Aquela ginga do Hulk, aquele drible. O cruzamento perfeito, o peixinho do Rômulo, o gol de moleira. Aos 51 do segundo tempo, mergulhei finalmente na minha piscina de Rivotril. Afinal, pra dar conta de tanto infortúnio, o Rivotril Litrão ficou pequeno. Obrigado ao time todo pela dose cavalar oferecida na quarta-feira ao coração carcomido do atleticano sofredor.
Exilado na Bahia, este escriba está a lidar com uma nova mudança, envolto em pilhas e pilhas de livros e rolos sempre desgraçadamente finitos do plástico bolha. Ao ouvir o Caixa narrar o gol derradeiro, a vitória na bacia das almas, tomei aquilo como uma ordem: “Caixa, caixa, caixa”. O atleticano vitorioso pode tudo na vida. O atleticano vitorioso aos 51 do segundo tempo, depois de duas goleadas, pode muito mais – e por isso, naquela mesma noite, e madrugada adentro, enchi 25 caixas com minhas quinquilharias. Caixa, caixa, caixa!
É impressionante o que míseros 3 pontos não podem fazer à saúde mental do atleticano patológico. Nem mesmo a claudicante participação de Joe Biden no debate com o pulha do Trump é capaz de diminuir seu otimismo sobre as coisas do mundo. Parece uma droga! Tem gente achando exageradas as 40 gramas de maconha descriminalizadas pelo STF (até 133 baseados, “segundo especialistas” em pernas de grilo ouvidos pela Folha!). Deixa esse pessoal tomar uma dose de Atlético pra ver o que é bom.
Pois é, agora tamo de volta na praça, sedentos por aquela vingancinha básica contra Palmeiras e Vitória no segundo turno, vocês não perdem por esperar, seus aproveitadores de tragédia, seus chutadores de cachorro morto. E enquanto se aguarda, quem pagará o pato será o Dragão e o Urubu, Atlético Goianiense e Flamengo, domingo e quarta, conforme prescrito na receita do Rivotril Litrão.
Aproveito o ensejo para um apelo desesperado: você que vai à Arena amanhã, exerça sem censura o seu lado Pavarotti, erga o seu punho e solte a sua voz! Faça parte da campanha. Transforme a Arena no Terreirão do Galo. É permitido gritar e falar palavrão, ficar de pé e comportar-se como filho de vidraceiro. Lembre-se: não é jogo de tênis, e não é apenas na palestra do coach da empresa que é permitido cantar e pular. Seja o chato a importunar quem não canta! Diga não à Varanda Gourmet!
Tem Galo 11 da manhã de um domingo depois da vitória épica, meu amigo, se você não acordou na disposição, cê tá é morto, o sofá é sua melhor pedida antes do paletó de madeira. Agora, se foi para o estádio, então você está escalado pra jogar e sua função tática é aquela do Pavarotti. E não venha com conversa de acústica prejudicada, afinal a gente já viu o Bob Dylan no Mineirinho e todo mundo achou bom.
O presidente Lula disse que a Arena “é tão chique, que pobre nem entra mais”. Ele tem razão, mesmo sendo cruzeirense nas Minas Gerais, uma prova de que o presida gosta das minorias. Então você, atleticano que vai ao campo, faça como sugeriu o Jonh Lennon, “pode sacudir as joias”, porque quem ficar parado, você sabe, vai tomar um tá ligado.
Vamo com calma, no entanto. O mineiro, como diz o outro, “vende queijos e possui bancos”. Menos o Galo, cujo banco é pra jogar a base na fogueira. Contra o Inter a meninada pulou a fogueira (viva o São João!) e salvou a pátria. Graças ao maître Givanildo e ao mestre Milito. Assim sendo, o negócio é paciência e gogó.
Se a gente ganha domingo, na quarta tem Flamengo no Maracanã. Aí a coisa já muda de figura. Não é mais questão de saúde mental, Rivotril e Pavarotti. Aí já estamos a tratar de honra e dignidade. Ganhar do Flamengo é sempre estar do lado certo da história, contra a ditadura e o Wright, a picaretagem e a desfaçatez.
Uma vitória na quarta e encaixoto até a areia da praia pra voltar pra São Paulo. Caixa, caixa, caixa! Gaaaalooo!!!