello, o nosso salvador da pátria! Até aqui, só há um reparo a fazer em sua escola futebolística, a mesma de Bielsa e Guardiola, seus mestres: na volta do recreio, os alunos precisam manter a concentração, a convicção e o denodo – ou a paçoca do intervalo acaba na mão do inimigo.

E as entrevistas do MILITO? Bem observou um sujeito numa caixa de gordura da humanidade, digo, uma caixa de comentários: “Isso não é um treinador, é um prefeito”. Um outro: “Trata-se de um Sampaoli educado”. É vero! A comparação com Felipão, nesse quesito e nos demais, configura novo e vexatório 7 a 1, sendo o gol de honra um tira-teima de bigodes vencido pelo nosso Tiranossauro Rex.

Assim como aconteceu ao patriota do caminhão, aos adoradores de pneu ou àquele sujeito que fez cocô no STF no 8 de janeiro, há um MILITAR deixando a gente sonhar. No nosso caso, sua primeira pessoa, o singular MILITO.

Sonho que se sonha junto é realidade, como diz o outro. Não foi o ocorrido com o pessoal da seita, a Seita que Dói Menos, cujo sonho acabou na Papuda. Mas pode acontecer com a gente, ainda mais com a chegada de Bernard à MILITÂNCIA e a recuperação do Hulk em nossa linha de frente.

Que venham Cuiabá e Sport. Hasta la victoria siempre!

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