A dupla de ataque Guilherme e Marques fez a alegria da torcida do Galo no fim dos anos 1990 e início de 2000 -  (crédito: Auremar de Castro/Estado de Minas – 6/5/2000)

A dupla de ataque Guilherme e Marques fez a alegria da torcida do Galo no fim dos anos 1990 e início de 2000

crédito: Auremar de Castro/Estado de Minas – 6/5/2000

 

Enquanto o Brasil se emocionava com Rebeca Andrade nas finais das Olimpíadas de Paris, este marmanjo aqui chorava com Marques e Guilherme, Valdir Bigode e Vanderlei. É, meus amigos, a patologia do atleticano às vezes se manifesta em horas improváveis. Dessa vez a doença me pegou num vídeo do Youtube com as melhores narrações do Willy Gonzer. Coitada da Rebeca Andrade perto do Dinho, “o homem-coração, todo entrega, todo generosa luta”.


O Mineirão pulsava e talvez tenha sido esse o gatilho. Lembrei das muitas vezes em que aqui descrevi o Galo como “uma máquina de fazer homem chorar” (homem no sentido de ser humano, porque marmanjas também choram por motivo de Atlético). Nos últimos meses, porém, eu parecia acometido por outra patologia, aquela que também dá nome a uma das minhas bandas preferidas de todos os tempos, o Olho Seco. Ainda bem que o Willy Gonzer veio amolecer meu coração de pedra.


Outro que resolveu chorar sem ser pela Rebeca Andrade foi o Crack Neto em seu programa na televisão. Crack Neto tava chorando até ontem pelos dois pênaltis marcados a favor do Galo, contra o seu Corinthians, na rodada passada. Se você leu a coluna anterior, sabe que a dupla marcação se enquadra de forma exemplar no campo da notícia incontornável, do tipo “homem morde cachorro” ou “poste mija no cão”.

 


Crack Neto não estava a discutir o mérito das penalidades, ambas inquestionáveis até para o pior cego, aquele que não quer ver. Crack Neto queria o de sempre em se tratando de Corinthians: o apito amigo, o Timão jogando com o homem de amarelo centralizado e dois outros, bandeirinhas em punho, abertos pelas pontas. Crack Neto queria os pênaltis pra ele, queria o cachorro mordendo o homem, o cão mijando no poste – normal.


Pois Hulk foi lá e pimba. E pimba de novo. Já tinha feito dois na rodada anterior, contra o Vasco. Chegou a 15 gols na temporada e igualou Paulinho na artilharia do Terreirão – 15 a 15. Por isso o Brasil achou agora de chamá-lo de chorão, uma forma infantil de desmerecê-lo.


Tudo bem, receba, afinal atleticano é tudo chorão mesmo. O atleticano novo ainda chora na derrota. O mais experiente chora apenas nas vitórias (e nas velhas narrações do Willy Gonzer), o que é uma lição de vida. “A educação pela pedra”, como escreveu o João Cabral, aquele de “Um galo sozinho não tece uma manhã: ele precisará sempre de outros galos”. Certeza que ele tava falando da Galoucura, tava falando da gente.


Bem, como a vida do atleticano é essa choradeira, ora na vitória, ora na derrota, ora nem um nem outro, apenas o hino que toca, um copo que quebra, um grito de Galo – eis que perdemos o Hulk para uma panturrilha danificada. Putz, logo agora, que panturrilha mais descompromissada, que falta de consideração, óh vida, óh céus, óh azar...


Sem chorar o leite derramado, no entanto. Bora nóis. Perdemos o Hulk mas ganhamos o Lyanco, um Leandro Donizete tamanho GG, a cruza do Pierre Pitbull com um Fila Brasileiro. Tava precisando dessa falta de gentileza na retaguarda. O quê? Tamo sem o Lyanco também? Caceta.


No caso da linha de frente, o negócio é fazer como o povão e apoiar Vargas, o pai dos pobres. Pelo menos até que chegue algum reforço de peso, capaz de fazer a gente sonhar. Da meia cancha pra trás seja o que Deus quiser.


Contra o CRB, na quarta passada, achei que estivéssemos de novo na apneia dos Afogados, que assombração. Respiramos. Agora é matar esse Criciúma, ganhar do arquifreguês no salão de festas e colar no G6. Daí pra frente o choro é livre, o Hulk vai voltar, o Flamengo vai ficar no cheirinho, o Palmeiras já era e o Botafogo vai peidar na farofa. Gaaaaalooo!!!