É função primordial do jornalismo registrar o fato extraordinário, motivo pelo qual não se considera notícia o cachorro que mordeu o homem, mas, sim, o homem que mordeu o cachorro. Ou o poste que mijou no cão. Quando tal acontecimento irrompe a noite, na hora grave em que se fecham os jornais, editores põem-se a gritar: “Parem as máquinas!!!” – uma ordem para que as rotativas da gráfica aguardem pelo apurar da alvissareira informação.

 



 

Na quarta-feira passada, segundo os flamenguistas, o poste mijou no cachorro: diante de um Brasil estupefato, o Flamengo teria sido vítima de roubo. Sim, meus senhores, pela primeira vez em 128 anos, teriam operado o time carioca, garantindo, pois, 100 anos de perdão ao VAR. Diante de tal ineditismo, um bom editor teria sugerido ouvir os especialistas: “Liguem para o Wright!”.

 

Na rodada anterior, o cão havia mijado no poste: contra o Criciúma, um pênalti Mandraque fora marcado a favor do Flamengo. Em outros tempos não se gastaria tinta e papel com uma trivialidade dessas. Mas, na caça aos cliques, alguma polêmica se instalou. Mauro Sérgio, o assessor de imprensa, tratou de fazer do ladrão a grande vítima. Soltou os cachorros: “É um absurdo que se discuta um acerto do árbitro por ódio ao Flamengo!”.

 

 

Na quinta-feira, novamente o doguinho a carimbar o equipamento público: dessa vez, um pênalti mais que Mandraque a favor do Corinthians. O flagrante delito é até engraçado, já que o jogador PUXADO pelo braço acaba por arremessar-se para a frente, numa gritante impossibilidade da Física. Mas o VAR tratou de colocar Isaac Newton em seu devido lugar, e instou o juizão a apontar a marca da cal. “Var, Corinthians!!!”, celebrou a Fiel num inflamado Itaquerão.

 

Em 114 anos de história, o Corinthians também foi roubado apenas uma vez. Sim, aconteceu, virou manchete. Foi contra o Boca, na Libertadores de 2013, aquela. Na quinta, diante do Grêmio, o puxão que atirou para frente o jogador corintiano é mais ou menos como a notícia de que o Caetano estacionou o carro no Leblon. Normal.

 

 

Eis que no exato momento em que redijo esse artigo sobre toda a cachorrada, posso ouvir, desde Paris, o colega editor: “Parem as máquinas!!!”. Zico foi roubado! Cent ans de pardon! Pense bem: além de roubar um flamenguista, levaram 3 MILHÕES DE REAIS do Galinho de Quintino. Coitado do Comando Vermelho perto desse pessoal. E se a gente pagasse a passagem do Wright pra ele flanar em Paris?

 

E o cara andando com 3 milhões de reais??? Gente... Foi pra Paris e levou o sítio mais o apartamento? Foi a primeira coisa que me veio à mente quando li a notícia, o flamenguista roubado, o homem mordendo o cachorro. Pobre é foda. Tem de ver se o Bolsonaro, o Wassef e o coronel Cid não estão por aquelas bandas.

 

Pois bem, toda essa extensa missiva ao povo atleticano é pra dizer que está aberta a temporada de assaltos. Amanhã, portanto, é preciso ganhar sem deixar dúvidas, sem dar mole ao “azar”. Tem que atropelar o cachorro antes que ele mije no poste. Se ficar no 1 a 0, há sempre o risco do puxão atômico.

 

 

O negócio é passar por cima e ficar de boa em Paris, onde o Snoop Dogg acende a tora, quer dizer, a tocha. E então, na quarta-feira, bater a carteira do CRB como se a gente fosse francês. No outro sábado tem mais! Tamo virado no jiraya com esse Criciúma desde 1908. Se o Galo ganhar as três, eu visto a roupa da delegação do Brasil nas Olimpíadas e ainda saio na rua. Promessa.

compartilhe