Que beleza esse São Paulo na arte de levantar defunto! Ano passado o Galo comia o pão que o Felipão amassou quando então metemos um 2 a 0 em pleno Morumbis. O bis veio em dezembro, e o Galão ganhou mais uma vez. Agora, nocauteado pela sequência de goleadas, eis que vêm de novo os caras com a manobra de ressuscitação. Agradecemos. O bis fica para o Morumbis.

 

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Na quinta-feira, este colunista fez aniversário. Tratou de acordar cedo para ser feliz até 21h30, porque depois disso era sabedor da tragédia que o aguardava. Do amigo Helvécio, diretor do filme Lutar, Lutar, Lutar, ganhou a camisa do Galo que celebra a negritude em nossa história – com Reinaldo e o número 9 às costas.


Na hora de soprar as velinhas, juntou-se a outra atleticana, a Lili, que também nasceu em 11 de julho. De modo que, mesmo estando na Bahia, tava tudo dominado, a atleticanada toda em fervoroso convescote. A gente não ia aceitar de jeito nenhum a tragédia iminente.
Graças a Deus que só tem pé torto na Selecinha, e assim eles devolveram o Arana. Sinceramente, foi um arranca-toco danado, só o Dr. Scholl pra dar conta do calo no zóio, Ave Maria. Mas o importante era vencer, e vencemos, obrigado pelo presente. Até o fechamento desta edição eu permanecia trajado com o manto do Rei.


Agora o negócio é catar os caquinhos, abraçar o time, torcer para os reforços que acabam de chegar, e bola pra frente. Ainda dá tempo de arrumar uma bagunça nesse Brasileiro, como em 2023. E se aprumar pra Libertadores e Copa do Brasil. Se não for pedir muito, aquela vingancinha contra Palmeiras, Flamengo, Botafogo e Vitória. Vamo tirar o título de todo mundo, nossa vingança será maligna!


Vejo na entrevista do diretor Bruno Muzzi que a arena tem problemas de acústica, que ações estão sendo pensadas etc. Claro que a culpa é do Kalil, o malvadão, o monstro das contrapartidas. Parece o PT ali pelos idos de 2016, o culpado de tudo, da economia que tinha dado com os burros n’água até os buracos no queijo canastra.

 




Está claro que, por enquanto, seguiremos desfalcados da Massa, o único jogador do Galo a superar Reinaldo. Pensando cá com meus botões, tô achando que o negócio é partir pras vuvuzelas, apitos, cornetas, megafones e o caralho aguático. Se o nosso maior inimigo é a acústica, vamos usar todas as armas para derrotá-la!


Evidentemente, a acústica é apenas parte do problema. A outra parte é a elitização da torcida, que vai aos jogos como consumidor de um espetáculo e não mais como o 12º jogador. A solução pra isso envolve a compreensão de que o caráter popular do Atlético é um valor inegociável, e que não se pode ganhar dinheiro com estádio a ponto de sacrificar seu torcedor.


É preciso criatividade para lidar com o que é único. E a torcida do Galo é, sim, uma torcida única. É preciso eliminar a excessiva setorização da arena, responsável por criar bolsões de espectadores de jogo de tênis e acabar com a mistura de gente que fazia do estádio um raro espaço de convívio democrático. É preciso reunir todas as organizadas no setor capaz de fazer mais barulho dentro do campo. É preciso vender ingresso na porta, e barato. É preciso chamar o povão, com campanha, com transporte público, com bebida e comida a preço justo. É preciso entrar criança de graça. É preciso repensar o sócio-torcedor.


Há alguns anos, a torcida mais doida do Brasil é a do São Paulo. Por que será? Porque eles têm estádio e não arena. O Morumbis, embora mal localizado com relação ao transporte público, é o único da capital paulista a manter-se essencialmente popular. Se você levar uma criança ao Allianz Parque e ao Morumbis, ela sairá torcedora do São Paulo, mesmo que o time não ganhe nada. Processo parecido vai acontecer em Belo Horizonte se o Galo seguir tratando sua torcida como mero consumidor.


O atleticano, em sua maioria, sabe: o que o fez atleticano foi a beleza e a força de sua torcida. Abrir mão disso é burro, a curto e a longo prazo.

 

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