Quando o meu filho Francisco começou a se interessar por futebol, digo, por Atlético, descobriu logo que não bastava ter os melhores jogadores. Havia algo imponderável, que acabava por rebaixar o suposto timaço à condição de reles competidor. A esse fenômeno o Francisco chamava “desfalco”.

O desfalco podia ocorrer em razão de algum acidente de trabalho, um tornozelo torcido, um joelho quebrado. Problemas contratuais também originavam desfalcos, assim como as questões pessoais – a doença de um parente, a descoberta de uma traição conjugal, e até uma simples festa de aniversário que pudesse inadvertidamente ter se transformado em suruba, sem que o horário do treino tivesse sido capaz de promover o coito interrompido. E, pimba, surgia o desfalco.

A partir do momento em que o Galo virou uma espécie de seleção sul-americana, uma nova modalidade de desfalco se apresentou: aquele ocasionado pelas convocações para as seleções de outros países, além da nossa própria selecinha. O Francisco já não sabia se era o caso de comemorar tais chamamentos, já que o prêmio pelo bom desempenho trazia também o ônus do desfalco.

Da minha parte, passei a registrar algo perturbador: bastava o sujeito vestir a camisa da CBF, essa beca do neofascismo, para mergulhar na má fase e, como um faquir, no jejum de gols. Lembrava sempre do Xico Sá, que não usava camisas de brechó com medo de pegar encosto. A camisa do Brasil já vinha de fábrica ungida no mau agouro.

Pois bem, no momento há toda a sorte de desfalcos a importunar a vida do atleticano sofredor. Terceiros cartões, convocações internacionais, selecinha, doença na família, fisgadas em músculos posteriores. Com um elenco qualificado mas curto, o atleticano deve se preparar: qualquer um que estiver a flanar por Vespasiano pode acabar apanhado.

Em Bragança, um Galo depenado pelos desfalcos em série foi a campo igual aquela raça de gatos que não tem pelo, aquela coisa horrorosa. Naquele tiki-taka malemolente, conversa pra boi dormir, fomos levando na maciota até que os caras abriram o placar. Empatamos. O pulo do gato foi a virada relâmpago no gol de Paulinho, graças a Oxóssi esquecido pelo Dorival.

Na próxima segunda, contra o Palmeiras, o Galo deve entrar com Víctor no gol, Milito na zaga, Macalé da Galoucura na proteção da meia cancha, Sérgio Coelho no comando do ataque e Éder Aleixo aberto na ponta. Sim, se está na internet, então é verdade!

No Palmeiras, o problema do “desfalco” é ocasionado pela boa safra de pés-de-obra. Endrick, Luan e Luis Guilherme foram vendidos a peso de ouro. Mas, que coisa, tão logo se esvazia a gôndola já aparece um tal de Estêvão. A gente não – a gente é igual o vampiro brasileiro, aquele personagem do Chico Anísio. Quando surge um Savinho na nossa horta, é logo vendido a preço de banana. Vampiro brasileiro...

Mas... vamo que vamo! O atleticano gosta de uma dificuldadezinha, uma chance de vencer aos trancos e barrancos, uma ode ao Dinho, todo generosa luta. No azar do desfalco mora a sorte dos desvalidos.

Quem sabe esse espírito vira-lata não inflama finalmente o torcedor da Arena, fazendo cantar o Corneta na Veia? Vai que é sua, Pavarotti! Estufa o peito e segue o coro dos contentes: Galo é Galo, o resto é boooosta! Galo é Galo, o resto é boooosta! Gaaaaaaaalooo!!!

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